Reino Unido busca aproximação na América do Sul com Brasil e Chile
Parcerias estratégicas em comércio, defesa e minerais críticos sinalizam reposicionamento britânico pós-Brexit e em meio a incertezas com Trump
O Reino Unido, após o Brexit e com a ascensão de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, enfrenta um cenário de isolamento geopolítico que o levou a buscar novas parcerias para garantir sua relevância global. Nesse contexto, Brasil e Chile emergem como aliados estratégicos na América do Sul, com foco em comércio, defesa, segurança cibernética, cooperação naval e exploração de minerais críticos, como lítio e nióbio.
Essa aproximação, segundo analistas, reflete uma estratégia britânica de sobrevivência e reinserção no cenário internacional, conectando o Atlântico Sul ao Indo-Pacífico e diversificando alianças em um mundo marcado por tensões geopolíticas.
Uma nova estratégia pós-Brexit
A saída do Reino Unido da União Europeia (UE) em 2020, formalizada após o referendo de 2016, trouxe desafios econômicos e políticos significativos. A redução de 21% nas exportações britânicas, aumento da burocracia nas fronteiras e a perda de acesso ao mercado comum europeu pressionaram o governo britânico a buscar novos parceiros comerciais e estratégicos. A eleição de Trump, com seu discurso protecionista e críticas às alianças tradicionais, como a Otan, intensificou a necessidade de Londres diversificar suas relações, especialmente fora da Europa.
Nesse cenário, a América do Sul ganha relevância. O Brasil, com sua posição de liderança regional, vasta costa atlântica e recursos minerais, e o Chile, com acesso ao Pacífico e soberania sobre o Estreito de Magalhães, são vistos como peças-chave. Marcos Figueiredo, professor de relações internacionais do Ibmec, destaca que a aproximação com esses países é parte de uma redefinição da política externa britânica. “O Reino Unido está tentando se situar como ator relevante e integrado, do ponto de vista econômico e político, em um momento de cisão dentro do bloco ocidental”, explica.
Cooperação em defesa e segurança
A parceria com Brasil e Chile vai além do comércio, abrangendo áreas estratégicas como defesa, segurança cibernética e inteligência marítima. O Reino Unido, com sua expertise em tecnologia naval e cibersegurança, busca fortalecer a cooperação com ambos os países para proteger interesses mútuos, especialmente em rotas marítimas críticas. O Estreito de Magalhães, sob soberania chilena, é uma passagem estratégica que conecta o Atlântico ao Pacífico, essencial para o comércio global e para a projeção de poder britânico no Indo-Pacífico.
No caso do Brasil, a colaboração inclui a indústria de defesa. Figueiredo aponta a relevância da Embraer, uma das maiores empresas de armamentos da região, que produz aviões militares e pode se beneficiar de parcerias tecnológicas com o Reino Unido. “O Brasil tem uma participação expressiva na venda de aviões militares, e essa cooperação é estratégica para ambos os lados”, afirma. Além disso, a expertise britânica em segurança costeira pode apoiar o Brasil no controle de sua extensa costa atlântica, especialmente em um momento de crescente interesse na exploração de recursos marítimos.
O Chile, por sua vez, é um aliado estratégico devido à sua localização no Pacífico e à proximidade com as Ilhas Malvinas, foco de disputas históricas com a Argentina. Posts recentes no X sugerem que a aliança com Brasil e Chile poderia fortalecer a posição britânica em um eventual conflito pelas Malvinas, embora analistas enfatizem que o foco atual é cooperação, não confronto.
Minerais estratégicos: lítio e nióbio
A exploração de minerais críticos, como o lítio no Chile e o nióbio no Brasil, é um pilar central da estratégia britânica. Adriano Cerqueira, também do Ibmec, destaca a presença histórica de empresas britânicas no setor de mineração no Brasil, especialmente em Minas Gerais, onde o nióbio é abundante. “Essas terras raras são cruciais para tecnologias de ponta e segurança cibernética”, explica. O Chile, maior produtor mundial de lítio, é igualmente estratégico, dado o papel desse mineral em baterias para veículos elétricos e tecnologias renováveis.
A busca por esses recursos reflete a competição global por materiais críticos, em um contexto de tensões geopolíticas com a China, que domina cadeias de suprimento de minerais raros. Para o Reino Unido, garantir acesso a esses recursos na América do Sul é uma forma de reduzir dependência de outros mercados e fortalecer sua economia pós-Brexit.
Conexão Atlântico-Pacífico
A aliança com Brasil e Chile também tem um componente geopolítico mais amplo: conectar o Atlântico Sul ao Indo-Pacífico. Especialistas ouvidos pelo podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, apontam que essa tríade pode servir como um pilar da estratégia britânica para manter influência em regiões estratégicas, especialmente diante da ascensão chinesa no Pacífico. O Reino Unido, que aderiu ao Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (CPTPP) em 2023, vê no Chile, também membro do bloco, uma ponte para ampliar sua presença no Pacífico.
Figueiredo esclarece, no entanto, que o objetivo britânico não é confrontar diretamente a China, mas adotar uma postura defensiva. “O Reino Unido, como potência relevante, mas não superpotência, busca garantir sua sobrevivência independentemente de Washington”, diz. Essa estratégia inclui diversificar parcerias para não depender exclusivamente dos Estados Unidos, cujo governo Trump tem adotado políticas unilaterais que preocupam aliados europeus.
Exclusão da Argentina e tensões regionais
Um aspecto notável dessa aproximação é a exclusão da Argentina, rival histórica do Reino Unido devido à disputa pelas Ilhas Malvinas. Figueiredo observa que a escolha de Brasil e Chile reflete não apenas interesses econômicos e estratégicos, mas também a intenção de isolar a Argentina no cenário regional. “A questão das Malvinas é um fator que molda a política externa britânica na América do Sul”, explica.
Essa exclusão tem gerado debates. Um post no X sugere que a aliança com Brasil e Chile poderia fortalecer a posição britânica em um hipotético conflito pelas Malvinas, embora não haja evidências concretas de que esse seja o objetivo imediato. A Argentina, por sua vez, enfrenta desafios econômicos e políticos que limitam sua capacidade de resposta, mas a rivalidade histórica permanece um ponto sensível.
Benefícios para Brasil e Chile
Para Brasil e Chile, a parceria com o Reino Unido oferece oportunidades significativas. O Brasil pode se beneficiar da expertise britânica em segurança marítima e tecnologia, fortalecendo sua capacidade de proteger recursos naturais e rotas comerciais. O Chile, além do comércio de lítio, pode consolidar sua posição como um hub logístico no Pacífico, especialmente com a adesão do Reino Unido ao CPTPP. Cerqueira destaca que a cooperação pode trazer avanços em treinamento de pessoal e tecnologia. “O Reino Unido tem uma longa tradição em exploração marítima e pode ser um grande parceiro para o Brasil e o Chile na gestão de suas costas”, afirma. Além disso, a parceria pode atrair investimentos britânicos, especialmente em setores como mineração e defesa.
Desafios e perspectivas
Apesar das oportunidades, a parceria enfrenta desafios. O Reino Unido, enfraquecido economicamente pelo Brexit, negocia em posição de desvantagem, como observa Jill Rutter, do centro de estudos UK in a Changing Europe. Além disso, a dependência histórica do Brasil em relação à China como principal parceiro comercial pode limitar o alcance da cooperação com os britânicos. Para o Chile, a competição global por lítio exige equilíbrio entre múltiplos parceiros, incluindo China e Estados Unidos.
Ainda assim, a nova estratégia britânica sinaliza um esforço de reposicionamento global. A citação de Brasil e Chile no documento “The Strategic Defense Review” do Reino Unido, que destaca ambos como aliados na América Latina, reforça a importância da região para Londres. Com a Otan sob pressão e a influência dos EUA na região em declínio, o Reino Unido vê na América do Sul uma oportunidade de consolidar sua relevância geopolítica.
Um futuro de cooperação?
A aproximação entre Reino Unido, Brasil e Chile reflete as mudanças no tabuleiro geopolítico global. Para os britânicos, é uma questão de sobrevivência em um mundo multipolar, onde a influência de potências como China e a imprevisibilidade dos Estados Unidos moldam novas dinâmicas. Para Brasil e Chile, é uma chance de diversificar parcerias e fortalecer suas posições regionais e globais. À medida que o Reino Unido busca novos horizontes, a América do Sul se torna um palco estratégico.
Resta saber se essa tríade conseguirá equilibrar interesses mútuos e superar os desafios de um cenário internacional cada vez mais complexo.
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