Ambipar revela endividamento de R$ 10,481 bilhões e aciona proteção judicial em meio a crise de liquidez
Empresa de gestão ambiental solicita recuperação judicial no Rio e detalha dívida quirografária, vencimentos antecipados e origem da turbulência — veja o que está em causa para credores e mercado
A Ambipar Participações e Empreendimentos S.A. (AMBP3), grupo brasileiro de gestão ambiental com atuação internacional, informou à Justiça do Rio de Janeiro que acumula dívidas que totalizam R$ 10,481 bilhões, das quais R$ 10,439 bilhões são de natureza quirografária (sem garantias específicas).
Segundo o documento protocolado no pedido de recuperação judicial — obtido pelo Estadão/Broadcast —, desse montante, R$ 35,9 milhões referem-se a obrigações com fornecedores e R$ 6,3 milhões a dívidas trabalhistas.
Além dessas obrigações, o grupo tem passivos junto a bancos estimados em cerca de R$ 2 bilhões. O maior credor listado é o Santander S.A., com R$ 663 milhões, seguido pelo Banco do Brasil S.A., com R$ 352 milhões. Estão também na lista: Banco do Nordeste do Brasil S.A. (R$ 207 milhões), Deutsche Bank AG (R$ 188 milhões — este valor relativo a derivativos), Bradesco S.A. (R$ 165 milhões) e bancos médios como Banco Daycoval S.A. (R$ 109 milhões) e Banco ABC Brasil S.A. (R$ 56 milhões).
Esses números são parte do pedido de recuperação judicial registrado em 25 de setembro de 2025, junto à 3.ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro.
Origem da crise e risco de contágio
No documento apresentado à Justiça, a Ambipar relata que a crise se desencadeou após uma operação de derivativos com o Deutsche Bank ligada à proteção cambial dos bonds emitidos pela companhia — especificamente um contrato de aproximadamente US$ 170 milhões (≈ R$ 900 milhões, considerando câmbio recente). A exigência de chamada de margem por parte do Deutsche foi apontada como o estopim para “processo de desconfiança” no mercado sobre o caixa da empresa, o que teria provocado o vencimento antecipado de outras dívidas.
Em sequência, o Santander teria declarado vencimento antecipado de US$ 120 milhões (≈ R$ 650 milhões), com exigência de pagamento em 24 horas, conforme o documento. A Ambipar afirma que, caso não tivesse recorrido à Justiça, outros bancos poderiam tomar medidas semelhantes — o que “seria o gatilho para o vencimento antecipado de dívidas de todo o Grupo Ambipar”.
Na composição das dívidas, os maiores credores são os detentores de títulos de dívida (“bonds”) emitidos no exterior, equivalentes a US$ 1 bilhão (≈ R$ 5,4 bilhões), seguidos por investidores de debêntures no Brasil (≈ R$ 3 bilhões). O relatório gerencial de fluxo de caixa entregue ao juiz foi sigiloso, em envelope lacrado, com projeção para os próximos dois anos. A empresa questiona o paradeiro de um caixa declarado de R$ 4,7 bilhões no balanço do 2º trimestre — dos quais R$ 2 bilhões estariam disponíveis imediatamente — e aponta que essa é “a maior dúvida do mercado”.
Governança, saída de executivos e investigação regulatória
O documento menciona ainda que o ex-CFO João Arruda assinou aditivos nos contratos de derivativos com o Deutsche Bank sem o conhecimento dos demais executivos, segundo a Ambipar. A empresa afirma ter enviado ao juiz extratos bancários dos controladores, relação de bens particulares e outros documentos sob sigilo.
No plano regulatório, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu processo sancionador contra executivos da Ambipar por suposta irregularidade na recompra de ações, e debate sobre a obrigatoriedade de oferta pública de aquisição (OPA) também está em curso.
Justiça do Rio assume caso; disputa sobre a jurisdição
A Ambipar defende que o processo de recuperação seja conduzido no Estado do Rio de Janeiro, alegando que a sede está no estado e apresentando parecer técnico do professor e ex-juiz da Vara de Falências de São Paulo Daniel Carnio. No despacho que concedeu liminar, foi nomeado administrador judicial para acompanhar o caso por 30 dias, prorrogáveis.
Impactos potenciais e panorama de mercado
A autorização judicial e a divulgação da situação provocaram forte queda das ações AMBP3 — em determinado momento havia despencado mais de 40% em pregão, encerrando com queda de 24%. Para credores, contratos de derivativos e cláusulas de vencimento antecipado (“cross-default”) representam risco imediato de aceleração global das dívidas do grupo. Para o mercado, fica a interrogação sobre a continuidade das operações e a preservação dos ativos, além da governança da empresa num momento crítico.
O que fica em aberto
O destino exato dos R$ 2 bilhões de “disponibilidade imediata” declarados no balanço.
O resultado das negociações com credores e se haverá um plano de recuperação aprovado ou eventual falência.
O impacto da investigação da CVM e eventuais penalidades que podem agravar o quadro.
O efeito para fornecedores, empregados e demais partes interessadas, considerando o risco de interrupção de operações.
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