STF manda prender Mauro Cid e ex-Ministro de Bolsonaro
Detenções revelam articulações para obstruir justiça e possíveis planos de evasão em meio a inquérito sobre trama golpista
Na manhã desta sexta-feira, 13 de junho de 2025, a Polícia Federal (PF) prendeu o tenente-coronel Mauro Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, e o ex-ministro do Turismo Gilson Machado, em uma operação que intensifica as investigações sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
As detenções, realizadas em Brasília e Recife, respectivamente, decorrem de indícios de que ambos articularam a emissão de um passaporte português para facilitar a saída de Cid do Brasil, em um possível esforço para obstruir a justiça. A operação, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e acompanhada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), reforça o escrutínio sobre o entorno de Bolsonaro e suas ações pós-eleitorais.
Contexto da Operação
A PF, em conjunto com a PGR, aponta que Gilson Machado teria atuado em maio de 2025 junto ao Consulado de Portugal em Recife, Pernambuco, para viabilizar um passaporte português para Mauro Cid. A ação, segundo os investigadores, visava permitir que o militar deixasse o país em um momento crítico das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado, que buscava impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após sua vitória nas urnas em 2022. A suspeita é que a obtenção do documento seria uma tentativa de evadir Cid do alcance da justiça brasileira, especialmente considerando sua posição como delator em um acordo de colaboração premiada firmado com a PF em 2023.
Arquivos recuperados do celular de Cid revelaram que, já em janeiro de 2023, ele buscava a cidadania portuguesa, possivelmente por laços familiares que facilitariam o processo. A PGR classificou a conduta como uma tentativa de obstrução de justiça, destacando que a saída de Cid do país poderia comprometer o andamento do inquérito, no qual ele é uma peça-chave por suas revelações sobre a trama golpista. Além disso, a PF solicitou medidas como busca e apreensão e quebra de sigilo telefônico contra Machado, reforçando a gravidade das acusações.
A trama golpista e o papel de Mauro Cid
Mauro Cid é réu, ao lado de Jair Bolsonaro e outros 29 acusados, em uma ação penal no STF que investiga um suposto plano para subverter os resultados das eleições de 2022. O inquérito, conhecido como ação penal 2.688/DF, apura a existência de uma organização criminosa que planejava medidas antidemocráticas, como a decretação de estado de sítio, a prisão de autoridades do Judiciário e do Legislativo, e até o assassinato de figuras como Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes. O plano, intitulado "Punhal Verde e Amarelo", foi detalhado pela PF na Operação Contragolpe, deflagrada em novembro de 2024, que resultou na prisão de cinco suspeitos, incluindo quatro militares das Forças Especiais do Exército, conhecidos como "kids pretos".
Cid, em sua delação premiada homologada em 2023, forneceu detalhes cruciais sobre reuniões e documentos que corroboram as intenções golpistas. Ele afirmou que Bolsonaro recebeu, leu e alterou a chamada "minuta do golpe", um documento que previa a anulação das eleições de 2022 e a prisão de autoridades, incluindo Moraes. Durante interrogatório no STF em 9 de junho de 2025, Cid confirmou a veracidade das acusações da PGR, mas negou participação ativa nos planos, afirmando que apenas presenciou os fatos. Ele também relatou que Bolsonaro pressionou o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, por um relatório "duro" contra as urnas eletrônicas, embora o documento final das Forças Armadas não tenha apontado fraudes.
Além disso, Cid revelou que entregou uma caixa de vinho contendo dinheiro ao major Rafael de Oliveira, um dos "kids pretos", a pedido do general Walter Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022. Esse repasse seria destinado a financiar acampamentos bolsonaristas montados em frente a quartéis após as eleições. Tais acampamentos culminaram nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores de Bolsonaro invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília.
Gilson Machado e a Tentativa de Evasão
Gilson Machado, conhecido como "Gilson Sanfoneiro" por suas aparições tocando sanfona em lives de Bolsonaro, foi ministro do Turismo entre 2020 e 2022. Sua prisão em Recife, na manhã de 13 de junho, marca um novo capítulo nas investigações. A PF aponta que Machado tentou acelerar ou contornar procedimentos formais para a emissão do passaporte português de Cid, uma ação interpretada como tentativa de obstrução de justiça. Em nota ao UOL, Machado negou ter ido ao Consulado de Portugal em Recife, afirmando que tomou conhecimento das investigações pela imprensa. Contudo, a PGR sustenta que há indícios suficientes para justificar a abertura de um inquérito contra o ex-ministro, incluindo a possibilidade de que ele buscasse alternativas em outras embaixadas para o mesmo fim.
Além disso, a PF investiga uma campanha de arrecadação de doações promovida por Machado em 16 de maio de 2025, via Instagram, para arrecadar fundos para Bolsonaro. A ação, segundo os investigadores, também pode estar relacionada a esforços para apoiar aliados do ex-presidente em meio às investigações. Machado, que foi candidato à prefeitura de Recife em 2024 e perdeu, é considerado um aliado próximo de Bolsonaro, frequentemente presente em eventos e viagens do ex-presidente.
Repercussão e Impacto Político
As prisões de Cid e Machado geraram forte repercussão nas redes sociais e na imprensa. Postagens no X destacaram a gravidade das acusações, com usuários como @lazarorosa25 e @GloboNews relatando a operação como um desdobramento significativo das investigações sobre a tentativa de golpe. A hashtag #PainelPolitico foi utilizada para amplificar o debate, com comentários que variam entre apoio às ações da PF e críticas de apoiadores de Bolsonaro, que classificam as detenções como perseguição política.
O presidente Lula, ao comentar o plano "Punhal Verde e Amarelo" em 21 de novembro de 2024, afirmou estar "vivo" e destacou a importância de desmoralizar os opositores com resultados de sua gestão, evitando responder com violência. A operação da PF, batizada de Contragolpe, foi classificada por jornais internacionais como uma das mais sérias revelações sobre as ameaças à democracia brasileira após as eleições de 2022.
Próximos Passos
As prisões de Mauro Cid e Gilson Machado reforçam o compromisso das autoridades em coibir tentativas de obstrução de justiça e esclarecer os eventos que culminaram na crise política de 2022 e 2023. Cid, que permanece detido no Batalhão da Polícia do Exército em Brasília, enfrenta acusações adicionais que podem comprometer os benefícios de sua delação premiada, caso sejam confirmadas inconsistências em seus depoimentos. Machado, por sua vez, terá sua conduta investigada em um novo inquérito, com a PF buscando esclarecer a extensão de sua atuação no caso do passaporte.
O STF, sob a relatoria de Alexandre de Moraes, continua a conduzir a ação penal, com depoimentos de outros réus e testemunhas previstos para os próximos meses. A PGR, liderada por Paulo Gonet, decidirá se apresenta denúncias adicionais com base nas novas evidências. O caso segue como um dos mais complexos da história recente do Brasil, com implicações significativas para o futuro político do país.
Palavras-chave: Mauro Cid, Gilson Machado, Polícia Federal, Procuradoria-Geral da República, tentativa de golpe, Jair Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva, passaporte português, obstrução de justiça, Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, Punhal Verde e Amarelo
Hashtags: #PainelPolitico #MauroCid #GilsonMachado #PolíciaFederal #TentativaDeGolpe #JairBolsonaro #Lula #STF #AlexandreDeMoraes #DemocraciaBrasileira