0:00
/
0:00

Nepal em chamas: Protestos, renúncia de Oli e fogo no Parlamento em Catmandu

Bloqueio de redes sociais e violência policial desencadeiam a pior crise em décadas no país do Himalaia

A capital do Nepal, Catmandu, viveu nesta terça-feira (9) um dos capítulos mais turbulentos de sua história recente, com protestos generalizados que culminaram na invasão e incêndio do Parlamento, da Suprema Corte e de residências de líderes políticos, incluindo a do agora ex-primeiro-ministro KP Sharma Oli, do Partido Comunista do Nepal (UML). A onda de manifestações, liderada majoritariamente por jovens da chamada "Geração Z", forçou a renúncia de Oli após dois dias de violentos confrontos que deixaram ao menos 19 mortos e mais de 400 feridos, marcando a pior crise política no país em décadas.

Estopim: Bloqueio de redes sociais

O caos teve início na semana passada, quando o governo nepalês, sob a liderança de Oli, anunciou o bloqueio de 26 plataformas de redes sociais, incluindo Facebook, Instagram, YouTube e X, sob a justificativa de que essas empresas não haviam se registrado junto às autoridades e estariam sendo usadas para propagar desinformação, discurso de ódio, fraudes e outros crimes online. A medida, no entanto, foi amplamente percebida como uma tentativa de censura e de silenciamento de críticas à corrupção generalizada no governo.

A reação foi imediata. Milhares de jovens, muitos em uniformes escolares e universitários, tomaram as ruas de Catmandu sob o lema "Bloqueiem a corrupção, não as redes sociais". Na segunda-feira (8), as tentativas de invadir o Parlamento foram reprimidas com violência pela polícia, que usou gás lacrimogêneo, balas de borracha e, em alguns casos, munição letal. O resultado foi trágico: 17 mortos em Catmandu e outros dois no distrito de Sunsari, além de centenas de feridos, segundo a polícia local e relatos da mídia. "Centenas de pessoas invadiram o recinto do Parlamento e incendiaram o edifício principal", relatou Ekram Giri, porta-voz do Parlamento, à agência AFP.

Escalada do caos

Na terça-feira (9), mesmo após o governo revogar o bloqueio das redes sociais em uma reunião de emergência na noite anterior, os protestos não arrefeceram. A repressão policial e as mortes intensificaram a revolta, levando manifestantes a desafiar um toque de recolher imposto em Catmandu e em outras cidades, como Biratnagar, Bharatpur e Pokhara. Em Catmandu, a situação saiu do controle: além do incêndio no Parlamento, manifestantes invadiram e atearam fogo às residências de figuras políticas proeminentes, como o presidente Ram Chandra Paudel, o ex-primeiro-ministro Sher Bahadur Deuba (líder do Nepali Congress), o líder comunista Pushpa Kamal Dahal "Prachanda" e a escola privada de Arzu Deuba Rana, atual ministra das Relações Exteriores e esposa de Deuba.

"Os manifestantes estão furiosos com a corrupção e a repressão. Eles não vão parar até que haja justiça", disse Bishnu Thapa Chetri, estudante entrevistado pela Associated Press, expressando o sentimento de muitos jovens nepaleses. Imagens aéreas divulgadas pela Reuters mostraram focos de fumaça espalhados pela capital, enquanto vídeos nas redes sociais exibiam barricadas em chamas e confrontos com a polícia. Um porta-voz da polícia local, Muktiram Rijal, afirmou à Reuters: "Os manifestantes ficaram violentos, e recebemos ordens para usar canhões de água, cassetetes e balas de borracha para controlá-los".

Renúncia de Oli e futuro incerto

Diante da escalada da violência e da pressão de partidos de oposição, como o Nepali Congress e o CPN (Maoist Centre), KP Sharma Oli anunciou sua renúncia na terça-feira. "Estou profundamente triste pelas mortes durante os protestos. Renuncio ao cargo de primeiro-ministro para abrir caminho para uma solução política", declarou Oli em carta ao presidente Ram Chandra Paudel, conforme reportado pela CNA. O presidente aceitou a renúncia e iniciou o processo para nomear um novo primeiro-ministro, mas o futuro político do Nepal permanece incerto.

A renúncia de Oli, que ocupava o cargo pela quarta vez desde julho de 2024, marca o fim de uma trajetória marcada por políticas nacionalistas, mas também por acusações de autoritarismo e incapacidade de combater a corrupção. Antes de deixar o cargo, Oli ordenou a formação de uma comissão de investigação para apurar a repressão policial, mas a medida não foi suficiente para aplacar a revolta popular.

Contexto de instabilidade

O Nepal, com uma população de 30 milhões de habitantes, enfrenta instabilidade política e desafios econômicos desde a abolição da monarquia em 2008, após protestos populares. Com 43% da população entre 15 e 40 anos, segundo dados do governo, a juventude tem desempenhado um papel central na contestação do establishment político. A taxa de desemprego em torno de 10% e o PIB per capita de apenas US$ 1.447, conforme o Banco Mundial, alimentam a insatisfação com a elite política, acusada de viver em luxo enquanto a população enfrenta dificuldades.

Os protestos também expuseram a insatisfação com a corrupção sistêmica. Nas redes sociais, ativistas da Geração Z usaram plataformas como Reddit e Instagram para denunciar o estilo de vida extravagante de filhos de políticos, questionando a origem de suas riquezas. "Queremos um governo nacional e uma investigação sobre os bens dos políticos", exigiu Gagan Thapa, líder do Nepali Congress, em coletiva de imprensa.

Protestos além de Catmandu

As manifestações não se restringiram à capital. Em Biratnagar, Bharatpur e Pokhara, milhares de pessoas saíram às ruas com demandas semelhantes, incluindo liberdade de expressão, combate à corrupção e a introdução de uma idade limite para cargos políticos. Em Pokhara, conhecida como a porta de entrada para o Monte Annapurna, manifestantes também enfrentaram a polícia, que respondeu com gás lacrimogêneo e cassetetes.

Contexto global

O bloqueio das redes sociais no Nepal reflete uma tendência global de maior controle sobre plataformas digitais. Países como Estados Unidos, União Europeia, Brasil, Índia, China e Austrália têm implementado medidas para regular as big techs, citando preocupações com desinformação, privacidade de dados e segurança nacional. No entanto, críticos alertam que tais medidas podem ameaçar a liberdade de expressão, um ponto central nas demandas dos manifestantes nepaleses.

O que vem a aeguir?

Com o Parlamento em chamas, a Suprema Corte danificada e a renúncia de Oli, o Nepal enfrenta um vácuo de poder em meio a uma crise sem precedentes. A formação de um novo governo será um desafio, dado o histórico de 14 governos em 17 anos, segundo o New Indian Express. Enquanto isso, os protestos continuam, com manifestantes exigindo reformas sistêmicas e punição aos responsáveis pela violência policial.

E você, o que acha dessa crise no Nepal? Deixe seu comentário abaixo e compartilhe este artigo para que mais pessoas conheçam a situação!

Deixe um comentário

Palavras-chave: Nepal, Catmandu, KP Sharma Oli, protestos, redes sociais, corrupção, renúncia, Parlamento, Suprema Corte, Geração Z, crise política, liberdade de expressão, toque de recolher, Biratnagar, Bharatpur, Pokhara.

Siga o Painel Político nas redes sociais:

  • Twitter: @painelpolitico

  • Instagram: @painelpolitico

  • LinkedIn: https://www.linkedin.com/company/painelpolitico/

  • WhatsApp: https://whatsapp.com/channel/0029Va4SW5a9sBI8pNwfpk2Q

  • Telegram: https://t.me/PainelP

Hashtags: #PainelPolitico #Nepal #ProtestosNepal #KPSarmaOli #Catmandu #CrisePolítica #RedesSociais #Corrupção #GeraçãoZ

Discussão sobre este vídeo

Avatar de User