STF julga núcleo 3 da tentativa de golpe de 2022: militares e policial federal na mira
Primeira Turma do Supremo decide se 12 acusados, incluindo "kids pretos", se tornarão réus por plano que previa assassinatos de Lula, Alckmin e Moraes
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou, nesta terça-feira (20), o julgamento que pode transformar em réus 12 pessoas acusadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de integrar o chamado "núcleo 3" de uma suposta trama golpista articulada após as eleições de 2022.
Composto por 11 militares do Exército e um agente da Polícia Federal, o grupo é apontado como responsável pelas ações táticas de um plano que incluía pressionar o Alto Comando das Forças Armadas para aderir ao golpe e executar o chamado "Punhal Verde e Amarelo", que previa os assassinatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes. O julgamento, conduzido pelo ministro Cristiano Zanin, pode se estender até quarta-feira (21) caso não seja concluído no primeiro dia.
O que é o "núcleo 3"?
As investigações da Polícia Federal, consolidadas na operação Tempus Veritatis, revelaram que o "núcleo 3" era formado por militares, incluindo membros das Forças Especiais do Exército, conhecidos como "kids pretos", e um agente da Polícia Federal, Wladimir Matos Soares. Esses indivíduos teriam desempenhado papéis operacionais na tentativa de subverter o Estado Democrático de Direito, com ações que incluíam monitoramento de autoridades e planejamento de neutralizações violentas. A denúncia da PGR acusa o grupo de cinco crimes: tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
Entre os alvos do plano "Punhal Verde e Amarelo", estavam Lula, chamado de "Jeca", Alckmin, referido como "Joca", e Moraes, conhecido como "Professora" nos diálogos dos investigados. Um terceiro codinome, "Juca", foi identificado pela PF como sendo o ex-ministro José Dirceu, embora sua identidade não tenha sido formalmente confirmada inicialmente. O plano, que incluía métodos como envenenamento para Lula e sequestro de Moraes, foi detalhado em documentos apreendidos pela PF e teria data marcada para 15 de dezembro de 2022, três dias após a diplomação de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Quem são os "kids pretos"?
Os "kids pretos" são militares de elite formados pelo Curso de Operações Especiais do Exército Brasileiro, especializados em missões sigilosas, como guerra não convencional, reconhecimento especial e contraterrorismo. Treinados em locais como Goiânia, Niterói e Manaus, esses profissionais são conhecidos por sua capacidade de atuar em ambientes hostis e politicamente sensíveis, usando gorros pretos como marca em operações. No contexto da denúncia, três militares do "núcleo 3" – Rafael Martins de Oliveira, Rodrigo Bezerra de Azevedo e Hélio Ferreira Lima – são apontados como "kids pretos" envolvidos diretamente nas ações táticas do plano golpista.
Assista o julgamento:
As vozes da conspiração
Um dos elementos mais graves da investigação veio à tona na semana passada, com a divulgação de áudios do agente da Polícia Federal Wladimir Matos Soares, preso desde novembro de 2024. Nas gravações, Soares expressa disposição para ações extremas, afirmando que Moraes "tinha que ter tido a cabeça cortada" e que Lula não seria empossado. Esses áudios reforçam a tese da PGR de que o grupo planejava ações violentas para impedir a posse do governo eleito.
Além disso, as investigações apontaram o uso de codinomes para ocultar identidades e planos. Militares utilizavam nomes como "Alemanha", "Japão" e "Argentina" para se referir uns aos outros, enquanto eventos e alvos eram codificados para dificultar rastreamentos. Rafael Martins de Oliveira, por exemplo, usava o codinome "Diogo Bast" ou "Japão", conforme documentos da PF.
Quem compõe o "núcleo 3"?
Os 12 denunciados pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, são:
Bernardo Correa Netto, coronel preso na operação Tempus Veritatis;
Cleverson Ney, coronel da reserva e ex-oficial do Comando de Operações Terrestres;
Estevam Theophilo, general da reserva e ex-chefe do Comando de Operações Terrestres;
Fabrício Moreira de Bastos, coronel do Exército, supostamente ligado a uma carta de teor golpista;
Hélio Ferreira Lima, tenente-coronel e integrante dos "kids pretos";
Márcio Nunes de Resende Júnior, coronel do Exército;
Nilton Diniz Rodrigues, general do Exército;
Rafael Martins de Oliveira, tenente-coronel e integrante dos "kids pretos";
Rodrigo Bezerra de Azevedo, tenente-coronel e integrante dos "kids pretos";
Ronald Ferreira de Araújo Junior, tenente-coronel, acusado de discutir minuta golpista;
Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros, tenente-coronel;
Wladimir Matos Soares, agente da Polícia Federal.
O contexto do julgamento
A Primeira Turma do STF, composta por Alexandre de Moraes (relator), Cristiano Zanin, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Flávio Dino, avalia se a denúncia da PGR apresenta elementos suficientes para abrir uma ação penal. Até o momento, o STF aceitou denúncias contra outros três núcleos da trama golpista, transformando 21 dos 34 denunciados em réus, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro. A expectativa é que o julgamento do "núcleo 3" siga o mesmo padrão, com aceitação unânime da denúncia, dado o histórico dos julgamentos anteriores.
O plano "Punhal Verde e Amarelo", elaborado pelo general da reserva Mário Fernandes, é um dos pilares da denúncia. Segundo a PGR, Fernandes imprimiu o documento 40 minutos antes de uma visita ao Palácio da Alvorada em 9 de novembro de 2022, sugerindo que o plano foi apresentado a Bolsonaro, embora não haja registro de sua aprovação explícita. A defesa de Fernandes alega que o plano nunca foi compartilhado, mas a PGR contesta essa versão, apontando indícios de monitoramento clandestino de Moraes e uso de celulares descartáveis no plano "Copa 2022", que também visava o ministro.
Impacto e próximos passos
Caso a denúncia seja aceita, os 12 acusados passarão a responder a uma ação penal no STF, com fases de produção de provas, depoimentos de testemunhas e interrogatórios. A decisão de hoje e amanhã pode consolidar ainda mais a resposta do Judiciário à tentativa de ruptura democrática, reforçando a mensagem de que ações contra o Estado Democrático de Direito não serão toleradas.
O julgamento ocorre em um momento de alta tensão política, com a memória dos atos de 8 de janeiro de 2023 ainda fresca. A atuação do STF, sob a relatoria de Alexandre de Moraes, tem sido firme na apuração dessas tentativas, com 252 condenações já registradas em casos relacionados aos ataques às sedes dos Três Poderes.
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