Queda nos títulos da Raízen revela fragilidades na dívida corporativa brasileira
Investidores recuam de empresas de alto risco em meio a juros elevados e desafios no agronegócio; Maior produtora de biocombustíveis do país reafirma liquidez robusta
As preocupações crescentes com a dívida corporativa no Brasil alcançaram a Raízen, a maior produtora de biocombustíveis do país e joint venture entre a Shell e o conglomerado Cosan (CSAN3), resultando em uma forte desvalorização de seus títulos. Na última semana, os bonds da empresa caíram quase 19%, com os papéis de US$ 1 bilhão com vencimento em 2035 atingindo mínimas históricas, refletindo uma fuga generalizada de investidores de ativos considerados mais arriscados após ondas de liquidação no mercado. Essa turbulência não é isolada: os títulos corporativos brasileiros foram os que mais perderam valor entre os emergentes no último mês, com declínio de 7%, enquanto o índice mais amplo de pares caiu apenas 0,5%.
Antes vista como símbolo do pujante agronegócio brasileiro, a Raízen enfrenta desafios multifacetados, incluindo aumento de custos operacionais, colheitas ruins e investimentos em áreas como etanol de biomassa e combustível sustentável de aviação (SAF) que ainda não geraram retornos significativos. Nos três meses encerrados em 30 de junho de 2025, a companhia consumiu R$ 7 bilhões de sua reserva de caixa, elevando a dívida líquida em 56% em relação ao ano anterior, para R$ 49,2 bilhões.
O custo de serviço da dívida atingiu R$ 1,62 bilhão no período, representando cerca de 86% do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA). lém disso, no primeiro trimestre da safra 2025/26, a Raízen reportou prejuízo líquido de R$ 1,8 bilhão e EBITDA ajustado de R$ 1,89 bilhão, agravando as pressões financeiras.
O cenário é agravado pela taxa Selic em 15%, que impacta todas as empresas brasileiras, mas atinge com mais força companhias altamente endividadas como a Raízen. Operadores do mercado têm recuado, temendo repetir as perdas inesperadas vistas nos títulos da gestora de resíduos Ambipar e da petroquímica Braskem, que sofreram tombos recentes. “Os investidores estão muito nervosos, preferindo atirar primeiro e fazer perguntas depois ao menor sinal de dificuldade”, afirmou Ian McCall, sócio da First Geneva Capital Partners.
Em resposta às especulações, a Raízen emitiu um comunicado na sexta-feira (10 de outubro), negando qualquer plano de reestruturação de dívida ou pedido de recuperação judicial. A empresa destacou manter uma posição de caixa “robusta” de R$ 15,7 bilhões, além de acesso a US$ 1 bilhão em linhas de crédito rotativas, e que discussões sobre uma possível capitalização continuam em andamento.
Na terça-feira (14 de outubro), os títulos recuperaram parte das perdas, subindo mais de 4 centavos de dólar, com rendimento em torno de 9% às 11h em Nova York. No entanto, fontes do mercado indicam que os bonds com vencimento em 2054 caíram até 30% em dois dias, intensificando as preocupações.
Analistas apontam que as garantias financeiras da Raízen podem não ser suficientes para restaurar a confiança em um mercado volátil. “A Raízen — e muitas outras empresas brasileiras — insiste em sua sólida liquidez, mas os investidores estão olhando além do balanço e se concentrando no fluxo de caixa”, observou Juan Manuel Patiño, analista da Sun Capital Valores. “Depois do episódio da Braskem, a narrativa de ‘posição de caixa forte’ já não basta — a credibilidade agora depende da geração sustentável de caixa livre”.
A agência de rating Fitch Ratings traçou paralelos com o colapso da Americanas no início de 2023, que paralisou o mercado de dívida corporativa no Brasil, servindo como lembrete de como o sentimento pode mudar rapidamente.
Apesar das turbulências, a Raízen mantém grau de investimento, com classificação “BBB” tanto pela Fitch Ratings quanto pela S&P Global Ratings — dois níveis acima do especulativo —, embora com perspectiva negativa desde janeiro. “As principais questões dizem respeito à extensão e à duração dessa situação — por quanto tempo a Raízen continuará com alavancagem elevada, com índices acima de 2,5 a 3 vezes, e como isso pode afetar seus indicadores”, explicou Flávia Bedran, analista da S&P. “Se a alavancagem permanecer alta por 12 a 18 meses, podemos tomar uma ação de rebaixamento”, acrescentou ela.
Em agosto, a companhia anunciou “negociações ativas” para um aporte de capital, mas sem avanços divulgados até o momento. A Cosan já descartou injetar novos recursos na subsidiária. Mesmo assim, alguns investidores veem oportunidade na desvalorização: “Os papéis ficaram muito baratos de repente. A Raízen está entrando no território de alto rendimento”, comentou Ian McCall, da First Geneva Capital Partners, que reconsidera uma posição na empresa.
As turbulências no Brasil ecoam em outros mercados emergentes, como a Turquia, sinalizando rachaduras após um período de forte desempenho no setor. No X (antigo Twitter), discussões recentes destacam o impacto, com jornalistas da Bloomberg alertando para a redução de exposição a emissores de risco e podcasts analisando o episódio como parte de uma crise mais ampla no crédito corporativo.
Apesar da queda nos bonds, as ações da Raízen (RAIZ4) registraram alta de 5% na bolsa brasileira nesta terça-feira, sugerindo alguma resiliência no equity.
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Com informações da Bloomberg