Morte durante evento do Legendários em Rondonópolis levanta questões sobre segurança
Trabalhador de 40 anos faleceu após crise convulsiva em trilha organizada pelo movimento cristão; caso gera debate sobre protocolos de segurança em eventos de imersão
No último sábado, 28 de junho de 2025, a cidade de Rondonópolis, localizada a 218 km de Cuiabá, Mato Grosso, foi palco de um trágico incidente durante uma atividade do movimento cristão Legendários. Rodrigo Nunes de Oliveira, de 40 anos, sofreu uma crise convulsiva enquanto participava de uma trilha com cerca de 150 homens, parte do evento conhecido como TOP (Track Outdoor de Potencial). Apesar de ser socorrido e levado ao Hospital Regional de Rondonópolis, onde foi entubado, Rodrigo não resistiu e faleceu horas depois. Até o momento, as causas da crise convulsiva não foram esclarecidas, e os organizadores do movimento não se pronunciaram oficialmente sobre o ocorrido.
Rodrigo, que trabalhava em uma empresa de segurança do trabalho, era casado, pai de dois filhos e se declarava cristão metodista em suas redes sociais. Seu sepultamento ocorreu no cemitério da Vila Aurora, em Rondonópolis, e a notícia de sua morte comoveu amigos, familiares e participantes do evento, que expressaram condolências nas redes sociais. A ausência de informações detalhadas sobre as condições de saúde dos participantes e os protocolos de segurança do evento gerou questionamentos, especialmente em plataformas como o X, onde o caso ganhou repercussão.
O que é o movimento Legendários?
Fundado em 2015 na Guatemala pelo pastor Chepe Putzu, da Igreja Casa de Deus, o Movimento Legendários tem como proposta promover a "transformação de homens, famílias e comunidades" por meio de experiências que combinam espiritualidade cristã e desafios físicos intensos. No Brasil desde 2017, o movimento ganhou destaque ao atrair figuras públicas como o influenciador Thiago Nigro, o ex-jogador Kaká, o empresário Kaká Diniz e o pai de Neymar. O grupo organiza eventos como o TOP, uma imersão de 72 horas na natureza, onde os participantes enfrentam atividades como trilhas, acampamentos e reflexões espirituais, sob o lema "AHU" — Amor, Honra e Unidade.
De acordo com Chepe Putzu, o objetivo é "restaurar o desenho original do homem: um líder que ama, honra e une". Ele enfatiza que o movimento busca resgatar virtudes cristãs, como a responsabilidade do homem como líder familiar e servo da sociedade, sem impor estereótipos de masculinidade. No entanto, a iniciativa também enfrenta críticas. Postagens no X apontam que o Legendários reforça ideias de masculinidade tradicionais, com alguns usuários comparando-o a movimentos redpill ou questionando os altos custos de participação, que variam de R$ 450 a R$ 81 mil, dependendo do local e da estrutura do evento.
O evento e os custos envolvidos
O TOP, principal atividade do Legendários, é descrito como uma experiência de quatro dias que combina pregações religiosas, desafios físicos e momentos de introspecção. Os participantes, que devem carregar mochilas de até 14 kg com itens como barracas e sacos de dormir, ficam desconectados do mundo exterior, sem acesso a celulares. Segundo o site oficial, a proposta é levar os homens a encontrar "sua melhor versão" e um "novo potencial". No entanto, relatos de ex-participantes, como um anônimo citado em reportagem do RIC.com.br, mencionam condições desafiadoras, como a oferta de apenas duas barrinhas de chocolate como alimentação durante um fim de semana, o que levanta preocupações sobre o suporte oferecido durante as atividades.
Os custos elevados também geram debate. Enquanto eventos mais acessíveis custam cerca de R$ 1.490, pacotes como o "TOP Pantanal" ou "TOP Rio de Janeiro" podem chegar a R$ 81.590, com inscrições frequentemente esgotadas. A organização afirma oferecer bolsas e auxílios financeiros para incluir homens de diferentes classes sociais, mas a falta de transparência sobre os critérios de acesso e os protocolos de segurança, especialmente após a morte de Rodrigo, tem sido alvo de críticas.
Questionamentos sobre segurança
A morte de Rodrigo Nunes não é o primeiro caso associado ao Legendários. Em 31 de janeiro de 2025, Fábio Adriano Machado Cherini, de 44 anos, faleceu após passar mal durante um acampamento do grupo em Rio Negro, Mato Grosso do Sul. Segundo a Polícia Civil, ele apresentou confusão mental e sofreu paradas cardíacas, sendo atendido por uma equipe médica contratada pelo evento, mas não resistiu. Em 2022, outro participante sofreu um mal súbito ao retornar de um retiro em Curitiba, também resultando em morte. Esses incidentes intensificam as discussões sobre a preparação física e médica exigida para os eventos, bem como sobre os procedimentos de emergência adotados pela organização.
Nas redes sociais, o caso de Rodrigo gerou reações mistas. Enquanto alguns usuários elogiam o movimento por sua proposta de transformação pessoal, outros, como o pastor Silas Malafaia, criticaram o Legendários, alegando que o grupo visa apenas arrecadar dinheiro. A Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) também emitiu um parecer considerando o movimento "incompatível com os princípios bíblicos e confessionais", desaconselhando a participação de seus membros.
Impacto e reflexões
O Movimento Legendários, presente em 13 países e com mais de 110 mil participantes globalmente, continua a crescer no Brasil, onde é o segundo maior público, atrás apenas da Guatemala. A adesão de celebridades e a viralização de vídeos nas redes sociais, como os compartilhados por influenciadores como Eliezer e Viih Tube, têm ampliado sua visibilidade. Contudo, a tragédia em Rondonópolis reforça a necessidade de maior transparência sobre as condições de saúde dos participantes e os protocolos de segurança nos eventos.
A morte de Rodrigo Nunes de Oliveira deixa um alerta para a importância de medidas preventivas em atividades que envolvem esforços físicos intensos, especialmente em contextos de imersão prolongada. Enquanto o Legendários segue promovendo sua mensagem de transformação, o caso reacende o debate sobre o equilíbrio entre espiritualidade, desafios físicos e responsabilidade organizacional.
Nota do movimento*
O Movimento Legendários encaminhou nota na tarde desta segunda-feira sobre o episódio. Veja a íntegra abaixo:
*Atualizada às 17h20min para inclusão da nota do Movimento Legendários
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