Michel Temer defende federação MDB-Republicanos e descentralização no Summit Cidades 2025
Ex-presidente destaca redução de partidos, critica radicalização política e reforça importância dos municípios no pacto federativo
Durante o Summit Cidades 2025, realizado na capital catarinense, o ex-presidente Michel Temer (MDB) voltou ao centro do debate político ao defender a criação de uma federação entre seu partido, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), e o Republicanos, como estratégia para as eleições de 2026. Em coletiva à imprensa, Temer também criticou a polarização radical no Brasil e reiterou a necessidade de fortalecer os municípios por meio da descentralização de recursos, um dos pilares de sua fala no evento. A palestra de Temer, que abordou “A Constituição Federal e o Brasil de hoje”, lotou os palcos do summit e atraiu a atenção de prefeitos, gestores e especialistas de todo o país.
Uma federação para reduzir partidos
Conhecido por sua visão pragmática e articulada, Temer reforçou sua defesa pela redução do número de partidos políticos no Brasil, que atualmente ultrapassa 30 siglas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “É impossível governar o país com 34, 35 siglas partidárias. Eu nem chamo de partido, porque partido significa um conjunto de pessoas que pensa da mesma maneira e quer chegar ao poder para governar a União, Estado, municípios”, afirmou o ex-presidente.
Segundo Temer, a federação entre MDB e Republicanos, que vem sendo discutida nos bastidores, poderia ser um passo rumo à consolidação partidária. Essa possibilidade já havia sido mencionada em postagens nas redes sociais, como um comentário no X em 18 de junho de 2025, que apontou negociações envolvendo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), com o MDB. A federação, mecanismo previsto na legislação eleitoral desde 2021, permite que partidos atuem de forma unificada em eleições e no Congresso, mantendo suas identidades individuais, mas funcionando como uma única força política por pelo menos quatro anos.
Temer acredita que essa união pode contribuir para um sistema político mais coeso e eficiente. “Essas federações podem representar, em breve tempo, uma redução dos partidos políticos, o que é útil para o país”, destacou. A proposta alinha-se com sua trajetória de articulação política, marcada por esforços para construir consensos, como no plano “Ponte para o Futuro”, lançado em 2015, que serviu de base para seu governo após o impeachment de Dilma Rousseff.
Crítica à radicalização política
Além de abordar a reestruturação partidária, Temer criticou a radicalização do debate político no Brasil, que, segundo ele, vai além da polarização saudável de ideias. “Na democracia, polarizar ideias é fundamental. A oposição existe para ajudar a governar, porque ela fiscaliza, critica, contradita. O que existe no Brasil não é uma discussão de ideias, é uma radicalização: brasileiro contra brasileiro, instituição contra instituição, corporação contra corporação”, lamentou.
O ex-presidente apontou que essa divisão fere os princípios constitucionais, que expressam a vontade popular. “Quando há uma desconformidade com o texto constitucional de um lado, há uma desobediência à vontade popular”, afirmou, reforçando sua formação como jurista e constitucionalista. Temer, que participou da Assembleia Constituinte de 1987, é autor de obras como Elementos de Direito Constitucional e já foi professor na PUC-SP.
Essa crítica ressoa com análises recentes sobre o cenário político brasileiro. Em artigo publicado no Congresso em Foco em janeiro de 2025, o analista Marcus Pestana destacou a complexidade do tabuleiro eleitoral para 2026, com partidos buscando reposicionamento em meio à polarização entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Temer, ao defender a pluralidade de projetos para 2026, sinaliza a intenção de evitar que o pleito se reduza a um embate entre dois nomes, como ocorreu nas últimas eleições.
Em defesa dos municípios
A palestra de Temer no Summit Cidades 2025, realizada em 24 de junho, foi um dos momentos mais aguardados do evento, que reuniu centenas de participantes em 11 palcos simultâneos. Com o tema “A Constituição Federal e o Brasil de hoje”, o ex-presidente enfatizou o papel central dos municípios no pacto federativo. “São os municípios que fortalecem o Estado, e o Estado que fortalece a União. Essa é a verdadeira concepção federativa. A origem dos Estados e da União está na figura do município”, declarou.
Temer defendeu a descentralização de recursos e maior autonomia para os gestores municipais, uma demanda recorrente entre prefeitos. Ele recordou sua iniciativa, durante a presidência (2016-2019), de destinar R$ 2 bilhões ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM) para aliviar a crise fiscal enfrentada pelas prefeituras em 2016. “Considero formidável buscar mais recursos para os municípios. Tem que ser feito a todo momento”, afirmou.
A pauta da descentralização também ganhou destaque em outros fóruns recentes. Em fevereiro de 2025, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), participou do Encontro de Novos Prefeitos e Prefeitas, onde reforçou a necessidade de um pacto federativo mais equilibrado, com maior transferência de recursos da União para os municípios. A PEC da Sustentabilidade Fiscal (PEC 66/2023), mencionada no evento, é uma das propostas que buscam atender a essa demanda, equilibrando as finanças das prefeituras.
Articulação para 2026
Embora Temer tenha focado em propostas institucionais no Summit Cidades, sua fala inevitavelmente reacende especulações sobre seu papel nas articulações para as eleições de 2026. Desde o início do ano, o ex-presidente tem defendido a construção de uma candidatura de centro-direita que una governadores como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União-GO), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Junior (PSD-PR) e Eduardo Leite (PSD-RS).
Em maio de 2025, Temer afirmou ao O Globo que essa aliança não exclui Jair Bolsonaro, mas deve priorizar um programa comum, inspirado no “Ponte para o Futuro”. A proposta, no entanto, gerou críticas de bolsonaristas, como o pastor Silas Malafaia, que defendeu a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como alternativa caso a inelegibilidade de Jair Bolsonaro seja mantida.
No Summit Cidades, Temer evitou citar nomes específicos, mas reiterou a importância de oferecer aos brasileiros “opções de projetos” em 2026. “O país precisa de programas claros para que o eleitor possa escolher com base em ideias, e não apenas em nomes”, disse. Essa visão foi reforçada em entrevista à Gazeta do Povo em maio, quando o ex-presidente sugeriu que Lula deveria “meditar” sobre uma nova candidatura devido à queda de popularidade.
Recepção e impacto
A participação de Temer no Summit Cidades 2025 consolidou sua imagem como uma liderança política experiente, capaz de dialogar com diferentes setores. A organização do evento destacou a grande procura pela palestra do ex-presidente, que atraiu autoridades de todo o país. “Temer trouxe uma reflexão profunda sobre o papel da Constituição e dos municípios, além de apontar caminhos para o futuro político do Brasil”, afirmou um dos coordenadores do summit em nota oficial.
Nas redes sociais, a fala de Temer gerou repercussão moderada. Alguns usuários no X elogiaram sua defesa da descentralização, enquanto outros questionaram a viabilidade da federação MDB-Republicanos em um cenário de fragmentação partidária. Um post no X, datado de 24 de junho, destacou: “Temer fala em reduzir partidos, mas o MDB perdeu 340 mil filiados desde 2017. Será que ele consegue convencer o Republicanos a embarcar nessa?”
Contexto político
O Summit Cidades 2025 ocorre em um momento de reconfiguração do cenário político brasileiro. Com a proximidade das eleições de 2026, partidos buscam alianças estratégicas para enfrentar a polarização entre PT e PL. O MDB, maior partido do país com 2,06 milhões de filiados em abril de 2025, enfrenta desafios internos, como a divisão entre apoiar Lula no Norte e Nordeste ou uma candidatura de oposição no Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Já o Republicanos, com forte influência evangélica e presença crescente em estados como São Paulo, vê na federação uma oportunidade de ampliar sua relevância nacional. A possível parceria com o MDB pode fortalecer a candidatura de Tarcísio de Freitas, apontado como um dos principais nomes da direita para 2026.
Legado e desafios
Michel Temer, aos 84 anos, segue como uma figura central na política brasileira. Sua trajetória inclui seis mandatos como deputado federal, duas presidências da Câmara dos Deputados, a vice-presidência (2011-2016) e a presidência da República (2016-2019). Como presidente nacional do MDB por três vezes, ele consolidou o partido como uma força de centro, mas enfrenta o desafio de manter sua relevância em um cenário de renovação política.
O Summit Cidades 2025 reforçou a capacidade de Temer de articular ideias e dialogar com diferentes públicos. Sua defesa da federação MDB-Republicanos, da descentralização de recursos e de um debate político menos radicalizado sinaliza uma tentativa de reposicionar o centro político como alternativa viável para 2026. Resta saber se suas propostas encontrarão eco em um país marcado por divisões profundas.
Palavras-chave: Michel Temer, MDB, Republicanos, federação partidária, Summit Cidades 2025, descentralização, municípios, Fundo de Participação dos Municípios, eleições 2026, polarização política, Constituição Federal
Hashtags: #PainelPolitico #MichelTemer #MDB #Republicanos #SummitCidades2025 #Eleições2026 #Descentralização #Municípios #PolíticaBrasileira