PF indicia Bolsonaro e mais 36 pessoas por tentativa de golpe de Estado
Ex-presidente e aliados são acusados de planejar ações para impedir posse de Lula; lista inclui militares de alta patente e políticos do alto escalão
A Polícia Federal concluiu nesta quinta-feira (21) uma das maiores investigações da história política do Brasil, indiciando 37 pessoas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, por supostamente participarem de uma trama golpista para impedir a transição democrática após as eleições de 2022. Os investigados responderão pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
O relatório final, enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), é resultado de uma investigação minuciosa que se estendeu por dois anos. Durante este período, a PF reuniu um extenso conjunto probatório obtido através de diferentes meios investigativos, incluindo quebras de sigilos telemáticos, telefônicos, bancários e fiscais, além de colaborações premiadas e material apreendido em diversas operações.
Entre os indiciados de maior expressão política estão:
Jair Messias Bolsonaro (ex-presidente da República)
Walter Braga Netto (ex-ministro da Defesa e candidato a vice)
Valdemar Costa Neto (presidente do PL)
Anderson Torres (ex-ministro da Justiça)
General Augusto Heleno (ex-ministro do GSI)
Alexandre Ramagem (deputado federal)
Mauro Cid (ex-ajudante de ordens)
Lista completa dos 37 indiciados:
Ailton Gonçalves Moraes Barros
Alexandre Castilho Bitencourt da Silva
Alexandre Rodrigues Ramagem
Almir Garnier Santos
Amauri Feres Saad
Anderson Gustavo Torres
Anderson Lima de Moura
Angelo Martins Denicoli
Augusto Heleno Ribeiro Pereira
Bernardo Romao Correa Netto
Carlos Cesar Moretzsohn Rocha
Carlos Giovani Delevati Pasini
Cleverson Ney Magalhães
Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira
Fabrício Moreira de Bastos
Filipe Garcia Martins
Fernando Cerimedo
Giancarlo Gomes Rodrigues
Guilherme Marques de Almeida
Hélio Ferreira Lima
Jair Messias Bolsonaro
José Eduardo de Oliveira e Silva
Laercio Vergilio
Marcelo Bormevet
Marcelo Costa Câmara
Mario Fernandes
Mauro Cesar Barbosa Cid
Nilton Diniz Rodrigues
Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho
Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
Rafael Martins de Oliveira
Ronald Ferreira de Araujo Junior
Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros
Tércio Arnaud Tomaz
Valdemar Costa Neto
Walter Souza Braga Netto
Wladimir Matos Soares
Contexto e Desdobramentos
A investigação revelou a existência de núcleos específicos de atuação, incluindo um grupo de assessoramento direto ao ex-presidente, um núcleo jurídico, um de desinformação e outro operacional. As provas coletadas apontam para reuniões realizadas no Palácio da Alvorada e em instalações militares, onde teriam sido discutidas estratégias para impedir a posse do presidente eleito.
O indiciamento representa uma etapa importante do processo judicial, mas não significa condenação automática. O Ministério Público Federal agora analisará o relatório para decidir se oferece denúncia contra os investigados, dando início à ação penal.
Se condenados, os acusados podem enfrentar penas que, somadas, ultrapassam 20 anos de prisão. O crime de abolição violenta do Estado Democrático de Direito prevê pena de 4 a 8 anos de prisão, enquanto o de golpe de Estado pode resultar em reclusão de 6 a 12 anos.
Repercussão
A conclusão do inquérito gerou forte repercussão no meio político e jurídico. Parlamentares da oposição questionam a fundamentação das acusações, enquanto a base governista considera o indiciamento como uma vitória para a democracia brasileira.
O caso representa um marco histórico na política brasileira, sendo a primeira vez que um ex-presidente é indiciado por tentativa de golpe de Estado. A conclusão desta fase da investigação abre caminho para um dos processos mais significativos da história recente do país.