"Moro me pegou pelo pescoço dentro do elevador e me ameaçou", diz ex-juíza federal que concedeu HC a Renato Duque
Um mergulho nos bastidores da Lava Jato, com relatos de agressões judiciais, delações questionadas e investigações em curso que questionam o equilíbrio entre combate à corrupção e abuso de poder
A Operação Lava Jato, lançada em 2014 como um marco no combate à corrupção no Brasil, continua a gerar controvérsias quase uma década após seu auge. Relatos de irregularidades, intimidações e possíveis conflitos de interesses acumulam-se, reacendendo debates sobre o que foi justiça e o que pode ter sido lawfare – o uso político do sistema judiciário. O depoimento recente da ex-juíza federal Luciana Bauer, concedido ao jornalista Luís Nassif em abril de 2025, é o mais novo capítulo dessa saga, expondo práticas que, segundo ela, transformaram a 13ª Vara Federal de Curitiba em um ambiente de “quadrilha” em vez de instituição imparcial.

Oito anos da tragédia de Teori: Avanços na Lava Jato ressuscitam teorias sobre o acidente em Paraty
Luciana Bauer, que atuou na 17ª Vara Federal de Curitiba e abandonou a magistratura em 2022 após sofrer pressões, descreveu em entrevista à TV GGN um incidente de 2016 que ilustra as tensões internas da força-tarefa. Enquanto plantonista, ela concedeu habeas corpus para a soltura de Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, em cumprimento a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ao verificar o cumprimento na 13ª Vara – epicentro da Lava Jato, sob comando do então juiz Sergio Moro (hoje senador pelo União Brasil) –, Bauer descobriu o documento “escondido” no sistema eletrônico. “Eu percebi que os habeas corpus estavam sendo ocultados dos plantonistas. As diretoras apagavam documentos para que não fossem processados”, relatou ela. A situação escalou em um elevador do fórum, onde ela encontrou Moro. “Ele foi extremamente agressivo comigo, mesquinho. Tão agressivo que eu percebi que aquilo não era normal”, afirmou Bauer, que na época amamentava e optou por não denunciar por medo de retaliações.
As denúncias de Bauer vão além do episódio pessoal. Ela confidenciou ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), irregularidades como manipulação de processos e falta de transparência na força-tarefa liderada pelo procurador Deltan Dallagnol. Zavascki, relator da Lava Jato no STF desde 2015, era responsável por homologar delações premiadas cruciais, incluindo as da Odebrecht, que envolveriam figuras da alta cúpula política.
Um mês após essa conversa confidencial, em 19 de janeiro de 2017, Zavascki morreu em um acidente aéreo em Paraty (RJ), aos 68 anos. O avião, um Hawker Beechcraft King Air C90 prefixo PR-SOM, decolou do Campo de Marte (SP) às 13h01 e caiu no mar durante tentativa de pouso em condições de baixa visibilidade e chuva intensa, vitimando também o empresário Carlos Alberto Fernandes Filgueiras (dono do Hotel Emiliano), o piloto Osmar Rodrigues, a massoterapeuta Maíra Lidiane Panas Helatczuk e sua mãe, Maria Ilda Panas.
Investigações conduzidas pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea Brasileira (FAB), pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF) concluíram que o acidente resultou de falha humana associada a condições climáticas adversas, com desorientação espacial do piloto e ausência de problemas mecânicos ou sabotagem. “As causas do acidente decorreram de imperfeições de condução do voo, por parte do piloto, o qual, desprovido de qualquer intenção de causar o sinistro, violou deveres objetivos de cuidado”, afirmou o procurador Igor Miranda, do MPF em Angra dos Reis, ao arquivar o inquérito em 2019.
Apesar das conclusões oficiais, o timing – dias antes da homologação das delações da Odebrecht – alimentou teorias conspiratórias em redes sociais e debates públicos, com postagens no X (antigo Twitter) questionando se a morte não teria facilitado mudanças na relatoria da Lava Jato, repassada a Edson Fachin. O filho de Zavascki, Francisco Prehn Zavascki, defendeu a apuração rigorosa, mas descartou sabotagem inicial, chamando o episódio de “fatalidade”.
Leia também:
Denúncias à Corregedoria do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) apresentadas por Bauer foram ignoradas, levando-a a mudar de residência, trocar de veículo e se afastar da carreira. “Não era justiça, era uma quadrilha”, desabafou ela, ecoando acusações de parcialidade que culminaram na declaração de suspeição de Moro pelo STF em 2021, anulando condenações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da Silva (PT). Bauer também inspirou a correição extraordinária no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) na 13ª Vara e na 8ª Turma do TRF-4, mas sem resultados profundos.
O depoimento de Bauer não é isolado. Revelações do The Intercept Brasil, em 2019, expuseram mensagens de Moro e procuradores coordenando estratégias para enfraquecer defesas, incluindo omissões de provas ao STF. Em dezembro de 2025, a PF deflagrou operação na 13ª Vara, por ordem do ministro Dias Toffoli (STF), para acessar documentos antigos. A ação baseia-se em denúncias do ex-deputado Tony Garcia, delator no caso Banestado (pré-Lava Jato), que acusa Moro de coagi-lo a atuar como “agente infiltrado” desde 2004. “Ele me impunha tarefas ilegais, de espionagem e chantagem”, alega Garcia, estimando 30 missões, incluindo gravações clandestinas de autoridades com foro privilegiado, como o ex-governador Beto Richa (PSDB-PR) e ministros do STJ.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) vê indícios de coação, constrangimento ilegal, organização criminosa e fraude processual. Moro nega, chamando os relatos de “fantasiosos” e motivados por vingança, e questiona a competência do STF.
Outro front é o contrato de Moro com a Alvarez & Marsal (A&M), consultoria americana contratada em novembro de 2020, após sua saída do Ministério da Justiça no governo Jair Bolsonaro (PL). Anunciado como sócio-diretor de “Disputas e Investigações”, Moro recebeu US$ 45 mil mensais por 12 meses – totalizando cerca de R$ 3,65 milhões, mais bônus de US$ 150 mil –, valores que devolveu parcialmente ao encerrar o vínculo para disputar a Presidência em 2022. A suspeita: conflito de interesses. A A&M administrava recuperações judiciais de empreiteiras como Odebrecht, OAS, UTC e Galvão Engenharia – condenadas por Moro na Lava Jato. De 2019 a 2021, a consultoria faturou R$ 65,1 milhões desses grupos, 78% de sua receita no Brasil.
O Tribunal de Contas da União (TCU) investiga desde 2021 práticas de “revolving door” – migração de agentes públicos para o privado com potencial uso de informações privilegiadas. Em março de 2021, a Justiça de São Paulo suspendeu pagamentos da Odebrecht à A&M até esclarecimentos sobre o papel de Moro, que nega atuação em casos da Lava Jato e afirma ter focado em compliance global. “Soa deveras conflitante”, apontou o subprocurador Lucas Furtado, do MP junto ao TCU, sobre a contratação de um juiz que “contribuíra para a insolvência” dessas empresas.
O MP pediu arquivamento em 2022 por incompetência do TCU, mas o plenário ampliou a apuração em março daquele ano, apensando-a a inquéritos sobre abusos na Lava Jato.
Essas acusações somam-se a um legado ambíguo para Moro: de herói anticorrupção que recuperou bilhões a figura polêmica sob escrutínio. Enquanto investigações prosseguem no STF e TCU, Bauer, agora advogada e doutora em Direito Climático, resume: “É preciso uma devassa completa para restaurar a confiança”.
A sociedade brasileira, dividida entre aplausos à Lava Jato e críticas aos excessos, aguarda respostas que possam equilibrar accountability e direitos fundamentais.
Palavras-chave: Lava Jato, Sergio Moro, Luciana Bauer, Teori Zavascki, Tony Garcia, Alvarez & Marsal, conflito de interesses, lawfare, STF, TCU.
O que você acha: a Lava Jato foi uma vitória contra a corrupção ou um capítulo de abusos judiciais? Comente abaixo sua visão e compartilhe este artigo para fomentar o debate – juntos, construímos uma democracia mais transparente!
Hashtags: #PainelPolitico #LavaJato #SergioMoro #TeoriZavascki #LucianaBauer #Lawfare #STF #TCU #Corrupcao #JusticaBrasileira
Contatos e Redes Sociais
Siga o Painel Político para mais análises exclusivas:
Twitter: @painelpolitico
Instagram: @painelpolitico
LinkedIn: Painel Político
Links de ConviteJunte-se ao nosso canal no WhatsApp para atualizações em tempo real: https://whatsapp.com/channel/0029Va4SW5a9sBI8pNwfpk2Q
E no Telegram: https://t.me/PainelP




