PSDB e Podemos selam união para enfrentar cláusula de barreira em 2026
Incorporação aprovada por ampla maioria busca fortalecer siglas e evitar asfixia financeira, mirando renovação e protagonismo político
Em um movimento estratégico para enfrentar a cláusula de barreira e revitalizar sua presença no cenário político brasileiro, o PSDB aprovou, nesta quinta-feira, 5 de junho de 2025, a incorporação do Podemos à sua estrutura partidária. A decisão, tomada em convenção nacional em Brasília, contou com 201 votos a favor e apenas dois contrários, refletindo a urgência de união para estancar a crise que assola os tucanos desde 2018.
Liderada pelo presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, a cúpula do partido agora tem aval para finalizar as negociações com o Podemos e submeter o processo ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na próxima semana. A nova sigla, provisoriamente chamada de "PSDB+Podemos", surge como uma tentativa de reposicionar o tucanato como força política relevante, mirando as eleições de 2026 e um eventual retorno ao protagonismo nacional.
Contexto de crise e declínio
Fundado em 1988, o PSDB foi um dos principais partidos do Brasil, governando o país por dois mandatos com Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e liderando o estado de São Paulo por quase três décadas. No entanto, desde as eleições de 2018, a legenda enfrenta uma crise de identidade e relevância. O pleito de 2022 marcou o pior desempenho eleitoral da história do partido: apenas 13 deputados federais eleitos, nenhum senador, a perda do governo paulista e a ausência de um candidato próprio à Presidência pela primeira vez desde 1989.
A debandada de quadros agravou o cenário. Em 2023, dois dos três governadores eleitos pelo PSDB em 2022 — Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e Raquel Lyra (Pernambuco) — migraram para o PSD. O único governador remanescente, Eduardo Riedel (Mato Grosso do Sul), é cortejado por outras legendas, mas declarou apoio à incorporação do Podemos durante a convenção, enfatizando a necessidade de fortalecer o partido. “Que a gente continue fortalecendo o nosso partido”, afirmou Riedel, sinalizando que sua permanência está condicionada ao sucesso das negociações.
A federação com o Cidadania, formada em 2022 para superar a cláusula de barreira, não trouxe os resultados esperados. O Cidadania, que também enfrenta dificuldades, anunciou o rompimento da aliança, mas, pelas regras eleitorais, a separação só poderá ocorrer em 2026 sem penalidades. A incorporação do Podemos foi escolhida como alternativa para contornar essas restrições, permitindo que o PSDB mantenha sua estrutura jurídica enquanto absorve o Podemos.
Cláusula de Barreira: O motor da união
A cláusula de barreira, instituída pela Emenda Constitucional 97/2017, é o principal catalisador da incorporação. A partir de 2026, partidos ou federações precisarão alcançar 2,5% dos votos válidos para a Câmara dos Deputados, distribuídos em pelo menos nove estados (com mínimo de 1,5% em cada), ou eleger 13 deputados federais em pelo menos nove estados. O descumprimento implica a perda de acesso ao fundo partidário, ao fundo eleitoral e ao tempo de propaganda em rádio e TV, recursos indispensáveis para a sobrevivência política.
Em 2022, o PSDB, com 13 deputados, e o Podemos, com 12, superaram a cláusula, mas o risco de não alcançá-la em 2026 é iminente. Juntos, os partidos somam 25 deputados eleitos (28 em números atuais, com migrações) e sete senadores, formando a sétima maior bancada na Câmara e a quarta no Senado. A união garante a sexta maior fatia do fundo eleitoral (R$ 384,6 milhões em 2024) e a oitava do fundo partidário (R$ 77 milhões em 2024), além de maior tempo de propaganda.
Segundo o cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, em entrevista ao jornal O Globo, a incorporação é uma questão de “sobrevivência” para ambas as siglas. “O PSDB perdeu musculatura e o Podemos, embora tenha crescido, não tem estrutura para enfrentar a cláusula sozinho. A união é pragmática e pode atrair deputados na janela partidária”, analisou. A janela, período em que parlamentares podem mudar de partido sem perder o mandato, será uma oportunidade para o PSDB+Podemos ampliar sua bancada.
Um novo PSDB no centro político
A incorporação é vista como um marco para a renovação do PSDB. O deputado Aécio Neves, presidente do Instituto Teotônio Vilela, afirmou que o partido busca “radicalizar no centro”, posicionando-se como alternativa ao PT de Lula e ao PL de Bolsonaro. Bonés distribuídos na convenção com o slogan “Radical no que importa” reforçam essa mensagem. Aécio destacou que tucanos históricos, como o ex-governador José Serra, estão sendo convidados a retornar para contribuir na reformulação do programa partidário.
Marconi Perillo anunciou que o PSDB+Podemos será sustentado por quatro pilares:
Combate à desigualdade social: Foco em políticas inclusivas para reduzir disparidades.
Equilíbrio fiscal: Defesa da responsabilidade financeira e controle das contas públicas.
Gestão eficiente de políticas públicas: Ênfase em resultados e transparência.
Reformas estruturais: Apoio a mudanças como a tributária e administrativa.
“É hora de atualizar o nosso jeito de fazer política, usando nossa experiência para construir soluções para o presente e o futuro. O Brasil mudou, e o PSDB está mudando também”, declarou Perillo. Aécio projeta que a nova sigla pode eleger até 50 deputados em 2026, recuperando espaço no Congresso e pavimentando o caminho para disputar a Presidência.
Desafios da incorporação
Apesar do entusiasmo, a integração enfrenta obstáculos. Questões como o número de urna (45 do PSDB ou 20 do Podemos) e a governança do novo partido ainda geram divergências. O PSDB busca preservar sua identidade histórica, ligada ao Plano Real e à social-democracia, enquanto o Podemos, fundado em 2016, traz um perfil mais dinâmico, com figuras como o senador Alvaro Dias e a deputada Renata Abreu. A conciliação de lideranças regionais e a distribuição de poder interno serão cruciais.
A relação com o Cidadania também exige cuidado. Embora a federação esteja fadada ao fim, o rompimento precoce pode gerar contestações judiciais. Dirigentes tucanos acreditam que a incorporação, por manter a estrutura do PSDB, minimiza esses riscos. O TSE deve avaliar o processo até outubro, e a expectativa é de aprovação sem entraves.
Impactos regionais e eleitorais
A união tem potencial para reconfigurar o cenário político em estados onde PSDB e Podemos têm força. No Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel é um trunfo para o PSDB, mas sua permanência depende do sucesso da nova sigla. Em São Paulo, o PSDB tenta recuperar o terreno perdido para o PL, que cresceu com o bolsonarismo. No Paraná, berço do Podemos, a fusão pode fortalecer a oposição ao governo estadual.
O Estadão destacou que a nova sigla terá 405 prefeituras, a sétima maior rede municipal do país, o que amplia sua capilaridade para 2026. A possibilidade de atrair deputados na janela partidária e filiar novos quadros, como prefeitos e vereadores, é outro fator de otimismo.
Em Rondônia, o ex-prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves deve migrar do PSDB para outra legenda, já que o Podemos no Estado é liderado pelo atual prefeito da capital, Léo Moraes.
Reações e perspectivas
Nas redes sociais, a decisão gerou reações mistas. Usuários no X elogiaram a tentativa de renovação do PSDB, mas outros questionaram se a incorporação será suficiente para superar a polarização Lula-Bolsonaro. Um post do perfil @PoliticaBR destacou: “O PSDB+Podemos pode ser uma alternativa ao centro, mas precisa de nomes fortes e um discurso claro para reconquistar o eleitor”. Já o perfil @Eleicoes2026 alertou: “A cláusula de barreira vai obrigar mais fusões. Quem não se adaptar, desaparece”.
Analistas como André Singer, em coluna na Folha de S.Paulo, apontam que o centro político enfrenta dificuldades em um Brasil polarizado, mas a união pode dar ao PSDB+Podemos uma base financeira e eleitoral para competir. O desafio será construir uma narrativa que ressoe com eleitores desencantados com os extremos.
Um futuro em construção
A incorporação do Podemos é um divisor de águas para o PSDB, que busca sair da sombra do declínio e recuperar sua vocação de protagonista. A nova sigla nasce com a missão de unir a experiência tucana à energia do Podemos, mas o sucesso dependerá de sua capacidade de harmonizar interesses, atrair lideranças e dialogar com a sociedade. Com a aprovação no TSE prevista para outubro, o PSDB+Podemos já se prepara para 2026, com ambições que vão desde fortalecer bancadas até sonhar com o Planalto.
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