Assassinato de Ruy Ferraz Fontes: Ex-Delegado-Geral de São Paulo é executado em Praia Grande
Pioneiro no combate ao PCC, Fontes revelou temores pela própria segurança em entrevista antes do crime
Na noite de segunda-feira (15), o ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, foi brutalmente assassinado a tiros em Praia Grande, na Baixada Santista, em um ataque que chocou o Brasil e reacendeu debates sobre a segurança de agentes públicos aposentados. Aos 63 anos, Fontes, que desde janeiro de 2023 ocupava o cargo de secretário de Administração de Praia Grande, foi vítima de uma emboscada na Avenida Doutor Roberto de Almeida Vinhas, na Vila Caiçara, por volta das 18h20.
Sua trajetória como um dos principais nomes no combate ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e suas recentes declarações sobre a falta de proteção estatal levantam suspeitas de que o crime possa ter sido uma retaliação da facção criminosa.Imagens de câmeras de segurança mostram o carro de Fontes, um Fiat Argo preto, sendo perseguido por uma camionete. Após colidir com um ônibus e capotar, três homens armados com fuzis desceram do veículo e dispararam mais de 20 vezes contra o automóvel, atingindo Fontes em várias partes do corpo.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) confirmou a morte no local. Duas pessoas que passavam pela rua – um homem e uma mulher – foram feridas por estilhaços e balas perdidas. A mulher recebeu alta na mesma noite, enquanto o homem foi internado no Hospital Municipal Irmã Dulce, sem risco de morte, segundo a Prefeitura de Praia Grande.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) emitiu nota lamentando o ocorrido: “Lamenta, com profundo pesar, a morte do delegado Ruy Ferraz Fontes, ocorrida nesta segunda-feira (15), em Praia Grande, vítima de um atentado no bairro Vila Mirim”. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) determinou a criação de uma força-tarefa com mais de 100 policiais, incluindo equipes das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), para investigar o caso. O atual delegado-geral, Arthur Dias, foi ao litoral para coordenar as buscas.
Quem era Ruy Ferraz Fontes: Um legado no combate ao crime organizado
Formado em Direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo, com pós-graduação em Direito Civil, Ruy Ferraz Fontes construiu uma carreira de mais de 40 anos na Polícia Civil de São Paulo, marcada por atuações estratégicas contra o crime organizado. Ele comandou divisões de elite, como o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), o Departamento Estadual de Investigações sobre Entorpecentes (Denarc), o Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) e o Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap).
Entre 2019 e 2022, foi delegado-geral de Polícia do Estado de São Paulo, na gestão do então governador João Doria (PSDB). No início dos anos 2000, como chefe da 5ª Delegacia de Roubo a Bancos do Deic, Fontes foi pioneiro ao mapear a estrutura hierárquica do PCC, então uma facção emergente nos presídios paulistas.
Suas investigações resultaram na prisão de líderes como Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, César Augusto Roriz da Silva, o Cesinha, e José Márcio Felício, o Geleião, indiciados por formação de quadrilha. Esses inquéritos culminaram nas principais condenações contra a cúpula da organização e na divulgação dos primeiros organogramas do PCC. Ele também investigou esquemas de lavagem de dinheiro da facção e contribuiu para a prisão de Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, extraditado de Moçambique em 2020. Durante os ataques de maio de 2006, quando o PCC promoveu uma onda de violência contra forças de segurança em São Paulo, Fontes teve atuação decisiva na contenção da crise.
Como delegado-geral, liderou a transferência de líderes do PCC, incluindo Marcola, de presídios paulistas para unidades federais de segurança máxima em outros estados, uma medida estratégica para enfraquecer o poder da facção nas cadeias. Além da carreira policial, ele era professor assistente de Criminologia e Direito Processual Penal na Universidade Anhanguera e na Academia da Polícia Civil, com especializações em Administração Geral e Financeira em Órgãos Públicos e cursos internacionais, como Anti-Drogas e Anti-Terrorismo na França e Repressão às Drogas no Canadá.
Temores revelados: "Eu vivo sozinho na Praia Grande, no meio deles"
Em 25 de agosto, semanas antes do assassinato, Fontes participou de uma entrevista para um podcast em produção da rádio CBN e do jornal O Globo, onde expressou preocupações com sua segurança. Aposentado da Polícia Civil e residindo em Praia Grande, uma região conhecida como reduto do PCC, ele desabafou: “Eu tenho proteção de quem? Eu moro sozinho, eu vivo sozinho na Praia Grande, que é no meio deles. Pra mim é muito difícil. Se eu fosse um policial da ativa, eu tava pouco me importando, teria estrutura para me defender, hoje não tenho estrutura nenhuma”. Apesar de sua exposição ao crime organizado, ele afirmou nunca ter recebido ameaças diretas: “Teve uma conversa só meio atrapalhada com o Marcola, mas nunca teve um desenrolar negativo. No mundo do crime, existe uma ética. E essa ética é cobrada, de uma forma geral”.
Fontes destacou sua conduta ética nas investigações: “Em que momento nós instruímos um inquérito policial e inventamos alguma prova contra eles? Nunca. Se tinha provas, a gente relacionava e depois ia depor em juízo. A gente não inventou provas. Se ele é criminoso e pratica crime, eu sou da polícia e investigo”. Em dezembro de 2023, ele já havia sido vítima de um assalto em Praia Grande, onde foi abordado à mão armada junto à esposa, perdendo bens como celulares e uma moto, recuperados após a prisão dos suspeitos.
Investigações em curso: Vingança do PCC ou disputas locais?
O Ministério Público de São Paulo, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), apoia as investigações, com o procurador-geral de Justiça, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, oferecendo suporte total. O secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, anunciou que todas as hipóteses estão sendo analisadas, incluindo uma possível vingança do PCC ou disputas locais relacionadas a licitações públicas. Um carro suspeito usado no crime foi encontrado incendiado a dois quilômetros do local, e outro veículo com um homem morto por tiros foi localizado, sugerindo um possível confronto interno entre os criminosos.
O caso expõe a vulnerabilidade de ex-policiais que atuaram na linha de frente contra o crime organizado e reacende o debate sobre a necessidade de proteção estatal para esses profissionais após a aposentadoria. Osvaldo Gonçalves (o Nico), secretário-executivo da SSP e amigo de Fontes desde os anos 1970, classificou como precipitada a associação direta com o PCC, mas garantiu que as investigações serão exaustivas.
Nota do Sindpesp
O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) recebeu com pesar, indiscutível perplexidade e indignação a notícia do bárbaro homicídio praticado contra o ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo Ruy Ferraz Fontes, na noite desta segunda-feira (15/9), em Praia Grande-SP, município da Baixada Santista.
Ruy Ferraz Fontes destacou-se na carreira de delegado de Polícia como um dos principais expoentes no combate ao crime organizado, com reconhecida atuação contra a facção Primeiro Comando da Capital (PCC) - o que, por outro lado, lhe rendeu histórico de ameaças de morte por parte da organização.
A ação que resultou na execução de Ruy Ferraz Fontes, o qual, há poucos anos, ocupou o cargo de comando máximo da Polícia Civil bandeirante, escancara a forma como o Governo do Estado de São Paulo cuida de seus policiais mais dedicados, ao mesmo tempo em que torna gritante a necessidade de a Polícia Civil ser melhor tratada, com efetiva valorização de seus profissionais, mais contratações e aumento nos investimentos em estrutura física e de materiais.
É, afinal, a Polícia Civil a responsável pela investigação das organizações criminosas. Por consequência, se o Governo do Estado permite que a instituição se enfraqueça, como São Paulo tem feito nas últimas décadas, o crime organizado, inevitavelmente, ganhará espaço.
Para o Sindpesp, o homicídio do ex-delegado-geral, da forma como ocorreu, revela-se uma grande afronta às Forças de Segurança, à máquina pública e ao Estado de São Paulo, não podendo ficar de maneira alguma impune, sob pena de que todo o sistema de Segurança Pública caia em descrédito.
Por fim, importante reforçar que a Polícia Civil sofreu, nesta segunda-feira, perda irreparável. Tendo iniciado a carreira na Polícia Civil em 1988, Ruy Ferraz Fontes atuou em diversos setores da instituição até ser alçado a delegado-geral, cargo que exerceu de 2019 a 2022. Com bagagem de 11 anos também na área docente, foi professor de Investigação Policial na Academia da Polícia Civil do Estado de São Paulo.
Aos 63 anos, atualmente aposentado, atuava como secretário municipal de Administração da Prefeitura de Praia Grande.
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