Morte em quartel do Rio: investigação aponta homicídio e tentativa de encobrimento com suicídio simulado
Ministério Público Militar desmente versão de suicídio e revela que disparo foi feito por colega em alojamento militar
No dia 15 de janeiro de 2025, a família de Wenderson Nunes Otávio, um jovem soldado de 19 anos, recebeu a notícia que mudou suas vidas: ele foi encontrado morto com um tiro na cabeça dentro de um alojamento do 26º Batalhão de Infantaria Paraquedista, no Rio de Janeiro. Inicialmente, o Exército informou aos pais, Adilson Firmino Rosa e Cristiana da Silva Nunes, que a morte se tratava de um suicídio, atribuído a supostos problemas com a namorada. A versão, porém, nunca convenceu a família. Após cinco meses de angústia e questionamentos, uma investigação do Ministério Público Militar (MPM) revelou uma realidade bem diferente: Wenderson foi vítima de um homicídio, e a narrativa de suicídio foi forjada para encobrir o ocorrido.
O caso e a virada na investigação
A investigação conduzida pelo MPM, cujos resultados foram apresentados em 29 de junho de 2025 no programa Fantástico, da TV Globo, descartou categoricamente a hipótese de suicídio. A perícia concluiu que o tiro, disparado por uma pistola 9mm, atingiu Wenderson na lateral da cabeça, em um ângulo de cima para baixo, a uma distância superior a um metro. A análise forense também não encontrou vestígios de pólvora nas mãos da vítima, o que reforça a impossibilidade de um disparo autoinfligido.
O autor do disparo, segundo a denúncia do MPM, foi Jonas Gomes Figueira, ex-soldado do mesmo batalhão, que teria apontado a arma para Wenderson, acreditando que ela estava descarregada. Figueira, que era amigo próximo da vítima e frequentava a casa da família, é descrito em depoimentos como alguém que frequentemente fazia brincadeiras perigosas com armas no alojamento, inclusive apontando-as para colegas. Em um episódio anterior, ele teria encostado uma arma na cabeça de outro militar, o que evidencia um padrão de comportamento irresponsável.
Além de Figueira, o terceiro-sargento Alessandro dos Reis Monteiro foi indiciado por negligência, por não ter fiscalizado a entrada de armas no alojamento, uma prática expressamente proibida pelas normas militares. A arma utilizada pertencia a Figueira, e testemunhas confirmaram que, apesar das regras, o controle sobre armamentos no quartel era falho.
Tentativa de encobrimento
Um dos aspectos mais graves do caso é a tentativa de encobrimento liderada pelo comando do batalhão. Segundo depoimentos obtidos pelo Fantástico, o tenente-coronel Douglas dos Santos Leite, comandante da unidade, reuniu os militares logo após o incidente e determinou que a versão oficial a ser divulgada seria a de suicídio. Ele também teria proibido qualquer contato com a família de Wenderson, numa clara tentativa de controlar a narrativa. Mensagens interceptadas pelo MPM mostram que superiores tentaram identificar e silenciar os militares que prestaram depoimentos contrários à versão oficial.
“Mesmo assim, a gente falou. Porque estava errado”, afirmou um dos soldados ao Fantástico, em um ato de coragem que ajudou a expor a verdade. A pressão para manter o silêncio foi tão intensa que, segundo as investigações, alguns militares temiam represálias por parte de seus superiores.
A família de Wenderson, que desde o início questionava a versão do suicídio, encontrou nas revelações do MPM um misto de alívio e indignação. “É mentira, a gente estava bem. Ele estava lá em casa no dia que aconteceu isso, e a gente estava normal”, afirmou a namorada de Wenderson, rejeitando a alegação de que a morte estaria ligada a problemas pessoais. Cristiana, mãe do soldado, reforçou a convicção de que o disparo foi acidental, mas lamentou a falta de transparência: “Eu sei que foi um acidente, só que eu gostaria que ele [Figueira] me falasse. Eu acho que ele queria falar. Mas ele foi proibido.”
Reações e posicionamentos
A defesa de Jonas Gomes Figueira emitiu nota afirmando que encara a denúncia com tranquilidade e sustenta a inocência do ex-soldado, alegando que não há justa causa para a acusação de homicídio qualificado. Segundo os advogados, a inocência de Figueira será comprovada ao longo do processo.
O Centro de Comunicação Social do Exército, por sua vez, negou qualquer tentativa de manipulação da narrativa, afirmando que todas as ações do 26º Batalhão foram conduzidas com rigor e em conformidade com as normas legais. A nota oficial destaca que o comando nunca afirmou conclusivamente que a morte foi suicídio e que todas as medidas foram tomadas para garantir a lisura do processo, com respeito à memória do militar falecido e à sua família.
No entanto, postagens em redes sociais, usuários expressam indignação com a conduta do comando militar. Usuários criticaram a postura do comandante Douglas, apontado como responsável por tentar ocultar a verdade e até mesmo por comparecer ao enterro de Wenderson, o que foi interpretado como uma afronta à família.
A Busca por justiça
Para Adilson e Cristiana, pais de Wenderson, a conclusão da investigação trouxe um alívio parcial. “Muito aliviado em saber que a Justiça está sendo feita e que os culpados sejam penalizados e responsabilizados pelo crime que eles fizeram com o meu filho”, disse Adilson. Cristiana complementou: “Claro que a dor não vai passar, mas estou aliviada em saber que a Justiça está sendo feita.”
O caso expõe falhas graves na disciplina e na fiscalização dentro do quartel, além de levantar questionamentos sobre a cultura de silêncio e hierarquia nas Forças Armadas. A morte de Wenderson Nunes Otávio, que sonhava em ser paraquedista e teve sua trajetória interrompida de forma trágica, agora depende do andamento do processo judicial para que a verdade seja plenamente estabelecida e a justiça, enfim, prevaleça.
Palavras-chave: Wenderson Nunes Otávio, Ministério Público Militar, Exército Brasileiro, homicídio, alojamento militar, Jonas Gomes Figueira, Alessandro dos Reis Monteiro, tentativa de encobrimento, justiça militar, Rio de Janeiro.
Hashtags: #PainelPolitico #WendersonOtavio #JustiçaMilitar #ExercitoBrasileiro #Investigação #RioDeJaneiro #Homicidio #ForçasArmadas