Tarcísio de Freitas tenta roubar a cena nas negociações com Trump, mas enfrenta críticas de Eduardo Bolsonaro e limites do papel de governador
Enquanto o governador de São Paulo busca protagonismo diplomático contra as tarifas de Trump, Eduardo Bolsonaro acusa traição e Lula reforça soberania nacional
Em um cenário de tensão internacional, as tarifas de 50% anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros, em 9 de julho de 2025, acenderam um debate político interno no Brasil, com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tentando assumir um papel de liderança nas negociações com os Estados Unidos.
Contudo, suas ações geraram críticas tanto do governo federal, que reforça a competência exclusiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na condução da diplomacia, quanto de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, como seu filho Eduardo Bolsonaro, que acusou Tarcísio de "subserviência" às elites americanas.
O contexto das tarifas de Trump
As tarifas de 50% anunciadas por Trump têm motivação política, segundo analistas, e estão ligadas à sua relação próxima com Jair Bolsonaro, ex-presidente brasileiro acusado de tentativa de golpe após as eleições de 2022. Em uma carta publicada no Truth Social em 9 de julho de 2025, Trump classificou o julgamento de Bolsonaro como uma "caça às bruxas" e acusou o Brasil de ataques à liberdade de expressão e práticas comerciais desleais. Ele também criticou a participação do Brasil no bloco BRICS, que inclui China e Rússia, como uma postura "antiamericana".
A ameaça tarifária, que entrará em vigor em 1º de agosto de 2025, caso não haja negociações bem-sucedidas, afeta diretamente setores econômicos estratégicos, como café, carne, suco de laranja e plásticos, muitos dos quais têm forte presença em São Paulo, o estado governado por Tarcísio. O impacto econômico seria significativo, já que os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com um superávit comercial americano de US$ 7,4 bilhões em 2024.
Tarcísio de Freitas: Protagonismo ou extrapolação?
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e aliado de Bolsonaro, buscou assumir um papel de destaque nas negociações para mitigar os efeitos das tarifas. No dia 11 de julho, ele se reuniu com Gabriel Escobar, encarregado de negócios da Embaixada dos EUA no Brasil, para discutir o impacto das medidas americanas nos setores produtivos paulistas, como suco de laranja, café e plásticos. No dia 15 de julho, Tarcísio organizou outro encontro com representantes desses setores, reforçando sua intenção de buscar uma solução diplomática.
No entanto, suas ações foram vistas como uma tentativa de usurpar um papel que, constitucionalmente, cabe ao governo federal. O jornal Folha de S.Paulo destacou que, enquanto Tarcísio agia, o presidente Lula também convocou reuniões com empresários no mesmo dia, evidenciando uma possível concorrência entre as agendas. Analistas políticos, como Creomar de Souza, da Dharma Politics, apontaram que as ações de Tarcísio podem ser interpretadas como uma estratégia para se posicionar como liderança da direita brasileira para as eleições de 2026, aproveitando a crise para ganhar visibilidade.
O governo federal, liderado por Lula, reforçou que a condução das negociações internacionais é de sua competência exclusiva. Em entrevista à Record TV, Lula afirmou: “O Brasil é um país soberano com instituições independentes, e não aceitaremos interferências”. A criação de um comitê especial para lidar com a crise tarifária, anunciada em 14 de julho, demonstra a intenção do governo de centralizar as respostas à ameaça de Trump.
A reação de Eduardo Bolsonaro: Acusações de traição
As iniciativas de Tarcísio geraram forte reação no campo bolsonarista, especialmente de Eduardo Bolsonaro, que está nos EUA desde março de 2025, articulando apoio ao pai junto à administração Trump. Em postagens no X, Eduardo criticou duramente o governador, acusando-o de “subserviência servil às elites” por buscar diálogo com os EUA sem exigir, em troca, uma anistia total para Jair Bolsonaro. Segundo Eduardo, Tarcísio deveria priorizar a defesa de Bolsonaro, já que as tarifas foram impostas em parte como retaliação ao julgamento do ex-presidente.
A crítica de Eduardo reflete uma divisão no campo da direita brasileira. Enquanto Tarcísio tenta adotar uma postura pragmática, focada nos interesses econômicos de São Paulo, Eduardo insiste em uma abordagem ideológica, alinhada à narrativa de perseguição política contra seu pai. O jornal Valor Econômico destacou que essa divisão pode fragmentar a direita antes das eleições de 2026, com Tarcísio, Ronaldo Caiado, Ratinho Jr., Romeu Zema e Eduardo Leite disputando a liderança do campo conservador.
Linha do Tempo das Tarifas de Trump
2 de abril de 2025: Trump anuncia tarifas “recíprocas” de 10% a 50% sobre importações de diversos países, incluindo o Brasil, com um prazo de 90 dias para negociações. Após impacto nos mercados, ele recua e mantém uma tarifa inicial de 10%.
7 de julho de 2025: Trump critica publicamente o julgamento de Bolsonaro, comparando-o às suas próprias acusações criminais nos EUA, e promete acompanhar o caso de perto.
9 de julho de 2025: Trump publica carta no Truth Social anunciando tarifas de 50% sobre o Brasil a partir de 1º de agosto, citando o julgamento de Bolsonaro, supostos ataques à liberdade de expressão e práticas comerciais desleais.
10 de julho de 2025: Lula responde, afirmando que o Brasil retaliará com tarifas equivalentes, caso necessário, e defende a soberania nacional. Protestos em São Paulo contra as tarifas de Trump ocorrem no mesmo dia.
11 de julho de 2025: Tarcísio se reúne com Gabriel Escobar, da Embaixada dos EUA, para discutir os impactos das tarifas.
14 de julho de 2025: Eduardo Bolsonaro critica Tarcísio por suas negociações, enquanto o governo Lula cria um comitê para coordenar a resposta às tarifas.
15 de julho de 2025: Tarcísio organiza novo encontro com empresários afetados, ignorando as críticas de Eduardo Bolsonaro. Lula também se reúne com líderes empresariais para discutir estratégias.
A resposta do Governo Brasileiro e próximos passos
O governo Lula adotou uma postura dupla: disposição para negociar, mas com a ameaça de retaliar caso as tarifas americanas sejam implementadas. Lula afirmou que usará a Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada pelo Congresso, para impor tarifas de 50% sobre produtos americanos, caso as negociações falhem até 1º de agosto. Um comitê especial foi criado para avaliar os impactos e coordenar respostas, com reuniões previstas com setores econômicos afetados.
A diplomacia brasileira está em alerta. O Ministério das Relações Exteriores convocou o encarregado de negócios dos EUA, Gabriel Escobar, duas vezes em 9 de julho, para esclarecer a carta de Trump e protestar contra sua interferência em assuntos judiciais brasileiros. Lula também sugeriu apelar à Organização Mundial do Comércio (OMC) e propor investigações internacionais, caso as tarifas sejam implementadas.
Setores econômicos, especialmente em São Paulo, estão preocupados. Josue Gomes da Silva, presidente da Fiesp, defendeu uma solução diplomática e alertou para os impactos em empregos e na economia brasileira. Analistas preveem que, se as tarifas entrarem em vigor, produtos como café e carne podem encarecer nos EUA, afetando consumidores americanos e exportadores brasileiros.
Perspectivas políticas e econômicas
A crise tarifária expôs divisões na política brasileira. Enquanto Lula aproveita o momento para reforçar a narrativa de soberania nacional, ganhando apoio entre setores nacionalistas, Tarcísio tenta equilibrar sua imagem de gestor pragmático com sua lealdade ao bolsonarismo. No entanto, as críticas de Eduardo Bolsonaro e a concorrência com outros governadores de direita, como Romeu Zema e Ronaldo Caiado, podem enfraquecer sua posição como potencial candidato à Presidência em 2026.
Para o futuro, o Brasil busca diversificar parceiros comerciais, fortalecendo laços com a China e outros membros do BRICS, enquanto tenta evitar uma guerra comercial com os EUA. A habilidade de Lula em negociar com Trump, sem ceder à pressão sobre o julgamento de Bolsonaro, será crucial para o desfecho da crise.
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