Tanques israelenses matam 51 em ataque a multidão faminta em Gaza
Incidente em Khan Younis expõe crise humanitária e escalada de violência na região
Na segunda-feira, 16 de junho de 2025, um ataque de tanques israelenses contra uma multidão de palestinos que tentava acessar ajuda humanitária em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, deixou pelo menos 51 mortos e cerca de 250 feridos, segundo médicos locais. O episódio, descrito como um dos mais sangrentos desde o início da recente onda de violência, evidencia a gravidade da crise humanitária na região, onde a fome e a desesperação têm levado milhares a arriscar suas vidas por comida. Testemunhas relataram cenas de horror, com corpos mutilados e feridos sendo transportados em carros, riquixás e carroças de burro para o Hospital Nasser, que ficou sobrecarregado.
Contexto do Incidente
O ataque ocorreu na principal via leste de Khan Younis, onde milhares de palestinos se reuniram na esperança de obter alimentos de caminhões de ajuda humanitária. Segundo a testemunha Alaa, entrevistada pela Reuters no Hospital Nasser, os tanques dispararam pelo menos dois projéteis contra a multidão após um breve momento em que as pessoas foram autorizadas a se aproximar. “De repente, eles nos deixaram seguir em frente e fizeram com que todos se reunissem, e então começaram a cair projéteis”, relatou. Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram cerca de uma dúzia de corpos mutilados espalhados pelas ruas, confirmando a violência do incidente.
Médicos do Hospital Nasser, como o Dr. Mohammed Saqer, descreveram a chegada de 51 mortos e 250 feridos, muitos em estado crítico, com ferimentos causados por disparos e estilhaços. “Os feridos foram transportados em carroças de burro, com múltiplos feridos empilhados uns sobre os outros”, disse Saqer, destacando a precariedade da situação. Além disso, pelo menos 14 outras pessoas foram mortas em ataques separados em Gaza no mesmo dia, elevando o total de óbitos para 65.
Resposta das Forças Israelenses
As Forças de Defesa de Israel (IDF) reconheceram ter disparado na área, mas afirmaram que o incidente está sob investigação. Em comunicado, a IDF declarou que identificou uma “aglomeração adjacente a um caminhão de distribuição de ajuda” próximo às suas tropas em Khan Younis. “As IDF lamentam qualquer dano a indivíduos não envolvidos e trabalham para minimizar ao máximo os danos a eles, mantendo a segurança de nossas tropas”, diz o texto. A IDF também alegou que os disparos ocorreram após “vários indivíduos” se aproximarem de suas posições, desviando-se das rotas designadas.
Crise Humanitária e o Papel da GHF
O incidente é parte de uma série de episódios violentos envolvendo palestinos em busca de ajuda humanitária desde que Israel suspendeu parcialmente, em maio de 2025, um bloqueio de quase três meses que restringia a entrada de alimentos, medicamentos e outros suprimentos em Gaza. A distribuição de ajuda tem sido canalizada por meio da Gaza Humanitarian Foundation (GHF), uma organização apoiada pelos Estados Unidos e Israel, que opera pontos de distribuição em áreas sob controle militar israelense.
A GHF informou ter distribuído mais de três milhões de refeições em quatro locais sem incidentes registrados no mesmo dia do ataque. No entanto, a organização enfrenta críticas severas da ONU e de outras agências humanitárias, que consideram seu sistema “inadequado, perigoso e uma violação das regras de imparcialidade humanitária”. A ONU argumenta que o modelo da GHF força palestinos a percorrer longas distâncias em zonas militarizadas, arriscando suas vidas para acessar suprimentos limitados.
O sistema anterior, coordenado pela ONU, distribuía ajuda diretamente em 400 pontos em Gaza, utilizando um registro de famílias para garantir acesso equitativo. Já o modelo da GHF opera em poucos locais, em uma base de “primeiro a chegar, primeiro a ser servido”, o que gera aglomerações caóticas e aumenta os riscos de violência.
Reações e Contexto Político
A ONU, por meio de seu secretário-geral António Guterres, pediu uma investigação “imediata e independente” sobre o incidente, destacando o “desrespeito total pelos civis” e a “desumanização” dos palestinos em Gaza. Volker Türk, chefe de direitos humanos da ONU, criticou o sistema de entrega de ajuda como “inaceitável” e “desumanizante”.
Autoridades de Gaza, controladas pelo Hamas, relataram que centenas de palestinos foram mortos em incidentes semelhantes nas últimas três semanas, incluindo 23 mortos em Rafah no mesmo dia. O Hamas nega as acusações de Israel de que desvia ajuda humanitária, enquanto Israel justifica o sistema da GHF como necessário para evitar que suprimentos cheguem aos combatentes do grupo.
Nas redes sociais, a indignação é palpável. Postagens no X, como a do usuário @Metropole, destacaram a gravidade do ataque, enquanto @BlogdoNoblat relatou testemunhos de palestinos que descreveram o incidente como um “massacre”. Outros, como @_Stalinspears_, criticaram a continuidade dos ataques em meio a um conflito que já matou mais de 54 mil pessoas em Gaza desde outubro de 2023, segundo o Ministério da Saúde local.
Cenário de Desespero
A crise humanitária em Gaza atingiu níveis catastróficos, com a ONU alertando que 2,1 milhões de pessoas enfrentam fome severa. Um relatório do IPC (Integrated Food Security Phase Classification) estimou que 71 mil crianças menores de cinco anos podem sofrer de desnutrição aguda nos próximos meses. A combinação de bloqueios, restrições militares e violência tem dificultado a entrega de ajuda, com relatos de saques a caminhões da ONU devido à ausência de ordem pública.
Testemunhas como Abdullah Anshasi, de Khan Younis, descreveram cenas de “corpos voando pelo ar” e “centenas de feridos no chão” após o ataque. “Sobrevivemos por um milagre”, disse ele à Reuters. A enfermeira Mandy Blackman, do hospital de campanha da UK-Med em al-Mawasi, relatou tratar pelo menos 30 pessoas com ferimentos por tiros e spray de pimenta, reforçando a gravidade da situação.
O que está em jogo
O incidente em Khan Younis reacende o debate sobre a condução do conflito em Gaza, que já dura quase 20 meses desde o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que matou cerca de 1.200 pessoas e levou à captura de 251 reféns. A ofensiva israelense em resposta resultou em mais de 54 mil mortes, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza. A comunidade internacional, incluindo aliados de Israel como Reino Unido, França e Canadá, tem criticado a desproporcionalidade das ações militares e o impacto sobre civis.
Enquanto isso, esforços para um cessar-fogo, mediados por Qatar e Egito, continuam sem sucesso. Um oficial do Hamas afirmou que o grupo aceitou uma proposta de trégua que inclui a libertação de reféns em troca de prisioneiros palestinos, mas Israel rejeitou a proposta, segundo fontes citadas pela Reuters.
Um apelo por soluções
A tragédia em Khan Younis sublinha a urgência de uma solução humanitária e política para Gaza. A comunidade internacional e organizações de direitos humanos continuam a pressionar por um cessar-fogo e pela retomada de um sistema de distribuição de ajuda seguro e eficaz. Enquanto isso, os palestinos enfrentam o dilema descrito por testemunhas: “morrer de fome ou arriscar ser morto ao buscar comida”.
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