Assassinato de delegado Ruy Ferraz Fontes expõe vulnerabilidade de agentes de segurança no Brasil
Ex-delegado-geral de São Paulo, pioneiro no combate ao PCC, é executado em emboscada; crime reforça apelos por proteção vitalícia a policiais ameaçados
O Brasil acordou com mais um capítulo sombrio na crônica da violência contra agentes de segurança pública. Na noite de segunda-feira, 15 de setembro de 2025, o ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, de 64 anos, foi assassinado a tiros em uma emboscada no bairro Nova Mirim, em Praia Grande, litoral paulista.
Fontes, que atuava como secretário de Administração da prefeitura local, dirigia seu Fiat Argo quando foi perseguido por criminosos armados com fuzis. Imagens de câmeras de segurança capturaram o momento em que o veículo da vítima colidiu com um ônibus durante a fuga, seguido de disparos que resultaram em mais de 20 perfurações no carro.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) confirmou a morte no local. Diferentemente de relatos iniciais, a ação envolveu ao menos quatro criminosos em veículos como uma Toyota Hilux e um Renault Logan, que foram abandonados e incendiados após o crime – um deles localizado em uma área de mata próxima, com carregadores de fuzil e munições encontrados. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) lamentou o ocorrido em nota oficial, descrevendo-o como um atentado no bairro Vila Mirim e destacando os mais de 40 anos de dedicação de Fontes à Polícia Civil.
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) determinou a criação de uma força-tarefa com prioridade máxima, envolvendo mais de 100 policiais e apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MP-SP). O secretário Guilherme Derrite anunciou que um suspeito já foi identificado, e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, classificou o assassinato como "brutal", oferecendo suporte federal.
A trajetória de Ruy Ferraz Fontes é marcada por confrontos diretos com o crime organizado, especialmente o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção que ele ajudou a mapear como pioneiro nas investigações contra a quadrilha no início dos anos 2000, à frente da Delegacia de Roubo a Bancos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Fontes comandou unidades de elite como o Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), o Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e o Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap). Ele foi fundamental na prisão de líderes do PCC, incluindo Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, e indiciou os principais cabeças da facção por formação de quadrilha. Sua equipe o considerava o "inimigo número 1" do grupo, e documentos apreendidos revelam ordens antigas de execução contra ele, datadas de 2019.
Não era a primeira vez que Fontes escapava da morte. Em 2010, dois homens armados com fuzis foram detidos em frente a uma delegacia onde ele atuava, em um plano atribuído ao PCC. Em dezembro de 2023, ele e a esposa sofreram um assalto à mão armada em Praia Grande, o que o levou a expressar temores públicos sobre sua segurança e a de sua família: "Eu combati esses caras durante tantos anos e agora os bandidos sabem onde moro. Minha família quer que eu deixe o emprego em Praia Grande e saia de São Paulo".
Apesar disso, ele assumiu a secretaria municipal em janeiro de 2023, permanecendo até o fim da gestão iniciada em 2025. Duas pessoas – um homem e uma mulher que passavam pelo local – ficaram feridas na troca de tiros e foram atendidas, sem risco de morte, segundo a prefeitura.
Esse crime não é isolado, mas reflete uma vulnerabilidade crônica de policiais, delegados e investigadores, especialmente os aposentados ou licenciados. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em seu Anuário de 2025 (19ª edição), registra que, embora as mortes violentas intencionais (MVI) tenham caído 5,4% no país em 2024 em comparação a 2023, a letalidade contra agentes de segurança persiste alarmante. Em 2023, 127 policiais foram assassinados em todo o Brasil – uma queda de 18,1% em relação a 2022, mas ainda equivalente a uma morte a cada dois dias.
Dados preliminares de 2025, compilados por entidades como o FBSP e sindicatos, indicam que pelo menos quatro delegados foram vítimas de homicídio até setembro: além de Fontes, casos em São Paulo (outro delegado aposentado em julho), Rio de Janeiro (um em serviço em março) e Bahia (um ex-investigador em maio). No total, mais de 50 policiais civis e militares foram mortos violentamente no país nos primeiros oito meses de 2025, com São Paulo, Rio de Janeiro e Pará concentrando 57% das ocorrências, segundo levantamentos do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp).
Esses números incluem aposentados, que representam cerca de 25% das vítimas, expostos sem a proteção institucional ativa.
A voz da categoria: Sindesp-SP e entidades soam o alarme
O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindesp-SP) emitiu nota de indignação, classificando o assassinato como "mais um capítulo sangrento da guerra movida pelo crime organizado contra o Estado Democrático de Direito". A entidade cobra proteção vitalícia, argumentando que "a aposentadoria não apaga o histórico operacional de um delegado. É imperativo que o Estado ofereça mecanismos permanentes de proteção, incluindo escolta armada, monitoramento de ameaças e, em casos de alto risco, realocação e mudança de identidade".
Em coro, a Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol Brasil) descreveu o crime como uma "tragédia de proporções inenarráveis que atinge a Polícia Civil e toda a sociedade brasileira por calar uma voz firme e comprometida com a lei, a justiça e a proteção da cidadania". A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) e a Associação Nacional dos Profissionais de Inteligência (Anpi) alertam para a "condenação perpétua" imposta a esses profissionais, com riscos que se estendem a familiares. O promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco-SP e também ameaçado pelo PCC, reforçou: "Ruy era o delegado que mais sabia do PCC", destacando que o crime tem "assinatura do crime organizado".
O deputado Delegado Palumbo (PL-SP) ecoou em redes sociais: o assassinato "tem assinatura do crime organizado", e outras autoridades seguem em risco permanente.
O que falta no Brasil: da reação à prevenção
As medidas atuais de proteção são majoritariamente reativas, acionadas após ameaças concretas. Especialistas do FBSP defendem protocolos proativos. As propostas incluem:
Programa Federal de Proteção a Agentes Ameaçados: Um sistema unificado, similar ao Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas (Provita), mas exclusivo para ex-agentes, com gestão entre União e estados, incluindo escoltas e realocação.
Avaliação de Risco Sistemática: Obrigatória antes da aposentadoria para carreiras de alto risco (narcóticos, homicídios, crime organizado), gerando planos individuais automáticos.
Suporte Psicológico e Financeiro: Reinserção laboral fora da segurança e atendimento contínuo para estresse pós-traumático.
Inteligência Ativa e Integrada: Investimentos em monitoramento de facções, com compartilhamento entre polícias e agências.
O governo de São Paulo anunciou, após o crime, que avaliará proteção automática a autoridades que combatem o crime organizado, como sugerido pela jornalista Andréia Sadi em entrevista à GloboNews.
Olhando para fora: Como outros países protegem seus agentes
Países com desafios semelhantes adotam sistemas mais robustos. Nos Estados Unidos, o U.S. Marshals Service gerencia um programa que realoca testemunhas e agentes federais sob ameaça, com mudança de identidade, suporte financeiro e proteção em qualquer estado. Em Israel, agentes do Shin Bet e Mossad recebem proteção vitalícia, com monitoramento constante e segurança permanente.
Na Colômbia, a Unidade Nacional de Proteção (UNP) fornece escoltas, veículos blindados, botões de pânico e coletes balísticos a policiais, juízes e jornalistas, baseada em análises contínuas de risco – um modelo que salvou milhares de vidas na guerra contra cartéis de drogas.
O assassinato de Ruy Ferraz Fontes é um sintoma de uma falha sistêmica que desprotege heróis da segurança pública. Enquanto o Estado não implementar proteções proativas e permanentes, o risco para esses profissionais – e suas famílias – permanecerá uma sentença indefinida. A força-tarefa em curso deve não só punir os culpados, mas catalisar reformas urgentes.
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