Nova checagem aprofunda: o que realmente se sabe sobre Hugo Armando Carvajal Barrios, o ex-general venezuelano, e as alegações de financiamento ao PT
As declarações de “El Pollo” sobre sustentação financeira do chavismo a partidos de esquerda ganharam tração na internet — mas quais são os elementos verificados, o que permanece sem comprovação
Veja abaixo uma análise aprofundada sobre as alegações envolvendo o ex-chefe da inteligência militar da Venezuela, Hugo Carvajal, e as supostas conexões de financiamento do regime venezuelano ao Partido dos Trabalhadores (PT) e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cobrindo o histórico, as evidências existentes, os usos políticos dessas acusações e os cuidados que se impõem à luz da verificação de fatos.
1. Quem é Hugo Carvajal
Hugo Armando “El Pollo” Carvajal Barrios é um militar venezuelano de carreira que ocupou a chefia da Direção de Inteligência Militar da Venezuela (DIM) em dois momentos — de 2004 a 2011, sob o governo de Hugo Chávez, e de 2013 a 2014, durante a presidência de Nicolás Maduro.
Ele foi acusado pelas autoridades dos Estados Unidos de envolvimento em narcotráfico, narcoterrorismo e contrabando de armas.
Em 2025, Carvajal se declarou culpado de conspiração para importar cocaína, de participação em narcoterrorismo em benefício das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e de crimes relacionados com armas em tribunal federal norte-americano.
Ele foi extraditado da Espanha para os Estados Unidos em 2023, após fugas e batalhas judiciais na Espanha.
2. A alegação de financiamento à esquerda internacional
Em outubro de 2021, Carvajal enviou uma carta ao juiz espanhol Manuel García‑Castellón na qual alegou que o regime venezuelano teria financiado “partidos de esquerda na América Latina e na Europa” durante cerca de 15 anos, mencionando especificamente o PT no Brasil e o partido espanhol Podemos, entre outros.
Ele não publicou anexos ou provas documentadas que possam ser publicamente verificadas. A carta, conforme matérias, dependia de “narrações de terceiros” e não de evidências documentais robustas.
Na Espanha, a investigação sobre o financiamento à Podemos foi reaberta com base nessa carta mas, posteriormente, a Justiça arquivou o caso por falta de indícios suficientes.
3. O que se está alegando especificamente sobre o PT e Lula
A fórmula das alegações é aproximadamente a seguinte:
Carvajal teria ‘provas’ de que a Venezuela financiou o PT ou o ex-presidente Lula, inclusive para a eleição de 2022.
Ele estaria prestes a fazer delação nos EUA ou já teria feito, entregando documentos à Justiça norte-americana, e que isso seria amplamente repercutido.
Essas alegações circulam fortemente em redes sociais, vídeos no Kwai e no Facebook, influenciadores afirmam que “ele disse que vai delatar Lula” e que “tem como provar que foi financiado o partido petista em 22”. Deputados ligados a Jair Bolsonaro como Nikolas Ferreira e Alexandre Ramagem também compartilharam a notícia falsa.
4. O que as checagens independentes concluem
A plataforma de checagem UOL Confere verificou que não há registro de que Carvajal tenha citado Lula ou o PT em seu depoimento à Justiça dos Estados Unidos. UOL Notícias
Na ocasião do seu acordo de declaração de culpa em junho/2025, Carvajal não fez menção a Lula ou ao PT. UOL Notícias
Mesmo a carta de 2021 que mencionava financiamento partiu de Carvajal enquanto estava na Espanha, não como parte de delação formal nos EUA, e sem anexos ou documentação pública que confirme essas alegações. Jovem Pan
Além disso, o relatório final da Polícia Federal do Brasil sobre a investigação chamada “Abin Paralela” apontou que parte das alegações de Carvajal foram usadas como fake news durante o período eleitoral de 2022 no Brasil.
5. Por que a narrativa persiste — fatores de contexto
Há três vetores que ajudam a explicar a circulação e resistência dessa narrativa:
Histórico real: Carvajal tem um perfil credível de alto escalão militar venezuelano, com envolvimento em inteligência estatal e ligação com denúncias de narcotráfico. Isso confere à narrativa uma “aparência de plausibilidade”.
Ambiente político polarizado: No Brasil, especialmente em períodos eleitorais ou de disputa partidária, alegações de financiamento internacional tornam-se munição política. A referência à Venezuela e à esquerda internacional mobiliza redes de desinformação.
Uso midiático e viral: Vídeos curtos e influenciadores nas redes sociais simplificam a narrativa (“ele vai delatar”), o que facilita a circulação rápida — mesmo sem comprovação.
6. Qual o impacto real para o PT, Lula e o cenário político
Do ponto de vista jurídico, até o momento não se abriu processo que demonstre efetivamente que o PT ou Lula receberam recursos da Venezuela via Carvajal com base em evidência comprovada.
Politicamente, ainda que a narrativa atue como instrumento de desgaste ou desconfiança, ela carece de solidez para provocar consequências judiciais imediatas.
No plano da integridade eleitoral, a persistência de alegações não verificadas pode corroer a confiança na democracia, no controle de financiamentos partidários e na transparência.
7. Pontos críticos que permanecem abertos
Embora Carvajal tenha declarado que se ofereceu para colaborar com autoridades dos EUA — inclusive mencionando que poderia fornecer documentos que implicam altos escalões venezuelanos. — não há indicações públicas de que essa colaboração abranja Lula ou o PT.
A investigação espanhola foi arquivada por falta de provas, mas permanece o fato de que Carvajal fez a alegação inicial em carta. A falta de acesso público aos documentos originais dificulta o exame independente.
Vale acompanhar se futuras movimentações judiciais latino-americanas, ou publicações de documentos, trarão novos elementos que possam confirmar ou refutar de forma conclusiva essa tessitura de financiamento internacional de partidos de esquerda.
8. Relevância para o Brasil e para o financiamento político
A legislação brasileira exige que partidos e campanhas declarem e prestem contas de seus financiamentos; o financiamento por entidade estrangeira para campanhas ou partidos configuraria grave infração.
Mesmo que não haja comprovação desta acusação específica, o caso reforça a importância de mecanismos fortes de auditoria, transparência e controle sobre recursos partidários e campanhas.
A circulação de alegações sem comprovação exige que o público, mídia e sistema eleitoral adotem postura crítica, distinguindo entre alegação e evidência verificada.
9. Considerações finais
Ao cruzar os fatos verificados, podemos resumir assim:
Existe sim histórico de Carvajal, alta figura da inteligência venezuelana, com acusações de narcotráfico e extradição para os EUA.
Existe uma carta de 2021 em que ele alega financiamento da Venezuela a partidos de esquerda por 15 anos, citando o PT e Lula entre os beneficiados — mas sem apresentação pública de provas documentais ou continuidade pública da investigação nessa linha.
Não há, até agora, evidência pública confiável de que Carvajal tenha feito delação nos EUA citando Lula ou o PT, nem de que tenha fornecido documentos que embasem formalmente estas acusações.
A narrativa circula com vigor nas redes, mas carece de base documental à altura das alegações que faz.
Portanto, o cenário atual exige cautela: a investigação não está fechada e pode evoluir, mas também não se pode tratar as alegações como fatos confirmados.
Linha do Tempo – Caso Hugo Carvajal e as alegações de financiamento político
2004 a 2011 — Hugo Chávez nomeia Carvajal chefe da Inteligência Militar
Hugo Armando “El Pollo” Carvajal Barrios assume o comando da Direção de Inteligência Militar (DIM) da Venezuela, durante o governo de Hugo Chávez.
Ele se torna um dos homens mais influentes do aparato de segurança do país e ganha reputação de ter acesso a informações sigilosas sobre operações políticas e militares do chavismo.
2013 a 2014 — Retorno ao comando sob Nicolás Maduro
Carvajal volta ao cargo de diretor da inteligência militar, agora sob o governo de Nicolás Maduro.
Nesse período, os Estados Unidos intensificam investigações sobre o suposto envolvimento de altos oficiais venezuelanos em narcotráfico.
Em 2014, o Departamento de Justiça dos EUA o acusa formalmente de colaborar com as FARC no tráfico de cocaína para os EUA — dando origem à expressão “Cartel de los Soles”, em referência a militares venezuelanos envolvidos.
2014 — Prisão em Aruba e libertação
Carvajal é preso em Aruba a pedido dos Estados Unidos, mas é libertado poucos dias depois por pressão diplomática do governo Maduro, que alegou imunidade diplomática.
Ele retorna à Venezuela e mantém forte vínculo político com o chavismo.
2019 — Ruptura com o regime Maduro e fuga para a Espanha
Após anos de lealdade, Carvajal rompe com Maduro e apoia o opositor Juan Guaidó.
Pouco tempo depois, o governo venezuelano o acusa de traição e tráfico de drogas.
Ele foge para a Espanha, onde busca asilo político, mas é novamente detido a pedido dos EUA.
Outubro de 2021 — Carta com alegações de financiamento internacional
Ainda preso na Espanha, Carvajal envia uma carta ao juiz espanhol Manuel García-Castellón, alegando que o governo venezuelano teria financiado partidos de esquerda na América Latina e Europa por cerca de 15 anos.
Cita nominalmente o PT (Brasil) e o Podemos (Espanha), além de partidos de outros países.
O jornal espanhol Ok Diario publica trechos da carta, e sites brasileiros repercutem a informação.
Sem provas anexadas, o documento baseia-se apenas em declarações do próprio Carvajal.
Novembro de 2021 — Reabertura e arquivamento de processo na Espanha
Com base na carta, o juiz Castellón reabre um caso arquivado em 2016 sobre suposto financiamento ilegal ao partido Podemos.
Em março de 2022, a Justiça espanhola conclui que o depoimento de Carvajal se baseia em “narrações de terceiros”.
Em junho de 2022, o caso é definitivamente arquivado, a pedido do Ministério Público espanhol, por falta de provas.
2022 — Ano eleitoral no Brasil e uso político das alegações
Durante as eleições presidenciais no Brasil, vídeos e publicações começam a ressuscitar as alegações de Carvajal, afirmando falsamente que ele teria “provas” de financiamento do PT e que faria uma “delação” contra Lula.
O conteúdo viraliza no Kwai, Facebook e YouTube, impulsionado por influenciadores ligados à direita política.
A blogueira Elisa Robson, ex-candidata a deputada federal pelo Republicanos, afirma em vídeos ter “informações diretas” sobre Carvajal — o que nunca foi confirmado.
O Estadão Verifica e o UOL Confere apuram que não existe delação registrada, entrevista ou provas apresentadas por ela.
2023 — Extradição para os Estados Unidos
Após batalhas judiciais, a Espanha extradita Carvajal para os EUA, onde ele passa a responder formalmente por narcotráfico, narcoterrorismo e contrabando de armas.
A extradição reacende boatos nas redes sociais de que ele “iria delatar Lula e o PT”.
Nenhuma corte americana ou documento público menciona o ex-presidente brasileiro ou o partido.
Junho de 2025 — Carvajal se declara culpado nos EUA
Em audiência na Corte Federal de Nova York, Carvajal admite participação no tráfico de cocaína em associação com as FARC.
Ele tenta reduzir sua pena, mas não cita Lula, PT ou qualquer financiamento político internacional.
O Departamento de Justiça dos EUA não registra nenhuma colaboração formal que envolva políticos estrangeiros fora do eixo venezuelano.
Julho de 2025 — Checagens desmentem alegações de delação
As agências UOL Confere e Estadão Verifica publicam novas checagens mostrando que não há registro de delação, depoimento ou provas sobre o PT ou Lula nas cortes americanas.
O conteúdo viral que afirma o contrário é classificado como “enganoso”.
A BBC Brasil e a Reuters reforçam que as alegações não são mencionadas em nenhuma ação judicial.
Outubro de 2025 — Persiste o uso político e midiático
A recente condenação de Carvajal nos EUA volta a alimentar narrativas falsas, apresentando o caso como “iminente delação contra Lula”.
Nenhuma nova evidência é apresentada.
Especialistas em desinformação, como o pesquisador David Nemer (UVA), explicam que o caso é exemplo de “reciclagem de fake news”, em que boatos antigos são adaptados a novos contextos políticos.
Situação Atual (outubro de 2025)
Hugo Carvajal segue detido nos Estados Unidos, aguardando sentença definitiva.
Não existe qualquer documento, depoimento ou delação registrada que envolva Lula, o PT ou as eleições brasileiras de 2022.
A carta de 2021 continua sendo o único documento público conhecido — sem provas anexadas e com o processo relacionado arquivado pela Justiça espanhola.
O caso serve como alerta para o papel da desinformação em contextos eleitorais e para a necessidade de checagem rigorosa de fontes e documentos antes de se replicar alegações graves.
Convido você a comentar abaixo suas reflexões sobre esse tema, seja sobre o impacto político, sobre o papel da transparência no financiamento de campanhas ou sobre o uso de narrativas não comprovadas na política. E, se achar útil, compartilhe este conteúdo para que mais pessoas possam se informar com base em checagens responsáveis.
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