Trump recua no "tarifaço": China mostra resiliência e expõe dependência dos EUA
Especialistas apontam que a estratégia de sobretaxas de Trump fracassou diante da pressão chinesa e das fissuras internas nos Estados Unidos
Em um movimento que abalou os mercados globais, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou no início de abril de 2025 um pacote de tarifas contra 184 países, apelidado de "tarifaço". A medida, que ficou conhecida como "tarifas recíprocas", tinha como objetivo pressionar nações com as quais os EUA possuem déficit comercial, especialmente a China.
No entanto, o que parecia ser uma demonstração de força econômica rapidamente se transformou em um recuo estratégico, expondo a dependência americana da economia chinesa e gerando custos políticos e econômicos significativos para Washington.
O tarifaço de Trump começou com taxas agressivas, mas logo enfrentou resistência. Apenas uma semana após o anúncio, no dia 9 de abril, Trump reduziu as tarifas de 20% para 10% e determinou uma pausa de 90 dias na aplicação das taxas. Três dias depois, em mais um recuo, o presidente isentou smartphones, chips e computadores das sobretaxas, uma decisão que reflete a pressão de grandes empresas de tecnologia e a dependência dos EUA de produtos eletrônicos fabricados na Ásia, especialmente na China.
A resposta chinesa foi um dos fatores determinantes para o retrocesso americano. Pequim reagiu ao tarifaço com contra-tarifas, aumentando as taxas a cada novo movimento de Trump. Além disso, a China demonstrou resiliência ao não ceder às pressões, enquanto o mercado interno dos EUA enfrentava turbulências. A venda em massa de títulos do Tesouro americano, considerados um porto seguro em tempos de crise, foi um dos sinais de instabilidade econômica gerados pela política tarifária.
Analistas destacaram a fragilidade da estratégia de Trump. Diego Pautasso, doutor em ciência política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirmou que "os EUA têm uma dependência enorme de peças, componentes e produtos finais da China". Ele destacou que a isenção de eletroeletrônicos, que representam cerca de 25% das importações americanas, foi uma concessão forçada, já que a China não fez nenhum gesto além da reciprocidade tarifária. "O elemento determinante é o grau de dependência que a economia americana tem da economia chinesa", explicou Pautasso.
Outro especialista, Pedro Allemand Mancebo Silva, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, reforçou que a resiliência da China "com certeza" pesou no recuo de Trump. Ele apontou que o tempo jogava a favor de Pequim, enquanto as fissuras internas nos EUA, como a pressão de empresários e forças políticas, forçaram o presidente a rever sua abordagem.
Entre as vozes contrárias ao tarifaço estava Elon Musk, dono da Tesla e da SpaceX, e atual chefe do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) no governo Trump. Musk e outros líderes empresariais alertaram que as tarifas tornariam "absolutamente inviável" parte da economia americana, especialmente em setores dependentes de cadeias de suprimentos globais.
A estratégia de Trump, segundo analistas, tinha como objetivo principal impor uma retórica agressiva para forçar líderes globais a negociar com os EUA em uma posição de vantagem. No entanto, Pautasso foi categórico ao afirmar que as tarifas "estavam fadadas ao fracasso" desde o início, devido à falta de planejamento e aos impactos negativos internos. O recuo de Trump, portanto, não apenas evidenciou a força da China no cenário global, mas também expôs as limitações da política econômica americana em um mundo interconectado.
O caso do tarifaço de 2025 é mais um capítulo na conturbada relação comercial entre EUA e China, que já havia sido marcada por tensões durante o primeiro mandato de Trump. A tentativa de reescrever as regras do comércio global, porém, parece ter encontrado um obstáculo intransponível na resiliência chinesa e na própria dependência americana de produtos e componentes asiáticos.
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