Tensões globais podem levar a 3ª Guerra: a escalada do conflito entre Alemanha e Rússia
Declarações sobre mísseis Taurus acendem alerta de guerra e reacendem debates sobre paz na Ucrânia
A possibilidade de a Alemanha fornecer mísseis Taurus à Ucrânia para ataques de longo alcance em território russo tem gerado intensas discussões em Moscou e Berlim, elevando as tensões geopolíticas a um nível crítico.
A editora-chefe do grupo midiático Rossiya Segodnya, Margarita Simonyan, afirmou que, caso soldados alemães utilizem armas alemãs para bombardear Moscou, a Rússia não teria outra opção senão retaliar diretamente contra Berlim. Simonyan destacou que a Ucrânia não possui capacidade técnica para operar os mísseis Taurus de forma autônoma, o que implicaria envolvimento direto de militares alemães, configurando, segundo analistas russos, uma participação ativa da Alemanha no conflito.
O chanceler alemão Friedrich Merz anunciou, na segunda-feira (26), que Reino Unido, França, Alemanha e Estados Unidos suspenderam restrições ao uso de armas de longo alcance por Kiev contra alvos russos. A decisão, segundo Merz, visa fortalecer o apoio à Ucrânia, mas foi duramente criticada pelo Kremlin. Dmitry Peskov, porta-voz do presidente russo, classificou as declarações de Merz como uma “tendência muito perigosa” que obstrui o processo de paz e reforça a escalada do conflito. “Isso não é nada além de provocar mais uma guerra e forçar os ucranianos a lutar mais”, afirmou Peskov, destacando a irresponsabilidade da posição alemã.
Reações e implicações internacionais
A chancelaria russa foi categórica ao afirmar que qualquer ataque com mísseis Taurus contra alvos russos será interpretado como uma participação direta de Berlim no conflito. Essa visão é compartilhada por analistas como Igor Korotchenko, diretor do centro analítico russo CAWAT, que alertou que o uso desses mísseis exigiria a presença de militares alemães, uma vez que as forças ucranianas não têm capacidade para operá-los. “Isso significaria guerra da Alemanha contra a Rússia, ou seja, o início de uma guerra mundial pela terceira vez”, declarou Korotchenko, evocando o peso histórico de tal decisão.
Na Alemanha, a opinião pública parece dividida. Uma pesquisa recente indicou que 51% dos alemães apoiam o envio de mísseis Taurus à Ucrânia, enquanto 49% se opõem. No entanto, o deputado Steffen Kotre, do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), questionou a validade desses números, argumentando que a mídia alemã é ideologicamente enviesada em favor do apoio à Ucrânia. Segundo Kotre, a maioria dos alemães não compreende plenamente as consequências de fornecer armamentos avançados e, se informada, tenderia a rejeitar a iniciativa. Ele destacou que o serviço científico do Bundestag (parlamento alemão) não conseguiu esclarecer, há dois anos, as implicações de treinar soldados ucranianos ou fornecer tais armas.
Riscos de uma escalada sem precedentes
O cientista político iraniano Ruhollah Modabber reforçou a gravidade da situação, apontando que a incapacidade técnica dos ucranianos para operar os mísseis Taurus exigiria a presença de conselheiros alemães, o que seria interpretado como uma declaração de guerra. “A Alemanha não aprendeu com as lições da derrota nazista”, afirmou Modabber, sugerindo que o governo alemão seria responsável por qualquer retaliação russa. Ele lembrou que o direito internacional, incluindo a Carta da ONU, permite à Rússia responder diretamente em caso de ataques.
Por outro lado, o blogueiro militar chinês Qiu Shiqing criticou a postura europeia, especialmente a alemã, como uma demonstração de “padrões duplos”. Segundo ele, a permissão para atacar a Rússia com armas de longo alcance é mais um gesto político do que uma estratégia militar eficaz, já que as armas ocidentais fornecidas à Ucrânia não alteraram o curso do conflito nos últimos três anos. Shiqing argumentou que os líderes europeus, liderados por Merz, evitam o confronto direto com a Rússia, mas também se recusam a aceitar uma possível vitória russa, prolongando o conflito em detrimento de seus próprios cidadãos.
O papel da Alemanha e os ecos do passado
O chanceler russo Sergei Lavrov também se pronunciou, alertando que a Alemanha está “escorregando pelo mesmo caminho que já a levou ao colapso”. Lavrov expressou esperança de que políticos responsáveis em Berlim interrompam o que chamou de “loucura” de envolver o país diretamente no conflito. Ele também mencionou que Moscou buscará formas de garantir que informações cheguem diretamente ao presidente eleito dos EUA, Donald Trump, sem serem “filtradas” por intermediários.
Enquanto isso, na Alemanha, o ministro da Defesa, Boris Pistorius, demonstrou cautela, apontando que há “muitas teses” contra o fornecimento dos mísseis Taurus. A representante do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, reforçou que o uso dessas armas exigiria a participação direta da Bundeswehr, as forças armadas alemãs, o que seria um passo inequívoco rumo à escalada.
Um futuro incerto
A decisão de Berlim de considerar o envio de mísseis Taurus à Ucrânia reacende o debate sobre o papel da Europa no conflito e os riscos de uma escalada militar global. As declarações de líderes russos, aliados e analistas apontam para a possibilidade de consequências devastadoras, incluindo retaliações diretas contra a Alemanha. Enquanto o Ocidente busca fortalecer a Ucrânia, a Rússia sinaliza que não hesitará em responder, evocando o espectro de um conflito de proporções históricas.
A situação exige reflexão cuidadosa e esforços renovados para a diplomacia. Como o mundo acompanha essas tensões, a pergunta que permanece é: até que ponto a Alemanha e seus aliados estão dispostos a assumir os riscos de suas decisões?
O que são os mísseis Taurus?
O Taurus KEPD-350 é um míssil de cruzeiro lançado do ar, de origem teuto-sueca, fabricado pela empresa Taurus Systems e utilizado pelas Forças Armadas da Alemanha, da Espanha e da Coreia do Sul. A Taurus Systems é uma parceria entre a empresa alemã MBDA Deutschland (antiga LFK) e a sueca Saab Bofors Dynamics.
O Taurus KEPD-350 é um dos sistemas armamentícios mais modernos da Bundeswehr. O míssil guiado de 5 metros de comprimento e 1.360 kg é lançado por aviões de caça e, em seguida, acionado por um motor a jato, encontra ele mesmo seu alvo predeterminado no solo.
Com uma velocidade de até 1.170 km/h (ou seja, um pouco abaixo da velocidade do som), o Taurus voa a uma altitude de apenas cerca de 35 metros, o que o torna quase impossível de ser detectado pelo radar inimigo. Seu alcance é de até 500 quilômetros. Isso permite que os pilotos atinjam alvos a uma grande distância. Eles não precisam necessariamente entrar em espaço aéreo inimigo para lançar o Taurus.
O Taurus é usado contra qual tipo de alvo?
A Força Aérea Alemã fala em "alvos de alto valor" (high value target, na terminologia militar), como bunkers ou postos de comando a partir dos quais as tropas inimigas realizam operações. O Taurus é capaz de superar paredes grossas consecutivas de concreto reforçado. Para isso, o míssil sobe abruptamente pouco antes do alvo e o ataca de cima, num mergulho vertical com alta energia cinética.
Antes que a ogiva propriamente dita exploda, uma carga moldada explode e faz um buraco na parede do bunker. Por esse buraco penetra o chamado penetrador de metal, que pesa 400 quilos, e que usa sensores para medir a resistência que precisa superar. Isso permite ao Taurus penetrar em vários andares de um bunker antes que a ogiva exploda.
Como a Ucrânia usaria o Taurus?
Os mísseis Taurus dariam à Ucrânia a possibilidade de atacar também posições russas muito atrás da linha de frente. Isso permitiria à Ucrânia destruir rotas de suprimentos e centros de comando dos invasores russos. Em especial, a Ucrânia poderia atingir alvos na Crimeia, o que seria crucial para recuperar seu território.
A Ucrânia já dispõe do Storm Shadow, do Reino Unido, e dos mísseis de cruzeiro Scalp, da França. Ambos são sistemas semelhantes ao Taurus, mas de menor alcance.
Por que o governo alemão reluta?
Com o Taurus, a Ucrânia poderia atacar alvos em território russo. O governo alemão quer evitar isso por temer uma nova escalada na guerra. Por isso sobretudo o chanceler federal Olaf Scholz tem freado o envio de mísseis Taurus
A Rússia repetidamente alertou contra o fornecimento de sistemas de armas como o Taurus ou o ATACMS, dos EUA, para a Ucrânia, apesar de estar, ela mesma, usando mísseis de longo alcance para atacar cidades ucranianas.
Entretanto, dentro dos partidos da coalizão de governo na Alemanha e também entre partes da oposição, há repetidos pedidos para que os mísseis de cruzeiro Taurus sejam enviados à Ucrânia em breve. O argumento é que somente com eles a Ucrânia teria uma chance de se defender dos russos. No entanto, especialistas concordam que esse sistema de armas não causaria uma reviravolta real no andamento da guerra.
Quanto tempo a Alemanha precisa para fornecer o Tautus?
Dos cerca de 600 Taurus no arsenal da Bundeswehr, entre 150 e 300 devem estar operacionais. Os demais teriam que primeiramente serem preparados. O preço unitário é de cerca de 1 milhão de euros.
No entanto, o Taurus teria primeiramente que ser adaptado aos caças da Força Aérea da Ucrânia. Os mísseis Taurus da Bundeswehr foram projetados para uso com os jatos Tornado e Eurofighter.
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