Múmia pré-inca de mil anos descoberta em Lima durante obra de gasoduto
Achado arqueológico em área urbana revela detalhes da cultura Chancay e reforça a riqueza histórica do Peru
Em uma escavação rotineira para a instalação de um gasoduto no distrito de Puente Piedra, em Lima, capital do Peru, trabalhadores da empresa peruana de gás Calidda fizeram uma descoberta que surpreendeu arqueólogos e moradores locais: uma múmia pré-inca com cerca de mil anos, enterrada a apenas 50 centímetros da superfície. O achado, anunciado em 17 de junho de 2025, pertence à cultura Chancay, uma civilização que floresceu na costa central do Peru entre os anos 1000 e 1470 d.C., antes de ser absorvida pelo Império Inca.
A múmia, identificada como sendo de uma mulher de aproximadamente 20 a 25 anos, foi encontrada em posição sentada, com braços e pernas flexionados, envoltos em um fardo funerário feito de tecidos, uma prática comum entre os povos pré-incas. Parte de seus cabelos ainda estava preservada, evidenciando o bom estado de conservação do corpo, que foi naturalmente mumificado pelo clima árido da região costeira peruana. Segundo o arqueólogo Jesús Bahamonde, contratado pela Calidda, o sepultamento também continha vasos de cerâmica e restos de crustáceos, que oferecem pistas sobre a dieta e os costumes da cultura Chancay.
“Encontramos restos mortais e evidências de que pode ter havido um enterro pré-hispânico”, afirmou o arqueólogo Arturo Aliaga, que acompanha o monitoramento arqueológico na região. A descoberta ocorreu após os trabalhadores identificarem um tronco de madeira de guarango, usado como marcador de túmulos na época, o que levou à interrupção imediata das obras para a análise dos especialistas. A área de escavação foi ampliada para permitir a recuperação de mais artefatos, que agora serão estudados para aprofundar o conhecimento sobre a civilização Chancay.
A cultura Chancay, que habitou os vales de Lima entre os séculos XI e XV, era conhecida por sua agricultura, pesca e produção em massa de cerâmicas, têxteis e objetos de metal, como ouro e prata. Essa civilização tinha uma estrutura política centralizada e se destacava pelo comércio extensivo, mas entrou em declínio no final do século XV com a expansão do Império Inca.
O arqueólogo Pieter Van Dalen, decano do Colégio de Arqueólogos do Peru, destacou que descobertas como essa são comuns na costa peruana devido ao clima seco, que favorece a preservação natural de restos humanos. “É muito comum encontrar vestígios arqueológicos na costa peruana, incluindo Lima, principalmente elementos funerários: tumbas, sepultamentos e, entre estes, indivíduos mumificados”, explicou Van Dalen. Ele também observou que, além da mumificação natural, algumas múmias passavam por processos culturais, com os corpos cuidadosamente preparados e envoltos em tecidos.
A descoberta em Puente Piedra não é um caso isolado. Desde 2004, quando a Calidda começou suas operações em Lima, mais de 2.200 achados arqueológicos foram registrados acidentalmente durante obras de infraestrutura. A legislação peruana exige que empresas de serviços públicos contratem arqueólogos para acompanhar escavações, devido à alta probabilidade de encontrar vestígios históricos em áreas urbanas. Essa prática tem permitido a preservação de um rico patrimônio cultural, mas também expõe um desafio: o combate ao “huaqueo”, a prática de escavações ilegais que resulta na retirada de cerca de 20 mil artefatos por ano do Peru, muitas vezes traficados no mercado negro.
A múmia encontrada será agora submetida a estudos detalhados, incluindo datação por carbono, para confirmar sua idade exata e revelar mais sobre a vida e os costumes da jovem mulher da cultura Chancay. A descoberta reforça a importância de Lima como um centro de sítios arqueológicos, com cerca de 400 “huacas” – montes ou estruturas cerimoniais – espalhados pela cidade. Sítios como Huaca Pucllana, no distrito de Miraflores, e Cajamarquilla, a leste da capital, já revelaram múmias e artefatos de culturas como a Ichma e a Ychsma, que também precederam os incas.
Nas redes sociais, a notícia gerou grande repercussão. Usuários no X compartilharam imagens e comentários sobre a descoberta, destacando a riqueza histórica do Peru e a surpresa de encontrar vestígios tão bem preservados em uma área urbana. “É impressionante como Lima guarda tantas histórias sob o asfalto”, escreveu um usuário. Outros enfatizaram a importância de proteger esses achados contra saques e de investir em mais pesquisas arqueológicas.
O achado em Puente Piedra não apenas ilumina a vida de uma jovem que viveu há mil anos, mas também reforça o papel do Peru como um dos maiores repositórios de história pré-hispânica do mundo. Enquanto as escavações continuam, a expectativa é que mais segredos da cultura Chancay venham à tona, ajudando a reconstruir o passado de uma civilização que moldou a região muito antes da chegada dos incas.
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