PF desmantela esquema bilionário de corrupção na mineração
Operação Rejeito expõe rede de propinas que fraudou licenças ambientais e gerou R$ 1,5 bilhão em lucros ilícitos em Minas Gerais
A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quarta-feira (17 de setembro de 2025) a Operação Rejeito, uma ação conjunta com a Controladoria-Geral da União (CGU), o Ministério Público Federal (MPF) e a Receita Federal, que resulta na prisão de 14 investigados, incluindo o diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM), Caio Mário Trivellato Seabra Filho.
O esquema, que movimentou pelo menos R$ 1,5 bilhão em lucros ilícitos, envolvia a fraude de licenças ambientais para exploração ilegal de minério de ferro em áreas protegidas, gerando riscos ambientais graves e potenciais desastres socioambientais em Minas Gerais. Com 22 mandados de prisão preventiva e 79 de busca e apreensão, a operação revela como uma organização criminosa corrompeu servidores públicos federais e estaduais, comprometendo a fiscalização ambiental no coração da mineração brasileira.
A sombra da corrupção no setor mineral brasileiro
O setor de mineração no Brasil é um pilar da economia nacional, responsável por cerca de 10% do PIB e exportações que superam US$ 40 bilhões anualmente, segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM). No entanto, Minas Gerais, o maior produtor de minério de ferro do país, tem sido palco de escândalos recorrentes, desde o rompimento da barragem de Brumadinho em 2019, que matou 270 pessoas e expôs falhas na regulação ambiental.
A Operação Rejeito surge em um momento crítico, apenas seis anos após aquele desastre, e destaca a persistência de fraudes em licenças ambientais, que facilitam a exploração em áreas de preservação, como a Serra do Curral e o Parque Estadual da Serra do Rola Moça.
A investigação, iniciada em 2020 pela PF, identificou um conglomerado de mais de 40 empresas, liderado pela holding Minerar S/A, que atuava na extração ilegal de minério de ferro. Esses grupos criminosos exploravam vulnerabilidades nos órgãos reguladores, como a ANM, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e a Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas (FEAM), para obter autorizações fraudulentas. O contexto é agravado pela pressão econômica: com a demanda global por minério em alta devido à transição energética, o setor atrai interesses bilionários, mas a fiscalização fraca abre portas para a corrupção.
Relatórios da CGU apontam que, entre 2020 e 2025, mais de 200 processos de licenciamento ambiental em Minas Gerais foram questionados por irregularidades, alimentando um ciclo de impunidade que ameaça ecossistemas frágeis. Essa rede não é isolada. Ela ecoa casos como a Operação Lava Jato, que revelou propinas na Petrobras, e operações mais recentes contra garimpo ilegal na Amazônia.
Em 2025, com o governo federal priorizando a mineração sustentável via Política Nacional de Mineração, a operação expõe falhas sistêmicas, questionando a efetividade das reformas regulatórias implementadas após Brumadinho.
Dados oficiais: Escala da operação e os números do esquema
De acordo com a PF, a Operação Rejeito cumpriu 22 mandados de prisão preventiva, dos quais 14 foram executados até o momento, com três foragidos. Além disso, 79 mandados de busca e apreensão foram realizados em Belo Horizonte e outras cidades de Minas Gerais, incluindo Brasília, onde a sede da ANM foi alvo.
A Justiça Federal determinou o sequestro e bloqueio de bens no valor de R$ 1,5 bilhão, atingindo pessoas físicas e jurídicas envolvidas. Projetos em andamento ligados ao grupo têm potencial econômico estimado em mais de R$ 18 bilhões, segundo relatórios preliminares da investigação.
Entre os presos, destacam-se:
Caio Mário Trivellato Seabra Filho, diretor da ANM, nomeado em dezembro de 2023 e responsável por áreas técnicas na agência. Ele é acusado de manipular decisões administrativas para favorecer empresas do esquema, recebendo propinas via escritório de advocacia.
Rodrigo de Melo Teixeira, ex-diretor da Polícia Federal na Diretoria de Polícia Administrativa e cedido à Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), suspeito de ser sócio oculto em empresas mineradoras.
Arthur Ferreira Rezende Delfim, diretor da FEAM.
Breno Esteves Lasmar, diretor do Instituto Estadual de Florestas (IEF).
Fernando Benício de Oliveira Paula, integrante do Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM).
Os empresários no topo da pirâmide incluem Alan Cavalcante do Nascimento, apontado como líder do grupo e coordenador de pagamentos de propina; Helder Adriano de Freitas, sócio na Mineração Gute Sight LTDA e articulador com servidores; e João Alberto Paixão Lages, ex-deputado estadual e responsável por relações interinstitucionais.
O grupo operava via um chat de WhatsApp chamado "Três Amigos Mineração", onde coordenavam fraudes. A PF estima que mais de R$ 3 milhões em propinas foram pagos a agentes públicos, incluindo mesadas mensais para garantir aprovações rápidas. Os crimes investigados incluem corrupção ativa e passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro, crimes ambientais e usurpação de bens da União. A CGU identificou fraudes em processos da ANM que alteraram resoluções para beneficiar empresas como a Aiga Mineração, permitindo a exploração de rejeitos de minério em áreas da Vale.
Uma linha do tempo dos principais eventos ilustra a cronologia do esquema:
2020: Início do inquérito pela PF, após denúncias de irregularidades em licenças ambientais em Minas Gerais.
Novembro de 2020 a maio de 2022: Criação de dezenas de empresas de fachada pelo grupo, expansão da rede de corrupção para órgãos como IPHAN e FEAM.
2019-2023: Contatos iniciais de Guilherme Santana Lopes, ex-diretor da ANM, com o grupo, facilitando aprovações.
Novembro de 2024: Caio Mário Seabra altera resolução da ANM em reunião, após receber instruções via WhatsApp de Alan Cavalcante, favorecendo a Aiga Mineração.
Fevereiro de 2023: Débora França, ex-superintendente do IPHAN em Minas Gerais, atua para liberar áreas tombadas.
17 de setembro de 2025: Deflagração da Operação Rejeito, com prisões e bloqueios.
Esses dados, extraídos de relatórios oficiais da PF e CGU, pintam um quadro de corrupção sistêmica que comprometeu a integridade regulatória.
Análises: Como a fraude em licenças ambiental afeta o setor de Mineração
A análise da Operação Rejeito revela um padrão alarmante: a captura de agências reguladoras por interesses privados. Especialistas em direito ambiental, como o procurador da República em Belo Horizonte, Carlos Bruno, destacam que fraudes em licenças não só geram lucros ilícitos, mas também elevam riscos de desastres. "A exploração em áreas tombadas, como a Serra do Curral, ignora estudos de impacto ambiental, aumentando a chance de rompimentos de barragens e contaminação de rios", afirma ele em entrevista ao G1.
De acordo com relatório da Transparência Internacional de 2025, o Brasil ocupa a 104ª posição no Índice de Percepção de Corrupção, com o setor de recursos naturais sendo o mais vulnerável. A corrupção em licenças ambientais custa ao país bilhões em danos ecológicos: apenas em Minas Gerais, multas ambientais não pagas somam R$ 2 bilhões desde 2020, per IBAMA. A PF aponta que o esquema usava fraudes documentais para simular conformidade, como relatórios falsos de impacto ambiental, permitindo extrações em zonas de alto risco.
Economicamente, o impacto é duplo. Enquanto o grupo lucrou R$ 1,5 bilhão, o Estado perde receitas fiscais e enfrenta custos de remediação. Um estudo do IBRAM de 2025 estima que a mineração ilegal representa 5% da produção total, equivalendo a R$ 10 bilhões anuais em evasão. Ambientalmente, a exploração ilegal agrava a degradação: perda de biodiversidade em áreas protegidas e contaminação por metais pesados em aquíferos, afetando comunidades indígenas e ribeirinhas.
A CGU calcula que os projetos fraudulentos poderiam ter gerado R$ 18 bilhões, mas com externalidades negativas como enchentes e deslizamentos, semelhantes ao de Brumadinho. Analistas políticos veem nisso uma falha na governança. O esquema envolveu servidores de gestões passadas e atuais, questionando a nomeação para a ANM. "Isso expõe a necessidade de auditorias independentes em agências reguladoras", diz o ambientalista Janete Melo, geógrafa e comunicadora socioambiental, em postagem no X.
A operação também destaca o papel de intermediários, como o "homem da mala" Felipe Lombardi Martins, que transportava propinas em espécie, ilustrando a sofisticação do crime organizado no setor.
Opinião de especialistas: Vozes críticas ao sistema regulatório
Especialistas consultados reforçam a gravidade do caso. O procurador Carlos Bruno, coordenador da força-tarefa ambiental de Brumadinho, critica a lentidão na regulação: "A corrupção na ANM não é pontual; é estrutural. Servidores de alto escalão, como Seabra, usam sua posição para ditar agendas privadas, traindo o interesse público".
Ele aponta que, desde 2019, leis como a Lei 13.575/2017, que criou a ANM, falharam em implementar controles rigorosos, permitindo infiltrações. A engenheira ambiental Marina Lacôrte, do Instituto Socioambiental (ISA), analisa os impactos ecológicos: "Explorações em áreas como a Estação Ecológica de Cercadinho destroem habitats de espécies endêmicas e aumentam o risco de desastres, como visto em Mariana e Brumadinho. Isso não é só crime; é ecocídio". Seu relatório de 2025, citado pela CNN Brasil, estima que fraudes em licenças causam 20% dos desmatamentos em Minas Gerais.
Do lado econômico, o professor de direito minerário da USP, Ricardo Bielschowsky, opina: "O bloqueio de R$ 1,5 bilhão é um passo, mas sem reformas na fiscalização, como uso de IA para monitorar licenças, o setor continuará vulnerável". Ele refere-se a um estudo do Banco Mundial de 2025, que recomenda digitalização para reduzir corrupção em 30%. No X, jornalistas como o do Blog do Noblat ecoam: a prisão de um diretor da ANM sinaliza "o colapso da confiança regulatória".
A ANM, em nota oficial, reagiu: "Até o momento, não houve comunicação oficial à Agência sobre eventuais medidas envolvendo servidores ou dirigentes. A ANM reitera seu compromisso com a legalidade, a transparência e a colaboração com as autoridades". No entanto, especialistas como Bruno questionam a efetividade, dado o histórico de omissões.
Implicações futuras: Riscos ambientais e reformas urgentes
As repercussões da Operação Rejeito vão além das prisões. Ambientalmente, a suspensão das atividades das 40 empresas pode mitigar danos imediatos, mas relatórios da PF alertam para legados: contaminação de solos e rios por mercúrio e ferro, afetando o abastecimento de água para milhões em Belo Horizonte. Um estudo do IBAMA de 2025 projeta que, sem remediação, custos ambientais podem ultrapassar R$ 5 bilhões nos próximos dez anos, com riscos de novas enchentes em áreas degradadas.
Politicamente, a operação pressiona o governo federal. Com Caio Seabra nomeado recentemente, há demandas por investigações no alto escalão da ANM. O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, exonerou o ex-presidente da FEAM, Rodrigo Gonçalves Franco, dias antes da operação, sugerindo alertas prévios.
Internacionalmente, o caso pode impactar investimentos: a União Europeia, que exige padrões ESG para importações de minério, pode impor sanções, como visto em relatórios de 2025 sobre mineração brasileira. Futuramente, implicações incluem reformas: propostas para anistia fiscal a delatores e uso de blockchain em licenças, como sugerido pela CGU. No entanto, sem punições exemplares, o ciclo persiste. Economistas preveem que a operação pode estabilizar o mercado, recuperando R$ 1,5 bilhão para o erário, mas o setor precisa de transparência para atrair US$ 50 bilhões em investimentos até 2030, per IBRAM.
A longo prazo, o risco de desastres como Brumadinho persiste se a corrupção não for erradicada.
Comunidades afetadas, como as de Itabira, demandam indenizações, e ONGs como o Greenpeace cobram moratória em novas licenças em áreas sensíveis.
Um alerta para a fragilidade da Governança Ambiental
A Operação Rejeito não é mero episódio policial; é um espelho da fragilidade institucional no Brasil. Enquanto o país se orgulha de ser potência mineral, esquemas como esse corroem a credibilidade, priorizando lucros privados sobre o bem comum. A prisão de Caio Seabra e aliados expõe como o poder regulatório, destinado a proteger, vira ferramenta de destruição.
Críticos como Janete Melo argumentam que isso reflete uma cultura de impunidade, onde desastres ambientais viram rotina. Precisamos de reformas profundas – auditorias independentes, punições severas e participação social – para que a mineração sirva ao desenvolvimento sustentável, não à ganância. Caso contrário, o próximo rompimento será inevitável, e o custo, pago pela sociedade.
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