Ministros do STF alertam sobre persistência do extremismo após novo atentado em Brasília
Em sessão plenária, magistrados destacam série histórica de ataques e criticam tentativa de "naturalização do absurdo" após explosão que matou homem na Praça dos Três Poderes
Em pronunciamentos durante a sessão plenária desta quinta-feira (14), ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) manifestaram preocupação com a persistência do extremismo no Brasil, após um novo atentado ocorrido na quarta-feira (13), quando um homem detonou explosivos na Praça dos Três Poderes, resultando em sua própria morte.
O presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, enfatizou que o episódio não é um caso isolado, mas parte de uma sequência de ataques contra as instituições democráticas que culminaram na invasão de 8 de janeiro de 2023. "Querem perdoar sem antes sequer condenar", criticou Barroso, alertando sobre tentativas de naturalizar atos extremistas.
O decano Gilmar Mendes traçou uma linha histórica dos ataques, lembrando eventos como os disparos de fogos de artifício contra o STF em 2020, o acampamento no QG do Exército, e a tentativa de explosão próxima ao aeroporto de Brasília em dezembro de 2023. "O discurso de ódio, o fanatismo político e a indústria de desinformação foram largamente estimulados pelo governo anterior", afirmou.
O ministro Alexandre de Moraes destacou a atuação da polícia judicial do STF, que impediu a entrada do homem no Tribunal, e criticou a banalização do ato. "No mundo todo, alguém que coloca na cintura artefatos para explodir pessoas é considerado terrorista", ressaltou.
O novo ministro Flávio Dino alertou sobre a "personalização" de decisões da Corte, que segundo ele gera "ódios especialmente concentrados". Ele enfatizou que o tribunal opera de forma colegiada e que "a decisão de apenas um ministro não decide os rumos do Tribunal".
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, prestou solidariedade ao STF e reforçou a importância do trabalho conjunto entre a PGR e o Supremo na apuração e punição de atos antidemocráticos. O episódio ocorre às vésperas da celebração da Proclamação da República, marcada para esta sexta-feira (15), data que, segundo Barroso, deve servir para renovar o compromisso com os valores republicanos.
Ministro Gilmar Mendes
O decano do Tribunal também ressaltou que o ocorrido não foi um fato isolado, uma vez que, nos últimos anos, houve diversos atentados contra as instituições de Estado e a democracia. Mendes citou desde os disparos de fogos de artifício contra o STF, ainda em 2020, o acampamento no QG do Exército em Brasília, manifestações pedindo intervenção militar, a tentativa de invasão do prédio da Polícia Federal e a bomba plantada num caminhão em direção ao aeroporto de Brasília, em dezembro de 2023.
“Muito embora o extremismo e a intolerância tenham atingido o paroxismo em 8 de janeiro de 2023, a ideologia rasteira que inspirou a tentativa de golpe de Estado não surgiu subitamente”, afirmou. “O discurso de ódio, o fanatismo político e a indústria de desinformação foram largamente estimulados pelo governo anterior”.
Na sua avaliação, revisitar os fatos que antecederam o ataque de ontem é pressuposto para um debate sobre a defesa das instituições, sobre a regulação das redes sociais e sobre eventuais propostas de anistiar criminosos.
Ministro Alexandre de Moraes
A atuação “competente e corajosa” da polícia judicial do STF no episódio foi um dos pontos ressaltados pelo ministro Alexandre de Moraes em seu pronunciamento, assim como o trabalho conjunto da Polícia Federal e das Polícias Civil e Militar do Distrito Federal, que resultou num trabalho “rápido e importantíssimo”.
Ele lamentou que, por questões ideológicas, ao ato, gravíssimo, esteja sendo banalizado e classificado como mero suicídio. “No mundo todo, alguém que coloca na cintura artefatos para explodir pessoas é considerado terrorista”, ressaltou. O fato, segundo ele, é que a polícia judicial evitou que o homem entrasse no Tribunal para detonar explosivos, e, no momento em que ele seria preso, explodiu a si mesmo.
O ministro lamentou a mediocridade que também normaliza o contínuo ataque às instituições. “Essas pessoas não são só negacionistas na área da saúde; são negacionistas do Estado Democrático de Direito, e devem e serão responsabilizadas”, concluiu.
Ministro Dias Toffoli
Ao subscrever as palavras dos que o antecederam em relação ao acontecimento de ontem, Toffoli também enalteceu o trabalho da polícia judicial. “Tenho orgulho de, quando presidente do STF e do Conselho Nacional de Justiça, ter aprovado a criação da Polícia Judicial, transformando a nossa Assessoria de Segurança em polícia, diante de tudo que acontecia e daquilo com que hoje vamos nos deparando”, afirmou.
Ministra Cármen Lúcia
A presidente do Tribunal Superior Eleitoral se solidarizou com todas as brasileiras e todos os brasileiros democratas que não estão de acordo com atos contrários ao direito. “Nesta véspera do dia em que se comemora a República, o que pretendemos é que, cada vez mais, a sociedade brasileira seja democraticamente republicana, para que a luz do melhor direito impere, e não os atos que vimos acontecer ontem”.
Ministro André Mendonça
Ao lamentar os graves fatos ocorridos ontem, o ministro afirmou a necessidade de resgatar um ambiente de solidariedade e de paz social a partir de uma democracia construída com responsabilidade e onde prevaleça o debate de ideias, “e nada além disso”. Segundo Mendonça, a violência não traz nenhuma possibilidade de construção e de pacificação. “Não é o poder da força, mas o poder dos argumentos e das boas razões que deve nortear a prática da democracia e da liberdade em seu contexto mais amplo”.
Ministro Flávio Dino
Para Dino, há uma banalização da ideia de que o Supremo será intimidado por gritos, xingamentos e ofensas, o que, a seu ver, além de ser inútil, incentiva pessoas desatinadas a se reunir, muitas vezes por meio da internet, para cometer crimes.
O ministro também criticou a “personalização” de algumas decisões da Corte, “que leva a ódios especialmente concentrados” e cria “uma mitologia negativa no discurso político no Brasil, que é a lenda das decisões monocráticas”. Dino ressaltou o princípio da colegialidade e da união institucional do Tribunal em torno das suas regras internas e das regras do jogo democrático. “A decisão de apenas um ministro não decide os rumos do Tribunal, porque todos os ministros, concordando ou discordando, participam das decisões do colegiado”, afirmou.
PGR
Também no início da sessão plenária, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, prestou solidariedade ao STF pelo episódio. “Está claro que o desrespeito às instituições continua a ter sinistros desdobramentos, demonstrando a importância do esforço que vem sendo desenvolvido pela PGR e pelo STF na apuração de responsabilidades e punição por atos violentos de propósito antidemocrático”, afirmou.