Tarcísio sugere viagem de Bolsonaro aos EUA para negociar com Trump: STF rejeita e idéia temendo 'fuga'
Governador de São Paulo sugere que ex-presidente viaje aos EUA para discutir tarifas, mas proposta é rejeitada por ministros como "esdrúxula"
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), causou surpresa ao propor aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que autorizassem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a viajar aos Estados Unidos para negociar com o presidente americano, Donald Trump, a redução de uma sobretaxa de 50% imposta às exportações brasileiras. A iniciativa, revelada pela coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, foi classificada como “esdrúxula” e rejeitada por unanimidade pelos magistrados, que consideraram a ideia fora de propósito e uma afronta às prerrogativas institucionais do Brasil.
A proposta de Tarcísio, segundo a coluna, partiu do argumento de que Bolsonaro teria influência suficiente sobre Trump para obter uma trégua comercial, o que beneficiaria setores econômicos de São Paulo, fortemente impactados pela tarifa americana. A medida de Trump, anunciada em carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi justificada, entre outros motivos, pela suposta “caça às bruxas” contra Bolsonaro no Brasil, incluindo processos judiciais no STF por crimes como tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Os ministros do STF, no entanto, reforçaram que negociações internacionais são atribuições exclusivas da Presidência da República e do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty). Bolsonaro, que não possui mandato ou cargo oficial, está com o passaporte apreendido por decisão do ministro Alexandre de Moraes, no âmbito das investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A restrição visa evitar uma possível fuga do ex-presidente, que é réu em ações penais no Supremo.
Além da questão comercial, a sugestão de Tarcísio tinha um componente político. Segundo a Folha, a ideia incluía a possibilidade de Bolsonaro viajar acompanhado do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para discutir não apenas as tarifas, mas também a aprovação de uma anistia a Bolsonaro no Congresso Nacional. Essa anistia seria uma tentativa de livrar o ex-presidente das condenações relacionadas aos eventos de 8 de janeiro. No entanto, Motta e Alcolumbre não participaram das tratativas iniciais e seriam consultados apenas em caso de avanços nas negociações, o que não ocorreu.
A proposta de Tarcísio gerou reações imediatas. A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, classificou a iniciativa como “surreal” em uma postagem no X, destacando que o governador, alinhado ao bolsonarismo, estaria tentando facilitar uma possível fuga de Bolsonaro para os EUA. A rejeição do STF à ideia reforça a posição do tribunal de manter a independência do Judiciário e evitar qualquer interferência em processos em andamento, especialmente aqueles relacionados a crimes contra a ordem democrática.
O governo de São Paulo, pressionado por setores econômicos afetados pelas tarifas de Trump, não respondeu aos pedidos de esclarecimento da Folha. A ausência de posicionamento oficial do governador intensifica as críticas de que Tarcísio busca equilibrar seu apoio a Bolsonaro com a defesa dos interesses econômicos de São Paulo, uma tarefa que, segundo analistas, se torna cada vez mais delicada diante do impacto das tarifas no estado.
No cenário político, a movimentação de Tarcísio ocorre em um momento de tensões crescentes entre o governo Lula e aliados de Bolsonaro. O presidente da Câmara, Hugo Motta, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, têm evitado se pronunciar diretamente sobre as tarifas de Trump, mantendo silêncio ou respostas genéricas sobre a soberania brasileira. Em nota conjunta, ambos afirmaram que o Congresso acompanhará os desdobramentos e mencionaram a Lei da Reciprocidade Econômica como possível resposta às medidas americanas.
Enquanto isso, o governo Lula tem reagido às tarifas de Trump com críticas contundentes. O presidente classificou Bolsonaro como “coisa covarde” e responsabilizou o ex-presidente pela escalada da crise comercial, sugerindo que as tarifas são uma retaliação às investigações judiciais no Brasil. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, também criticou a estratégia de Bolsonaro e aliados, afirmando que vincular o ex-presidente às tarifas é um “tiro no pé”.
A tentativa de Tarcísio de envolver o STF em uma solução para a crise tarifária e, ao mesmo tempo, buscar benefícios políticos para Bolsonaro reflete as complexas dinâmicas entre os poderes no Brasil. A rejeição da proposta pelo Supremo evidencia a resistência do Judiciário a pressões externas, especialmente em um contexto de investigações sensíveis. Para analistas, o episódio coloca Tarcísio em uma posição delicada, já que sua proximidade com o bolsonarismo pode comprometer sua imagem como gestor preocupado com os interesses econômicos de São Paulo.
O desdobramento da crise tarifária e das articulações políticas envolvendo Bolsonaro, Tarcísio, Motta e Alcolumbre continua a gerar debates acalorados. Enquanto o STF mantém sua postura de independência, o Congresso e o governo Lula buscam estratégias para mitigar os impactos econômicos das tarifas de Trump, que ameaçam setores como o agronegócio e a indústria exportadora. O cenário permanece incerto, mas o episódio reforça a polarização política e os desafios de governança em um momento crítico para o Brasil.
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