Massacre no Complexo da Penha: Operação Policial mais letal da história do Rio pode ter matado 128 pessoas
Moradores retiram 64 corpos após operação; Ativistas denunciam execuções e cobram Justiça Internacional

Na madrugada desta quarta-feira, moradores do Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, protagonizaram uma cena de horror ao retirar cerca de 64 corpos de uma área de mata na região da Vacaria, na Serra da Misericórdia, e levá-los para a Praça São Lucas, localizada na Estrada José Rucas, uma das principais vias da comunidade. Os corpos, todos de homens jovens, foram enfileirados e expostos publicamente a pedido de familiares, cobertos por lençóis enquanto aguardam remoção pelo Instituto Médico-Legal (IML). Essa ação desesperada ocorre um dia após a Operação Contenção, deflagrada em 28 de outubro, que se tornou a mais letal da história do estado, com confrontos intensos entre forças de segurança e traficantes do Comando Vermelho (CV).
A operação, que mobilizou cerca de 2.500 agentes das Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, visava cumprir 100 mandados de prisão contra 94 integrantes do CV identificados em investigações de mais de um ano. Os alvos principais incluíam líderes como Edgar Alves de Andrade (Doca) e Márcio dos Santos Nepomuceno (Marcinho VP), acusados de coordenar a expansão da facção em quase 50 territórios na capital e na Baixada Fluminense, com punições a moradores, torturas e controle de pontos de venda de drogas via aplicativos de mensagens. Ao chegarem às comunidades, as equipes policiais foram recebidas com tiros, barricadas incendiadas e até bombas lançadas por drones, forçando criminosos a fugirem para áreas de mata densa.
O balanço oficial divulgado pelo governo estadual, até o momento, registra 64 mortes: 60 suspeitos em confrontos armados e quatro policiais. Entre os agentes mortos estão Rodrigo Velloso Cabral, de 34 anos, da 39ª Delegacia de Polícia (Pavuna); Marcus Vinícius Cardoso de Carvalho, de 51 anos, conhecido como “Máskara” e recém-promovido a chefe de investigação da 53ª DP (Mesquita); Heber Carvalho da Fonseca, sargento do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ), de 39 anos; e Cleiton Serafim Gonçalves, também sargento do BOPE, de 42 anos. Além das fatalidades, 15 policiais e três civis inocentes ficaram feridos. A ação resultou em 81 prisões, incluindo Thiago do Nascimento Mendes (Belão do Quitungo), chefe regional do CV, e Nicolas Fernandes Soares, operador financeiro de Doca. Foram apreendidos 93 fuzis, duas pistolas e nove motos, segundo dados da Polícia Civil.
No entanto, os 64 corpos resgatados pelos moradores na madrugada não constam desse balanço oficial. O secretário de Segurança Pública da PMERJ, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, confirmou em coletiva nesta quarta-feira que uma perícia está em andamento para verificar se os óbitos têm relação direta com a operação. “Se realmente se tratar de novos óbitos, o total de mortes pode ultrapassar 100”, alertou o oficial, destacando que os corpos foram encontrados na mesma região de confrontos intensos. Moradores estimam um saldo acumulado de pelo menos 128 mortes desde o início dos tiroteios na terça-feira, com relatos de mais seis corpos localizados no Complexo do Alemão e levados ao Hospital Getúlio Vargas.
A cena na Praça São Lucas chocou a comunidade e o país. Relatos de moradores e ativistas apontam para indícios de execuções sumárias: muitos corpos apresentavam marcas de tiros na nuca, facadas nas costas e ferimentos nas pernas, além de um caso extremo em que um cadáver chegou sem cabeça, com as mãos ainda agarrando grama. A advogada Flávia Fróes, que acompanhou a retirada dos corpos, descreveu o episódio como “o maior massacre da história do Rio de Janeiro”, enfatizando violações de direitos humanos em comunidades marginalizadas. Uma mãe, ao reconhecer o filho de 20 anos entre as vítimas – com o pulso amarrado –, chorou: “Dava tempo de socorrer”. Gritos de “polícia assassina, cadê meu filho?” ecoaram enquanto mulheres se abraçavam em prantos.
O ativista local Raull Santiago, morador do Complexo da Penha que ajudou na remoção dos corpos, transmitiu a cena ao vivo e desabafou: “Em 36 anos de favela, passando por várias operações e chacinas, eu nunca vi nada parecido com o que estou vendo hoje. É algo novo. Brutal e violento num nível desconhecido”. Ele classificou o evento como “uma chacina que entra para a história do Rio de Janeiro, do Brasil e marca com muita tristeza a realidade do país”. Defensores de direitos humanos, como a Defensoria Pública da União, pediram a intervenção da Comissão Interamericana de Direitos Humanos para a presença de peritos internacionais no Rio.
Politicamente, a operação gerou embates. O governador Cláudio Castro (PL) acusou o governo federal de negar apoio, afirmando que três pedidos de envio das Forças Armadas foram rejeitados, deixando o estado “sozinho”. O Planalto rebateu, destacando o envio da Força Nacional e a autorização para transferência de dez presos do CV a presídios federais. Organizações internacionais reagiram com veemência: a ONU expressou “horror” com a letalidade e cobrou investigações rápidas; a Anistia Internacional criticou a política de segurança de Castro, responsável por quatro das cinco operações mais mortais do RJ nos últimos anos, como a de Jacarezinho (28 mortes, 2021) e outra na Penha (23 mortes, 2022).
Os impactos sociais foram imediatos e profundos. Cerca de 280 mil moradores dos complexos do Alemão e da Penha enfrentaram um dia de caos: barricadas com ônibus queimados afetaram mais de 200 linhas de transporte público e danificaram 71 veículos; escolas e universidades como UFRJ, Uerj, UFF e FAETEC suspenderam aulas; e escolas de samba como Viradouro e Grande Rio cancelaram ensaios técnicos em meio à violência. Reféns foram feitos por criminosos, e residências foram atingidas por balas perdidas, ampliando o trauma em periferias já marcadas por desigualdades.
Enquanto o IML e peritos trabalham para identificar as vítimas – muitas sem documentos, possivelmente incluindo inocentes baleados em meio ao fogo cruzado –, a operação reforça o debate sobre segurança pública no Brasil. Especialistas cobram uma abordagem que priorize inteligência, plano de carreira policial e respeito à vida, em vez de ações de alto risco que vitimam comunidades inteiras.
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