Operação Sisamnes: PF avança na investigação de venda de sentenças no STJ com nova fase contra lavagem de dinheiro
Quinta etapa da operação cumpre mandados e sequestra R$ 20 milhões em bens, mirando rede clandestina que negociava decisões judiciais e informações sigilosas
A Polícia Federal (PF) deflagrou, nesta terça-feira, 13 de maio de 2025, a quinta fase da Operação Sisamnes, uma investigação que expõe um suposto esquema de venda de decisões judiciais no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A ação tem como foco a apuração de crimes como lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, mercado de câmbio clandestino, evasão de divisas e organização criminosa.
Com 11 mandados de busca e apreensão sendo cumpridos e o sequestro de bens e valores estimados em R$ 20 milhões, a operação revela a existência de uma "rede financeira-empresarial" criada para dissimular a origem ilícita de propinas destinadas à compra de sentenças judiciais.
Por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), os investigados estão proibidos de deixar o país, com medidas cautelares como recolhimento de passaportes e proibição de contato entre os alvos.
Lobista no centro do esquema
No epicentro do escândalo está o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, cuja prisão preventiva foi mantida pela Primeira Turma do STF na última segunda-feira, 12 de maio de 2025. Segundo o relator, ministro Cristiano Zanin, há "consideráveis elementos" que apontam para o papel central de Andreson no comando de um esquema que envolvia intermediadores, advogados e servidores públicos na comercialização de decisões judiciais e informações processuais privilegiadas. A decisão do STF reforça a gravidade das acusações, que indicam uma rede sofisticada operando nos bastidores do Judiciário.
Andreson, preso desde novembro de 2024, é descrito como uma figura-chave na articulação entre corruptores e corrompidos. Mensagens apreendidas pela PF mostram diálogos entre o lobista e o advogado Roberto Zampieri, assassinado em dezembro de 2024 em Mato Grosso. Em uma conversa de janeiro de 2020, a dupla discutia cobranças relacionadas a uma suposta venda de sentença, mencionando um servidor que ocupou o cargo de chefe de gabinete da ministra Isabel Gallotti, do STJ.
A investigação revelou que Andreson enviou a Zampieri uma petição que correspondia exatamente a uma decisão proferida pela ministra, o que levantou suspeitas de tráfico de influência e manipulação de processos. Importante destacar que os ministros do STJ, incluindo Gallotti, não são alvos da investigação, que se concentra em assessores e servidores.
Rede clandestina e vazamento de informações
A Operação Sisamnes, iniciada em 2023 após a análise do celular de Zampieri, já passou por quatro fases anteriores, cada uma revelando camadas mais profundas do esquema. Em março de 2025, a PF deflagrou uma etapa focada em crimes como obstrução de Justiça, corrupção e violação de sigilo funcional. Na ocasião, foi identificada uma rede clandestina que monitorava e negociava informações sigilosas do STJ, comprometendo a eficácia de operações policiais desencadeadas após decisões judiciais. A atuação do grupo incluía o vazamento de detalhes sensíveis, atrapalhando investigações supervisionadas pela Corte.
A quinta fase, deflagrada hoje, intensifica a investigação sobre a lavagem de dinheiro. Segundo a PF, a rede financeira-empresarial criada pelos investigados utilizava operações imobiliárias e outras transações para ocultar a origem ilícita dos recursos. A ação desta terça-feira inclui buscas em endereços no Tocantins, Mato Grosso e Distrito Federal, além do bloqueio de bens avaliados em R$ 20 milhões, como imóveis e veículos adquiridos com dinheiro suspeito.
Conexões com outros Tribunais
A Operação Sisamnes não se limita ao STJ. As investigações apontam conexões com esquemas semelhantes em tribunais de Justiça de estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão e Bahia. Em novembro de 2024, a primeira fase da operação resultou na prisão de Andreson e no cumprimento de 23 mandados de busca e apreensão, com alvos incluindo desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), como Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho, que foram afastados e estão sob monitoramento por tornozeleira eletrônica.
No Maranhão, a Operação 18 Minutos, concluída em fevereiro de 2025, indiciou 23 pessoas, incluindo três desembargadores e dois juízes, por um esquema que liberou R$ 18 milhões em alvarás judiciais fraudulentos. Na Bahia, a Operação Faroeste investiga a venda de sentenças relacionadas à grilagem de terras, com cinco desembargadoras respondendo por corrupção e lavagem de dinheiro. Esses casos, que compartilham o mesmo "modus operandi" e até personagens em comum, como Andreson, evidenciam a amplitude do problema no Judiciário brasileiro.
Origem da investigação
O estopim para a Operação Sisamnes foi o assassinato de Roberto Zampieri, em dezembro de 2024, em Cuiabá. A análise de seu celular revelou mensagens comprometedoras sobre a compra de sentenças, incluindo negociações com Andreson e referências a servidores do STJ. O material foi encaminhado ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e à PF, desencadeando a investigação que hoje abala o Judiciário. Embora o homicídio de Zampieri seja investigado separadamente, há suspeitas de que possa estar ligado ao esquema, especialmente após a execução de outro advogado, Renato Nery, que denunciou Zampieri por envolvimento na venda de sentenças.
Impacto no judiciário
A Operação Sisamnes expõe uma crise de confiança no Judiciário brasileiro, especialmente no STJ, a segunda Corte mais importante do país. Embora o tribunal tenha afirmado que nenhum ministro está envolvido, o afastamento de servidores e a investigação de assessores ligados a gabinetes de alto escalão levantam questionamentos sobre a integridade do sistema. O CNJ e o STF, sob a relatoria de Cristiano Zanin, têm priorizado a apuração desses casos, mas a demora em julgar ações semelhantes, como a Operação Naufrágio no Espírito Santo, iniciada em 2008, indica desafios na celeridade processual.
A PF e o Ministério Público Federal (MPF) continuam analisando provas para identificar outros envolvidos, incluindo possíveis corruptores que se beneficiaram das decisões judiciais compradas. A complexidade do esquema, que envolve advogados, lobistas, empresários e servidores públicos, sugere que novas fases da operação podem ser deflagradas nos próximos meses.
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