Trump ameaça Brasil com tarifa de 50% em carta a Lula: Escalada comercial e tensão política
Carta cita Bolsonaro e STF, reacende guerra tarifária e gera reações no Brasil e no mundo; veja a íntegra traduzida
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enviou nesta quarta-feira (9) uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anunciando a imposição de tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto de 2025. A medida, justificada por supostos “ataques do Brasil à liberdade de expressão” e pelo julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, além de alegadas práticas comerciais desleais, intensifica a guerra comercial iniciada por Trump ainda em seu primeiro mandato. A decisão, que pegou o governo brasileiro de surpresa, provocou reações de autoridades, analistas e mercados, enquanto estudos apontam que os prejuízos econômicos podem ser maiores para os próprios Estados Unidos.
Histórico de Ameaças Tarifárias
O discurso protecionista de Trump não é novidade. Desde sua primeira campanha presidencial, em 2016, ele defende tarifas como ferramenta para “proteger” a economia americana, focando em países com os quais os EUA têm déficits comerciais. Em 2019, Trump já havia ameaçado taxar produtos brasileiros, como aço e alumínio, alegando que o Brasil manipulava sua moeda para favorecer exportações. Em abril de 2025, ele impôs uma tarifa de 10% sobre importações brasileiras, considerada branda em comparação com outros países, mas que já gerou perdas em setores como siderurgia e agronegócio. Recentemente, Trump intensificou as críticas ao Brasil, especialmente após a cúpula do Brics no Rio de Janeiro, liderada por Lula. Em entrevista à Time, em 25 de abril de 2025, ele afirmou que o Brasil “ficou rico” cobrando tarifas dos EUA, ignorando que os EUA mantêm um superávit comercial com o Brasil desde 2009, totalizando US$ 88,61 bilhões em 16 anos, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
A carta: Tarifas, Bolsonaro e STF
Na carta endereçada a Lula, publicada por Trump em sua rede Truth Social, ele cita três motivos principais para a tarifa de 50%:
Apoio a Bolsonaro: Trump classifica o julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), por tentativa de golpe de Estado, como uma “caça às bruxas” e uma “vergonha internacional”.
Censura a redes sociais: Acusa o STF de emitir “centenas de ordens secretas e ilegais” contra plataformas americanas, como X, ameaçando-as com multas e expulsão do mercado brasileiro.
Desequilíbrio comercial: Alegando uma relação “injusta”, Trump afirma que as barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil causam “déficits insustentáveis” aos EUA, apesar de dados contrariarem essa narrativa.
A íntegra da carta, traduzida, segue abaixo:
9 de julho de 2025
Sua Excelência Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República Federativa do Brasil
Brasília Prezado Sr. Presidente: Conheci e tratei com o ex-Presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei muito, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional.
Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE! Em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos (como demonstrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma Tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas aos Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais existentes.
Mercadorias transbordadas para tentar evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta. Além disso, tivemos anos para discutir nosso relacionamento comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da longa e muito injusta relação comercial gerada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco.
Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de políticas tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Este déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional! Se, por qualquer motivo, o senhor decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobrarmos. Além disso, devido aos contínuos ataques do Brasil às atividades de comércio digital das empresas americanas, bem como outras práticas comerciais injustas, estou orientando o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil.
Se o senhor desejar abrir seus mercados comerciais até agora fechados para os Estados Unidos e eliminar suas políticas tarifárias e não tarifárias e barreiras comerciais, nós, talvez, consideraremos um ajuste a esta carta. Atenciosamente,
Donald J. Trump
Presidente dos Estados Unidos da América
Prejuízos Maiores para os EUA
Apesar do tom ameaçador, analistas apontam que as tarifas de Trump podem causar mais danos à economia americana do que à brasileira. Um estudo da Tax Foundation, citado pela revista Veja em 11 de abril de 2025, estima que o aumento de tarifas sobre importações globais reduzirá a renda líquida dos americanos em 1,9%, devido à alta nos preços de bens como celulares, laptops e outros produtos dependentes de cadeias globais.
No caso do Brasil, as exportações para os EUA representam cerca de 10% do total, com setores como petróleo, aço e agronegócio sendo os mais afetados. Um levantamento da Câmara de Comércio Brasil-EUA, publicado pelo UOL em 2 de julho de 2025, indica que, entre janeiro e maio, cinco dos dez principais produtos exportados pelo Brasil aos EUA já sofreram quedas devido à tarifa de 10% aplicada em abril. Contudo, o Brasil tem diversificado seus mercados, com a China e outros membros do Brics absorvendo parte das exportações.
Nos EUA, a dependência de produtos brasileiros, como carne, café e minérios, pode elevar os custos para consumidores e indústrias. O Goldman Sachs prevê um crescimento do PIB americano de apenas 0,5% em 2025, contra 2,8% em 2024, parcialmente devido às tarifas. A incerteza tarifária também paralisou decisões de investimento, conforme relatado pelo Valor Econômico em 7 de agosto de 2025.
Reação do Governo Brasileiro e Autoridades
O governo brasileiro foi pego de surpresa, segundo fontes do G1 e do Metrópoles. O Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) emitiu uma nota lamentando a decisão e afirmando que “o Brasil buscará diálogo para evitar uma escalada comercial prejudicial a ambos os países”. O presidente Lula, em resposta à imprensa, destacou a soberania do Brasil e do Brics, dizendo: “Não aceitaremos pressões que violem nossa independência judicial ou econômica.”
No Congresso, a decisão de Trump uniu governo e oposição. O Senado, que em abril aprovou um projeto para retaliar barreiras comerciais, sinalizou que pode acelerar medidas de resposta, como taxar produtos americanos, como medicamentos e tecnologia. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) usou as redes sociais para apoiar Trump, dizendo que “o Brasil precisa rever sua postura contra aliados históricos”. Já o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), classificou a carta como “uma tentativa de interferência inaceitável”.
Repercussão na Mídia e nas Redes
A carta de Trump dominou as manchetes. O Estadão destacou a tarifa como “a mais alta já imposta ao Brasil”, enquanto a BBC News Brasil apontou o “forte componente geopolítico” da medida, ligada à defesa de Bolsonaro e à pressão sobre o Brics. Blogs como o Xadrez Verbal analisaram a carta como uma “mistura de retórica política e barganha comercial”, enquanto posts no X refletiram a polarização: alguns usuários, criticaram a “agressividade” de Trump, e outros viram a medida como um “divisor de águas” nas relações Brasil-EUA.
Jornais internacionais, como o Financial Times, noticiaram a tarifa como parte da estratégia de Trump para “maximizar seu poder de barganha”, enquanto a China e a Rússia, via porta-vozes, criticaram o uso de tarifas como “coerção”.
Impactos e perspectivas
A tarifa de 50% deve impactar diretamente o Ibovespa, que caiu 2,23% nos mercados futuros após o anúncio, e o dólar, que subiu 1,76%, segundo o InfoMoney. Analistas temem que a escalada tarifária leve a uma guerra comercial global, com o Brasil retaliando e os EUA enfrentando inflação e recessão.
Para o Brasil, a diversificação de mercados e o fortalecimento do Brics podem mitigar os prejuízos, mas setores dependentes dos EUA enfrentarão desafios imediatos. Nos EUA, a estratégia de Trump, embora popular entre sua base, é criticada por economistas como William Reinsch, do Center for Strategic and International Studies, que alerta: “Esses países não estão cedendo, e Trump está apenas aumentando as apostas.”
O futuro das relações Brasil-EUA dependerá das negociações nas próximas semanas. Por ora, a carta de Trump é um marco de tensão política e comercial, com consequências que vão além da economia.
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