Milei autoriza entrada de tropas dos EUA na Argentina: Aliança estratégica ou ameaça à soberania nacional?
Em decreto polêmico assinado sem aval do Congresso, presidente Javier Milei abre bases navais para exercícios militares conjuntos, reacendendo debates sobre independência e parcerias internacionais
O presidente da Argentina, Javier Milei, assinou no dia 29 de setembro de 2025 um decreto que autoriza a entrada de um contingente militar dos Estados Unidos no território argentino para participar da Operação Tridente, um exercício naval conjunto programado entre 20 de outubro e 15 de novembro de 2025. A medida, que ocorre em bases navais como Mar del Plata, Ushuaia e Puerto Belgrano, além de áreas marítimas e terrestres destinadas à instrução militar, tem gerado intensas discussões no país sul-americano, especialmente em meio à grave crise econômica e às tensões geopolíticas regionais.
De acordo com o documento oficial, a autorização visa promover a “participação de tropas dos Estados Unidos da América na Operação Tridente, a ser realizada no território argentino”. O decreto foi endossado por autoridades como o ministro da Defesa, Luis Petri; o ministro do Interior, Lisandro Catalán; e o chanceler, Gerardo Werthein, entre outros membros do Executivo. O governo argentino justifica a decisão com base em uma “natureza excepcional” da situação, que “impossibilita que sejam seguidos os trâmites ordinários previstos na Constituição Nacional para a sanção das leis”, contornando assim a exigência de aprovação prévia do Congresso Nacional, conforme estabelecido pelo artigo 75, inciso 18, da Constituição.
O texto do decreto enfatiza os benefícios estratégicos da iniciativa: “O Exercício Tridente compartilha a experiência acumulada pelas Forças Navais Especiais dos Estados Unidos da América em operações combinadas, tanto em contextos de combate quanto em assistência humanitária, constituindo um recurso inestimável para potencializar nossas capacidades nacionais”. Além disso, destaca que os “intercâmbios de adestramento e os treinamentos combinados oferecem benefícios tangíveis para o fortalecimento das capacidades nacionais, a consolidação de alianças internacionais, a otimização de recursos e a melhoria da interoperabilidade e da integração doutrinária”. O governo Milei argumenta que a participação reforça o “compromisso com a estabilidade regional e a segurança internacional”, melhorando a reputação da Argentina como parceiro confiável e facilitando futuras operações multinacionais. Sem essa adesão, adverte o documento, “afetaria significativamente o adestramento naval em operações combinadas com a Marinha dos Estados Unidos da América”.
Pelos lados dos Estados Unidos, a operação envolverá oficiais da equipe Navy SEAL, uma das unidades mais especializadas das forças armadas americanas. Da Argentina, participarão o Agrupamento Comandos Anfíbios, o Agrupamento de Mergulhadores Táticos, o patrulhador oceânico ARA Bouchard, uma lancha rápida de patrulha e um helicóptero SH-3 Sea King, conforme relatado pelo jornal La Nación.
O timing da assinatura do decreto não passou despercebido. Ela ocorreu poucos dias após a divulgação de uma promessa do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de um robusto plano de ajuda financeira à Argentina para mitigar sua crise econômica. Essa coincidência tem alimentado especulações sobre possíveis negociações bilaterais, especialmente considerando as visitas recentes do chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, o almirante Alvin Holsey, à Argentina. Em abril de 2025, Holsey esteve na Base Naval de Ushuaia, e em agosto, expressou preocupações com a “crescente ameaça das organizações criminosas transnacionais”, que geram receitas anuais de US$ 358 bilhões (cerca de R$ 1,9 trilhão) com atividades ilícitas como tráfico de drogas, armas, pessoas, recursos naturais e vida silvestre. Na ocasião, o almirante defendeu uma “decidida cooperação” contra a influência chinesa no Cone Sul e na América Latina.
Críticas e preocupações com a soberania
A decisão, no entanto, não foi bem recebida por todos. Críticos apontam para o risco à soberania nacional e questionam a legalidade do procedimento. O prefeito de Ushuaia, Walter Vuoto, foi um dos primeiros a se manifestar publicamente, alertando em postagem no X (antigo Twitter): “a Terra do Fogo AeIAS [a Antártida e as ilhas do Atlântico Sul] não é moeda de troca para seus fins eleitorais”. Ele prosseguiu: “É a porta de entrada para a Antártida, é o território que protege nossa reivindicação sobre as Malvinas e, sobretudo, é a nossa casa”. E concluiu com veemência: “Não vamos permitir que ela seja usada para objetivos que prejudiquem nossos direitos e nossa história. Não vamos permitir. Vamos colocar um freio. Não vamos entregar nossa soberania”.
Nas redes sociais, as reações se multiplicaram. Usuários como @Kinggorilas1 classificaram a medida como uma “entrega de soberania”, chamando Milei de “sionista basura hijo de puta” e compartilhando links de veículos como o Perfil, que destacam o crescimento das preocupações com a “entrega de soberania”. Outros, como @turca123kordoba, acusaram o presidente de “entregar o país em mãos dos Estados Unidos”, enfatizando a inconstitucionalidade da ação. @reflexionyvoto convocou: “ARGENTINOS, DIGAMOS BASTA!!! #MileiTraidorALaPatria #JuicioPoliticoAMilei”, alertando os deputados para não serem “cúmplices dessa entrega”. Por outro lado, apoiadores como @___DENISE___EU_celebraram a aliança: “Milei autoriza a entrada de militares dos EUA na Argentina. \o/ MAGA neles !!“.
A imprensa argentina, como o La Nación, vincula a autorização à reativação do interesse do governo Trump em avançar uma Base Naval Integrada e um polo logístico antártico no extremo sul do continente. Outro ponto de controvérsia é o custo: os exercícios demandarão cerca de 60 milhões de pesos argentinos (US$ 42 mil, ou R$ 223,7 mil), debitados do orçamento já aprovado para o Ministério da Defesa.
Paralelamente, exercício binacional com o Chile
O mesmo decreto também aprova a participação argentina no Exercício Solidariedade, a ser realizado em Puerto Varas, no sul do Chile, de 5 a 11 de outubro de 2025. Realizado a cada três anos entre as forças armadas dos dois países, o evento foca em simulações de catástrofes naturais para oferecer ajuda humanitária, enquadrando-se no Acordo de Cooperação em Matéria de Catástrofes, assinado em 1997. O último ocorreu em 2019, em Concepción e Talcahuano. Segundo o Ministério da Defesa argentino, o exercício promove o “compromisso de trabalhar de forma articulada nas ações empreendidas pelas respectivas nações, no caso de catástrofes de origem natural ou provocadas pelo homem”. Em um contexto de instabilidade regional, com tensões envolvendo Venezuela e preocupações com crime transnacional, a medida de Milei reforça a aproximação com Washington, mas expõe fissuras internas. Analistas questionam se os ganhos estratégicos compensam os riscos à autonomia nacional.
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