Novos fósseis dos invertebrados mais antigos da Terra são descobertos na região do Pantanal
Resultados inéditos de estudo realizado por pesquisador do Serviço Geológico do Brasil (SGB) foram apresentados, nesta quarta-feira (28), no Congresso Internacional de Geologia
Uma pesquisa encontrou, na região do Pantanal, em Mato Grosso do Sul, novos fósseis dos animais invertebrados mais antigos da Terra: metazoários da espécie Cloudina lucianoi. A descoberta ocorreu em 2019, no geossítio Afloramento da Pedreira Sobramil – um dos mais importantes sítios paleontológicos do período Ediacarano (entre 630 milhões de anos a 542 milhões de anos atrás) da América Latina. Os resultados inéditos do trabalho realizado por pesquisador do Serviço Geológico do Brasil (SGB) foram apresentados, nesta quarta-feira (28), no 37º Congresso Internacional de Geologia (ICG 2024), que ocorre em Busan, na Coreia do Sul.
Os estudos sobre o período Ediacarano têm ocupado as principais publicações no ramo paleontológico nas últimas duas décadas, pois os registros desse período são considerados fundamentais para compreender a evolução da vida na Terra.
“A pesquisa pôde ampliar o conhecimento da paleobiota das Formações Tamengo e Guaicurus, totalizando 26 espécies fósseis diferentes, dentre as quais estão os fósseis que registraram os primeiros esqueletos da história no reino animal, espécie conhecida como Cloudina lucianoi (da família dos metazoários)”, explica o pesquisador do Centro de Geociências Aplicadas do SGB (CGA/SGB) Rodrigo Adorno. Até então, o conhecimento era limitado a apenas algumas poucas espécies. A pesquisa permitiu, inclusive, a importante descoberta da espécie Cloudina carinata na seção do Porto Figueiras, município de Ladário (MS), sendo este o primeiro registro dessa espécie no continente Americano.
Adorno destaca a importância dos estudos para compreender as evoluções geológicas da região. Os estudos ocorreram em áreas dos municípios de Ladário e Corumbá, Mato Grosso do Sul. “Há registro de espículas de poríferos, registro de fitoplâncton marinho, icnofósseis (espécie de pegadas deixadas por vermes ao mover-se sobre a lama no fundo dos mares antigos), dentre outras feições que permitiram aos autores da pesquisa avaliar as condições paleoambientais e também paleogeográficas em uma idade em que a região do Pantanal brasileiro ainda correspondia a um antigo oceano repleto de vida primitiva”, ressalta.
Com a pesquisa, o SGB abre novas oportunidades para parcerias. “A apresentação do trabalho poderá chamar a atenção da comunidade científica internacional para estudos futuros, em colaboração com institutos de pesquisa na Rússia, na China, na Espanha, nos Estados Unidos e em outras localidades onde há grupos fortes de pesquisa que vêm desenvolvendo trabalhos correlatos”, afirma Adorno.
O trabalho científico intitulado “Paleobiodiversidade das Formações Tamengo e Guaicurus (Estratos Limítrofes Ediacarano-Cambriano, Brasil): Implicações Paleoecológicas, Paleogeográficas e Bioestratigráficas” foi apresentado em sessão oral, com o tema: “Contribuições gerais para a Paleontologia e Paleoantropologia”.
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Avanços na classificação dos seres vivos
O pesquisador Rodrigo Adorno também apresentou, na quarta-feira (28), um trabalho científico que permitirá estudos, de forma mais precisa, dos fósseis de espécies de Cloudina lucianoi. Isso contribuirá para avanços na classificação dos seres vivos (taxonomia). Em um pôster, foram apresentados os resultados mais atuais de uma série de experimentos conduzidos no laboratório de micropaleontologia da Universidade de Brasília (UnB), que têm como objetivo extrair o esqueleto fóssil de Cloudina lucianoi da matriz carbonática da rocha.
O principal desafio das amostras brasileiras é que o fóssil tem composição muito semelhante à matriz da rocha onde se encontram. A situação é completamente diferente dos estudos apresentados pelos chineses, nos quais os fósseis possuem composição química distinta da matriz rochosa. “O modo de preservação das amostras da China permitiu o estudo em 3D de Cloudina lucianoi pela primeira vez. Nós estamos conseguindo adaptar as técnicas e criar um protocolo de preparação especial para atender à nossa realidade mais difícil de extração de Cloudina lucianoi, a partir de amostras do Brasil”, destaca Adorno. O trabalho é intitulado: Desenvolvimento Metodológico para Extração de Espécimes Tridimensionais de Cloudina lucianoi (Beurlen e Sommer, 1957).
Incentivo à formação geocientífica
Outro destaque da programação do ICG 2024, nesta quarta-feira (28), foi o Programa de Residência de Iniciação Profissional Lato Sensu em Ciências da Terra no Serviço Geológico do Brasil (SGB). A pesquisadora em geociências Patrícia Jacques, da Diretoria de Infraestrutura Geocientífica (DIG), participou da sessão de Educação em Geociências "Como a Próxima Geração de Geólogos está sendo Educada para as Geociências do Amanhã".
Na ocasião, destacou o pioneirismo da iniciativa e importância para a qualificação profissional por meio de imersão de recém-graduados (até dois anos de formados) em ambiente profissional. “O programa de residência visa promover o aprimoramento de conhecimentos, habilidades e condutas indispensáveis ao exercício profissional, aliado à responsabilidade ética, viabilizando a vivência em ambiente corporativo, com participação em projetos e ações da empresa e em treinamentos, teóricos e práticos, supervisionados e orientados. O programa também contribui para o desenvolvimento de políticas públicas de formação profissional de jovens e adultos no Brasil”, disse Patrícia Jacques.
A pesquisadora explicou que a primeira turma iniciou os trabalhos em agosto de 2023 e encerrará em julho de 2025, com publicação de trabalho que será disponibilizado no Repositório Institucional de Geociências (Rigeo) “Esta turma é composta por 16 profissionais formados em geologia e geografia, nas seguintes áreas do conhecimento: mapeamento geológico na região amazônica, hidrogeologia e hidrologia, geologia ambiental, mediação geocientífica, paleontologia, ciência de dados, tectônica e fluidos, geomorfologia, geoquímica prospectiva, geologia econômica e sistema de produção mineral”.
Comitiva do SGB no maior evento internacional das geociências
O 37º Congresso Internacional de Geologia (IGC) é o maior evento científico da área e ocorre a cada quatro anos, sendo promovido pela União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS).
A comitiva do SGB que participa do 37º Congresso Internacional de Geologia (IGS) é formada pelos pesquisadores Diogo Rodrigues, chefe do Departamento de Gestão Territorial da Diretoria de Hidrologia e Gestão Territorial (DEGET/DHT); Tiago Antonelli, chefe da Divisão de Geologia Aplicada (DIGEAP/DEGET/DHT); Maria Adelaide Mansini, chefe da Divisão de Gestão Territorial (DIGATE/DEGET/DHT); Guilherme Troian, chefe do Núcleo de Apoio de Criciúma; Marlon Hoezel, da DHT; Carlos Eduardo Mota, coordenador do Núcleo de Data Science da Diretoria de Infraestrutura Geocientífica (DIG); Cimara Monteiro, assessora da DIG; Patrícia Jacques, da DIG; Luciana Felício Pereira, da Diretoria de Geologia de Recursos Minerais (DGM), Deborah Mendes, da Assessoria de Assuntos Internacionais (Assuni); Hugo Polo, da DGM; Isabelle Serafim, da DGM; Rodrigo Adorno e Oderson Sousa, do Centro de Geociências Aplicada (CGA); e a técnica Daiana Sales, da DIG.