China critica interferência dos EUA em assuntos internos do Brasil
Trump cita julgamento de Bolsonaro como motivo para tarifas, enquanto China acusa violação de regras da ONU
Na última quarta-feira, 9 de julho de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil, a partir de 1º de agosto. A medida, que marca uma escalada nas tensões entre os dois países, foi justificada por Trump como uma resposta à suposta "perseguição política" contra o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, além de alegações de práticas comerciais desleais e ataques à liberdade de expressão.
A decisão gerou reações imediatas, tanto no Brasil quanto internacionalmente, com destaque para a crítica contundente da China, que acusou os EUA de violarem princípios da Organização das Nações Unidas (ONU).
Em uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira, 11 de julho, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, condenou a postura americana, afirmando que o uso de tarifas como ferramenta de coerção contraria normas internacionais. "Igualdade soberana e não interferência em assuntos internos são princípios fundamentais da Carta da ONU e normas básicas das relações internacionais. As tarifas não devem ser usadas como instrumento de coerção, intimidação ou interferência nos assuntos internos de outros países", declarou Mao Ning, conforme reportado pelo portal Global Times.
A porta-voz também sugeriu que a medida de Trump visa influenciar diretamente o julgamento de Bolsonaro, que enfrenta acusações de tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 no Brasil.
Contexto da Disputa
A tarifa de 50% anunciada por Trump foi detalhada em uma carta endereçada ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, publicada no Truth Social. Nela, Trump descreveu o julgamento de Bolsonaro como uma "caça às bruxas" que deveria "acabar imediatamente".
Ele também acusou o Brasil de atacar a liberdade de expressão, citando decisões da Suprema Corte brasileira que impuseram sanções a plataformas de redes sociais, incluindo ordens de censura que afetariam empresas americanas, como a própria Truth Social, de propriedade de Trump. Além disso, Trump alegou desequilíbrios comerciais, embora os Estados Unidos tenham registrado um superávit comercial de 6,8 bilhões de dólares com o Brasil em 2023, segundo dados do Escritório do Representante Comercial dos EUA.
A reação do governo brasileiro foi imediata. O presidente Lula rebateu as acusações em uma postagem no X, afirmando que o Brasil é "uma nação soberana com instituições independentes e não aceitará qualquer forma de tutela". Ele destacou que o processo contra Bolsonaro é de responsabilidade exclusiva do Judiciário brasileiro e prometeu retaliar com medidas recíprocas, com base na Lei de Reciprocidade Econômica do Brasil, caso as tarifas sejam implementadas. Lula também defendeu as decisões da Suprema Corte, argumentando que a liberdade de expressão não deve ser confundida com práticas de discurso de ódio ou ataques à democracia.
Impactos econômicos e políticos
A ameaça de tarifas gerou preocupação imediata no Brasil, especialmente em setores dependentes do mercado americano, como café, suco de laranja e carne bovina. O Brasil é o maior exportador mundial de café, fornecendo cerca de um terço do café consumido nos EUA, e detém 80% do mercado global de suco de laranja, com mais da metade do suco vendido nos Estados Unidos vindo do Brasil. A imposição de tarifas pode elevar os preços desses produtos no mercado americano, impactando consumidores e cadeias de suprimento, além de prejudicar a economia brasileira, que tem nos EUA seu segundo maior parceiro comercial, atrás apenas da China.
O real brasileiro sofreu uma desvalorização de mais de 2% frente ao dólar após o anúncio, e empresas como a Embraer e a Petrobras registraram quedas em suas ações. O vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, minimizou a ameaça, sugerindo que Trump pode estar "mal informado" e defendeu a independência do Judiciário brasileiro, destacando que até Lula, quando preso, respeitou as decisões judiciais.
No cenário político, a medida de Trump foi vista por analistas brasileiros como um apoio explícito a Bolsonaro, que enfrenta um julgamento por supostamente conspirar para reverter sua derrota eleitoral em 2022. O ex-presidente, que já foi barrado de concorrer a cargos públicos até 2030, nega as acusações e se diz vítima de perseguição política. A carta de Trump, com tom abertamente político, foi interpretada como uma tentativa de fortalecer Bolsonaro, que mantém uma base fiel de apoiadores no Brasil. Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, agradeceu publicamente Trump no X, pedindo sanções contra autoridades brasileiras sob a Lei Magnitsky, que pune violações de direitos humanos.
Repercussão internacional
Além da crítica da China, a medida de Trump contra o Brasil gerou debates sobre sua estratégia comercial. O presidente americano enviou cartas semelhantes a outros 21 países, como Filipinas, Sri Lanka, Moldávia e Iraque, anunciando tarifas de até 30% com base em déficits comerciais, mas o caso do Brasil se destaca pelo tom político e pela ausência de um déficit comercial que justifique a medida. A China, que também enfrenta tarifas americanas, especialmente sobre cobre refinado, reforçou sua posição contra o uso de tarifas como arma política, com Mao Ning destacando que "não há vencedores em uma guerra comercial".
No Brasil, a narrativa de soberania ganhou força. O cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, sugeriu à BBC que o tom político de Trump pode beneficiar Lula, que enfrenta dificuldades de aprovação doméstica. Ao jogar a carta do nacionalismo, Lula pode ganhar apoio ao posicionar o Brasil como vítima de interferência externa. Uma pesquisa recente indicou que 55% dos brasileiros desaprovam Trump, o que pode reforçar a rejeição às tarifas e à defesa de Bolsonaro por parte do presidente americano.
O Papel da ONU e as Relações Internacionais
A crítica da China à postura dos EUA reforça o debate sobre o respeito às normas internacionais. A Carta da ONU, citada por Mao Ning, estabelece a igualdade soberana entre nações e proíbe interferências em assuntos internos, princípios que Pequim alega estarem sendo desrespeitados por Washington.
A tentativa de Trump de vincular tarifas a um processo judicial em outro país foi descrita por analistas como uma quebra de protocolo diplomático, podendo abrir precedentes perigosos nas relações internacionais.
O governo brasileiro também sinalizou que buscará apoio em fóruns multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), para contestar as tarifas, caso sejam implementadas. O comentarista Walter Maierovitch, no Jornal da CBN, destacou que a atitude de Trump viola princípios da OMC, que proíbem medidas comerciais unilaterais sem justificativa técnica.
Perspectivas futuras
A ameaça de tarifas e a resposta brasileira abrem um novo capítulo nas relações entre Brasil e Estados Unidos, que já haviam se deteriorado nos últimos dias após o embaixador americano em Brasília, Gabriel Escobar, ser convocado duas vezes pelo Itamaraty. A primeira convocação ocorreu após uma declaração da embaixada americana criticando o julgamento de Bolsonaro, e a segunda após a confirmação da carta de Trump, considerada "ofensiva e imprecisa" por autoridades brasileiras.
Enquanto o Brasil se prepara para possíveis retaliações comerciais, a tensão política entre Trump e Lula reflete divisões ideológicas profundas, com Bolsonaro sendo um aliado próximo do presidente americano durante seu mandato. A situação também coloca em xeque a habilidade de Lula de navegar as pressões externas enquanto enfrenta desafios internos, como a queda de popularidade e dificuldades no Congresso.
O desenrolar dessa disputa será crucial para o futuro das relações bilaterais e para a economia brasileira, especialmente em setores sensíveis às exportações. A comunidade internacional, por sua vez, observa com atenção os movimentos de Trump, que parecem usar tarifas não apenas como ferramenta econômica, mas como instrumento de influência política global.
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