Presidente da Colômbia manda EUA 'não se intrometer em assuntos judiciais de seu país'
Presidente da Colômbia reage a críticas do secretário de Estado dos EUA, acusando-o de interferir na justiça do país, em meio a tensões diplomáticas envolvendo a condenação de Álvaro Uribe
Em uma contundente resposta ao secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, condenou o que classificou como uma "intromissão" inaceitável nos assuntos judiciais de seu país.
A declaração, publicada em 28 de julho de 2025 na rede social X, veio após Rubio criticar a condenação do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe por manipulação de testemunhas, chamando-a de "instrumentalização do poder judicial por juízes radicais". Petro, em tom firme, defendeu a independência da justiça colombiana e pediu solidariedade às associações de juízes e trabalhadores do poder judicial dos EUA, destacando a luta histórica do país contra o narcotráfico e a violência.
O embate teve início após a decisão da juíza Sandra Liliana Heredia, do 44º Distrito Penal de Bogotá, que declarou Uribe culpado em 28 de julho de 2025. Segundo a sentença, o ex-presidente, que governou a Colômbia entre 2002 e 2010, pressionou e pagou paramilitares presos para alterar depoimentos que o desfavoreciam. A condenação marcou Uribe como o primeiro ex-chefe de Estado colombiano a receber uma sentença em um processo criminal, intensificando o já polarizado clima político no país.
Rubio, conhecido por suas posições conservadoras e por críticas frequentes a governos de esquerda na América Latina, afirmou em sua conta no X que a decisão contra Uribe estabelece "um precedente preocupante" e que o ex-presidente "lutou incansavelmente e defendeu sua pátria". A deputada norte-americana María Elvira Salazar, também da Flórida, ecoou as críticas, chamando a condenação de "infâmia". Essas declarações geraram reações imediatas na Colômbia, com Petro acusando os EUA de desrespeitarem a soberania nacional e a luta de juízes, magistrados e promotores colombianos, muitos dos quais, segundo ele, foram assassinados em sua batalha contra o narcotráfico.
"Decenas de jueces magistrados, fiscales han sido asesinados en su lucha contra el narcotráfico, y las relaciones del narcotráfico y el estado colombiano. Mucha valentía colombiana muriendo asesinada por ayudar a los EEUU, para que, ahora, el gobierno de los EEUU, venga a irrespetarla", escreveu Petro no X.
Ele ainda pediu que a embaixada dos EUA em Bogotá se abstivesse de interferir na justiça colombiana e solicitou apoio de associações judiciais americanas à independência do Judiciário do país
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Contexto político e tensões regionais
A troca de farpas entre Petro e Rubio reflete um momento de alta tensão política, não apenas na Colômbia, mas também na relação entre os EUA e governos de esquerda na América Latina. Petro, o primeiro presidente esquerdista da história colombiana, eleito em 2022, tem enfrentado forte oposição de setores conservadores, incluindo o partido Centro Democrático, liderado por Uribe. As reformas propostas por Petro, como a trabalhista e a política, têm gerado intensos debates, com críticos acusando-o de autoritarismo, especialmente após sua tentativa de convocar uma consulta popular por decreto, rejeitada pelo Congresso.
A condenação de Uribe, um ícone da direita colombiana e mentor político de figuras como o senador Miguel Uribe (não relacionado familiarmente), intensificou essas divisões. Miguel Uribe, pré-candidato à presidência em 2026, foi alvo de um atentado em 7 de junho de 2025, baleado na cabeça durante um comício em Bogotá. O caso, que chocou o país, foi condenado por Rubio, que responsabilizou o governo Petro pelo clima de violência política, uma acusação que analistas consideram exagerada, mas que reflete o alinhamento de Rubio com setores conservadores colombianos e brasileiros, como a família Bolsonaro.
No Brasil, Rubio tem se aproximado de figuras como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), com quem mantém contato desde 2018. Recentemente, Rubio anunciou restrições de vistos a autoridades estrangeiras acusadas de censurar cidadãos americanos, uma medida interpretada como um recado ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, alvo de críticas de Eduardo Bolsonaro. A Procuradoria-Geral da República brasileira investiga o deputado por supostamente articular sanções contra o STF nos EUA, o que reforça a percepção de Rubio como um aliado de movimentos de direita na região.
Histórico de violência e a luta judicial colombiana
A resposta de Petro a Rubio também traz à tona o histórico de violência contra o Judiciário na Colômbia. Durante as décadas de 1980 e 1990, o país viveu um período de extrema violência política, com assassinatos de candidatos presidenciais, como Luis Carlos Galán (1989), Bernardo Jaramillo Ossa e Carlos Pizarro Leongómez (1990), além de ataques a juízes e promotores que investigavam o narcotráfico. A mãe de Miguel Uribe, a jornalista Diana Turbay, foi sequestrada e assassinada em 1991 pelo Cartel de Medellín, liderado por Pablo Escobar, um episódio narrado no livro Notícias de um Sequestro, de Gabriel García Márquez.
Petro destacou esse passado em sua mensagem, enfatizando o sacrifício de magistrados colombianos em colaboração com os EUA na luta contra o narcotráfico. Dados da fundação Insight Crime mostram que, embora a taxa de homicídios na Colômbia tenha caído para 25,4 por 100 mil habitantes em 2024, a mais baixa em quatro anos, o país ainda enfrenta altos índices de violência contra líderes políticos e sociais, o que torna a crítica de Rubio particularmente sensível.
Reações e implicações internacionais
A condenação de Uribe também gerou reações nos EUA, onde ele mantém aliados influentes, como o deputado Mario Díaz-Balart, presidente do subcomitê que gere verbas internacionais. Recentemente, esse comitê aprovou um corte de 50% na ajuda financeira dos EUA à Colômbia, uma decisão que pode estar ligada às tensões com o governo Petro.
No X, as reações foram polarizadas. Usuários como @HoyNarino destacaram a defesa de Petro da independência judicial, enquanto @PIAnoticias reproduziu as críticas de Rubio à justiça colombiana. Outros, como @andrematheus85, classificaram as declarações de Rubio como uma nova forma de "imperialismo legal", apontando para uma interferência externa nos assuntos internos da Colômbia.
Analistas, como Yann Basset, da Universidade de Rosário, observam que o estilo confrontacional de Petro, marcado por longas postagens no X e discursos agressivos contra opositores, pode agravar essas tensões. No entanto, Laura Bonilla, da Fundação Paz e Reconciliação, alerta contra comparações precipitadas com a violência política dos anos 1980, argumentando que, apesar do atentado contra Miguel Uribe, o cenário atual é menos dominado pelo narcotráfico.
Um chamado à reflexão
O embate entre Petro e Rubio não é apenas uma disputa diplomática, mas um reflexo das profundas divisões políticas na Colômbia e das tensões entre os EUA e governos de esquerda na América Latina. A defesa de Petro da soberania judicial colombiana ressoa como um apelo à memória de um país que enfrentou décadas de violência para construir uma democracia mais robusta.
Enquanto isso, as críticas de Rubio reforçam sua posição como uma figura influente na política externa de Donald Trump, com impactos que podem reverberar além das fronteiras colombianas.
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