Presidente dos Correios deve encontrar Lula nesta quarta; Rui Costa pressionou por mudanças
Saída do presidente da estatal reflete crise financeira e articulações políticas para fortalecer laços com o congresso
Na última sexta-feira (3), Fabiano Silva dos Santos, presidente dos Correios, entregou sua carta de demissão ao Palácio do Planalto, marcando um novo capítulo na crise que envolve a estatal brasileira.
A decisão, ainda pendente de oficialização após uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), prevista para quarta-feira (9), foi impulsionada por pressões do ministro da Casa Civil, Rui Costa, segundo fontes do governo federal.
A movimentação reflete não apenas os desafios financeiros enfrentados pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, mas também uma estratégia política para alinhar o governo com o Congresso Nacional, em um momento de tensões com o Legislativo.
Fabiano Silva, advogado ligado ao grupo Prerrogativas e com experiência em previdência complementar, assumiu a presidência dos Correios no início de 2023. Sua gestão, no entanto, foi marcada por dificuldades financeiras, com a estatal registrando um prejuízo de R$ 2,6 bilhões em 2024 e R$ 1,7 bilhão apenas no primeiro trimestre de 2025. Esses números acenderam alertas no governo, que teme a necessidade de aportes da União para manter a operação da empresa.
Além disso, Silva enfrentou resistências internas e externas, incluindo embates com Rui Costa, que cobrava medidas drásticas de reestruturação, como o fechamento de agências e possíveis demissões em massa, o que poderia afetar até 10 mil funcionários, segundo especulações.
A Casa Civil, no entanto, nega ter proposto desligamentos em larga escala. A pressão para a saída de Silva também teve forte componente político. Segundo interlocutores da Casa Civil, Rui Costa articulou a substituição do presidente dos Correios por um nome indicado pelo União Brasil, partido do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). A movimentação é vista como uma tentativa de melhorar as relações do Planalto com o Congresso, especialmente após a recente crise envolvendo a derrubada do decreto do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), liderada por Alcolumbre e pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
A liberação de cerca de R$ 26 milhões em emendas parlamentares para Alcolumbre, logo após o episódio do IOF, reforça a percepção de que cargos estratégicos, como a presidência dos Correios, estão sendo usados como moeda de negociação para garantir apoio político.
O União Brasil, que já controla os ministérios das Comunicações, Turismo e Integração e Desenvolvimento Regional, vê na presidência dos Correios uma oportunidade de ampliar sua influência na administração pública federal. Alcolumbre, um dos principais articuladores do partido, tem defendido a nomeação de um aliado para o comando da estatal, que está subordinada ao Ministério das Comunicações, também controlado pela legenda.
Essa articulação, no entanto, não contou com a participação da ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, que teria pedido cautela antes de qualquer decisão final. A crise nos Correios não é novidade. Além dos prejuízos bilionários, a estatal enfrenta desafios relacionados a mudanças no mercado, como o impacto do novo marco regulatório para compras internacionais, que afetou suas receitas, e a necessidade de modernização para competir com empresas privadas de logística.
Fabiano Silva, em sua defesa, atribuiu parte dos problemas financeiros à herança da gestão anterior, durante o governo de Jair Bolsonaro, mas as críticas à sua administração se intensificaram. Entre as controvérsias, está a demissão, em fevereiro, da ex-diretora financeira Maria do Carmo Lara Perpétuo, após o prejuízo recorde de 2024. A saída de Silva também gerou reações entre os trabalhadores da estatal.
Em postagens nas redes sociais, representantes sindicais manifestaram preocupação com a possibilidade de reestruturações que incluam demissões e vendas de patrimônio. A Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos (Fentect) reagiu à pressão da Casa Civil, destacando a resistência dos funcionários a medidas que possam comprometer o caráter público da empresa.
A reunião entre Fabiano Silva e o presidente Lula será decisiva para definir os rumos da estatal. Enquanto o governo busca um nome alinhado ao União Brasil para assumir o comando, a expectativa é que o novo presidente enfrente o desafio de equilibrar a recuperação financeira dos Correios com a manutenção de sua relevância como serviço público essencial.
A escolha também será um teste para a habilidade de Rui Costa em articular os interesses do Planalto com as demandas do Congresso, em um cenário político cada vez mais complexo.
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