Montadoras tradicionais acusam chinesas de 'baixar o preço' e pedem proteção ao mercado brasileiro
Em meio ao crescimento de 317% nas importações chinesas, BYD e GWM são alvos de investigação por suposta prática de preços abaixo do custo de produção
Em uma movimentação que promete agitar o mercado automotivo brasileiro em 2025, as montadoras tradicionais, representadas pela Anfavea, iniciaram um processo de investigação contra as fabricantes chinesas por suposta prática de dumping. O caso, que tem como principais alvos a BYD e GWM, reflete a crescente tensão no setor após as importações chinesas atingirem números recordes em 2024.
Números que alarmam o mercado
As estatísticas são impressionantes: as importações da China cresceram 317% em 2024, totalizando 175.000 unidades. Pela primeira vez desde 2015, o Brasil importou mais veículos (467.000 unidades) do que exportou (398.000 unidades). Apenas a BYD e a GWM foram responsáveis por 106.000 veículos eletrificados vendidos no país, representando 60% de todos os eletrificados importados.
O custo Brasil versus competitividade chinesa
Segundo estudos da McKinsey, o custo de produção de um mesmo automóvel no Brasil é entre 7% e 10% maior do que nos Estados Unidos, que por sua vez já possui custos superiores aos asiáticos. Esta diferença se deve a diversos fatores:
Carga tributária elevada: O conhecido "Custo Brasil" impacta significativamente o preço final dos veículos
Custos logísticos: Infraestrutura deficiente eleva gastos com transporte e armazenamento
Complexidade regulatória: Burocracia e normas específicas aumentam custos operacionais
Custos trabalhistas: Encargos sociais e trabalhistas mais elevados que a média internacional
Reação das empresas chinesas
A BYD reagiu energicamente às acusações, afirmando que "nega categoricamente qualquer prática de dumping" e ressaltando seu compromisso com o Brasil através da construção do maior complexo industrial da companhia fora da China, em Camaçari, Bahia. A empresa ainda criticou as "montadoras tradicionais que tentam utilizar artimanhas para esconder a falta de competitividade."
A GWM, por sua vez, declarou que segue rigorosamente as regras internacionais e a legislação brasileira, destacando seus planos de produção local em Iracemápolis, São Paulo, prevista para iniciar ainda no primeiro semestre de 2025
Medidas protecionistas em discussão
A Anfavea já solicitou ao governo federal medidas protecionistas, incluindo:
Antecipação da alíquota cheia de importação (35%) para veículos eletrificados
Revisão do atual cronograma de taxação, que prevê:
18% de imposto atual
Aumento para 25% em julho de 2025
Alcance dos 35% apenas em julho de 2026
Precedentes internacionais
O caso brasileiro segue os passos da União Europeia, que em outubro de 2024 elevou as tarifas de importação para veículos elétricos chineses em até 38,1%, após investigação similar sobre práticas de dumping.
Perspectivas para o mercado
A Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), através de seu presidente Ricardo Bastos, reconhece o direito à investigação de dumping previsto pela OMC, mas ressalta não identificar distorções nas relações comerciais entre Brasil e China.
O caso promete se estender ao longo de 2025, com potenciais impactos significativos para o mercado automotivo brasileiro, especialmente no segmento de veículos eletrificados, onde as marcas chinesas têm demonstrado forte competitividade e aceitação do consumidor.
A disputa evidencia o delicado equilíbrio entre a proteção da indústria nacional e a necessidade de modernização do setor automotivo brasileiro, especialmente na transição para a mobilidade elétrica, onde as empresas chinesas têm demonstrado significativa vantagem tecnológica e competitiva.