Petrobras de volta ao mercado de GLP: Impactos e polêmicas no setor de gás de cozinha
Como o retorno da estatal ao setor de distribuição pode transformar preços, concorrência e políticas públicas no Brasil
A Petrobras (PETR3, PETR4) está considerando um retorno ao setor de distribuição de gás liquefeito de petróleo (GLP), popularmente conhecido como gás de cozinha. Esse movimento, anunciado no início de agosto de 2025, pode alterar profundamente a dinâmica do mercado brasileiro, que hoje é dominado por empresas como Ultragaz, Copa Energia, Supergasbras e Nacional Gás.
Com a estatal controlando mais de 90% da oferta doméstica de GLP, sua volta à distribuição levanta debates sobre concorrência, preços ao consumidor e possíveis implicações políticas, especialmente em um ano que antecede eleições municipais.
Neste artigo, exploramos os detalhes desse plano, os impactos esperados no mercado e as controvérsias que já começam a surgir, incluindo questionamentos no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Baseamo-nos em informações da Bloomberg Línea e buscamos dados complementares em fontes confiáveis para trazer um panorama completo sobre o tema.
A saída e o retorno da Petrobras
A Petrobras deixou o setor de distribuição de GLP em 2020, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, como parte de uma estratégia de desinvestimento de ativos considerados “não core” – ou seja, não relacionados à atividade principal de exploração e produção de petróleo e gás. Na época, a estatal vendeu a Liquigás para um consórcio de empresas, transferindo sua participação no mercado de distribuição.
Atualmente, o mercado é liderado por quatro grandes players: Copa Energia, com cerca de 25% do total, seguida por Ultragaz (Grupo Ultra - UGPA3), Supergasbras e Nacional Gás, que juntas concentram 90% da distribuição no Brasil. No entanto, a produção e importação de GLP continuam sob domínio quase absoluto da Petrobras, que também define os preços de atacado no país.
No início de agosto de 2025, a CEO da Petrobras, Magda Chambriard, anunciou o interesse da companhia em retornar ao setor de distribuição, embora tenha destacado que, por enquanto, não há negociações concretas. Em declaração a investidores no dia 8 de agosto, ela afirmou: “Somos uma empresa que nasceu integrada. A Petrobras tem 71 anos e se tornou o que é porque justamente era uma empresa do poço ao posto”. Já o diretor de logística, comercialização e mercados, Claudio Schlosser, complementou: “Nós vamos ter um aumento da produção de GLP. A distribuição é a forma mais rentável para a Petrobras”.
Impactos no mercado e na concorrência
O retorno da Petrobras ao setor de distribuição de GLP traz uma série de implicações. Como principal fornecedora do produto no Brasil, a estatal poderia competir diretamente com as empresas que hoje dominam o mercado, levantando preocupações sobre práticas comerciais justas. Rivaldo Moreira Neto, diretor sênior da A&M Infra, questiona: “Se a Petrobras vai vender para os seus competidores, como garantir isonomia às transações? O incentivo é muito baixo para facilitar a vida de seus concorrentes”.
Outro ponto destacado por especialistas é a possível intervenção do Cade. Moreira Neto acredita que o tema deve chegar ao órgão antitruste, já que o mercado de GLP não é regulado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) em termos de tarifas. “As condições de competição serão questionadas pelos players, principalmente porque este não é um mercado regulado. A grande questão é como garantir práticas justas”, alerta o executivo.
Um precedente recente reforça essas preocupações. Em 2023, a Acelen, braço de energia do fundo soberano de Abu Dhabi Mubadala, recorreu ao Cade acusando a Petrobras de “abuso de poder dominante” nas condições de compra de petróleo para a refinaria Mataripe, na Bahia. Esse caso ilustra como a atuação da estatal em diferentes elos da cadeia pode gerar conflitos com concorrentes.
Possíveis efeitos nos preços e no consumidor
O GLP é um produto de alta relevância social no Brasil, presente na maioria dos lares para a cocção de alimentos. Segundo a consultoria britânica Argus, o consumo residencial representa 68% da demanda total de GLP no país, que chega a 7,6 milhões de toneladas por ano. Mensalmente, são vendidos cerca de 35 milhões de botijões de 13 kg, e o GLP corresponde a 21% da matriz energética residencial, atrás apenas da lenha (25%), usada principalmente em áreas rurais de baixa renda.
Betina Moura, especialista em gás natural da Argus, avalia que a volta da Petrobras ao setor pode reduzir o preço final ao consumidor, caso o objetivo da estatal seja ampliar o acesso ao produto. No entanto, ela pondera: “O movimento é observado com reservas por agentes do mercado, que consideram que a decisão pode estar mais alinhada à agenda do governo, dado o peso do GLP no cotidiano das famílias brasileiras”.
Dimensão política: GLP e eleições
O GLP tem um forte componente político no Brasil, frequentemente associado a políticas públicas voltadas para a população de baixa renda. O governo federal prepara o programa “Gás para Todos”, que substituirá o Auxílio Gás (ou Vale Gás), prometendo beneficiar até 17 milhões de famílias vulneráveis com o valor de um botijão de 13 kg. Para Moreira Neto, da A&M Infra, o retorno da Petrobras à distribuição pode estar conectado a essa agenda: “Ano que vem temos eleições, e a pauta da volta da Petrobras à distribuição de GLP carrega bastante da proposta do governo de ter uma empresa pública para alavancar esse tipo de política”.
Essa percepção levanta debates sobre o papel da Petrobras como instrumento de políticas públicas, especialmente em um contexto eleitoral. A estatal, que reportou um lucro de R$ 26,7 bilhões no segundo trimestre de 2025, segundo a Bloomberg Línea, tem recursos para investir em projetos sociais, mas sua atuação no mercado de distribuição pode gerar distorções competitivas, como apontado por especialistas.
Dados da ANP mostram que as vendas de GLP envasado para uso residencial em 2024 somaram 4,47 milhões de toneladas, reforçando a importância do produto no dia a dia dos brasileiros. Apesar dos avanços na produção do pré-sal, o Brasil ainda importa cerca de 20% do GLP consumido, com a Petrobras dominando também esse mercado.
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