Marcos Rocha: O fim precoce de um governo que nunca começou
Acusações de corrupção, promessas não cumpridas e gastos questionáveis em viagens internacionais marcam o fim melancólico de um mandato que prometia transparência e mudanças
Finais de governo, quando não existe uma harmonia entre o titular e seu vice, costumam ser turbulentos, mas isso só ocorre no ano da eleição. Em Rondônia, uma série de trapalhadas políticas, incompetência administrativa e ações autofágicas, estão antecipando com muita ‘m*erda do ventilador’ o fim de um governo que na verdade, nunca começou.
O governo de Marcos Rocha, iniciado em 1º de janeiro de 2019 deixa um legado de controvérsias, crises autogestionadas e promessas não realizadas. Eleito com a bandeira do combate à corrupção e da eficiência administrativa, o coronel da reserva da Polícia Militar, filiado ao União Brasil, enfrentou ao longo de seus dois mandatos uma série de escândalos que abalaram sua credibilidade.
Denúncias graves envolvendo seu ex-chefe da Casa Civil, José Gonçalves da Silva Júnior, conhecido como Júnior Gonçalves, que também preside o União Brasil em Rondônia, acusações de gastos exorbitantes em viagens internacionais de questionável retorno e a ausência de avanços estruturais, como a construção de um hospital de emergência, marcaram uma gestão desastrosa, cujo único resultado serão longos processos criminais nos próximos anos.
Com aspirações de concorrer ao Senado em 2026, mas sem um partido para chamar de seu, Rocha deixa o governo com seu vice, Sérgio Gonçalves, irmão de seu ex-Chefe da Casa Civil, principal articulador político e agora desafeto declarado, Júnior, como sucessor natural. Este texto, baseado em informações de fontes regionais e análises de redes sociais, detalha o histórico de crises, as denúncias de corrupção e os desafios enfrentados por Rondônia sob a gestão Rocha.
A promessa inicial: transparência e desenvolvimento
Marcos Rocha assumiu o governo de Rondônia em 2019 com um discurso alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, prometendo uma administração técnica, combate à corrupção e modernização do estado. Em abril de 2019, ao lado do então ministro da Justiça, Sérgio Moro, lançou um pacote de medidas anticorrupção, incluindo a criação do Comitê de Transparência e o sistema ERP-Sugesp, que, segundo Júnior Gonçalves, permitiria monitoramento em tempo real de despesas públicas, como diárias e combustíveis.
O Plano Estratégico 2019-2023 foi apresentado como um marco para tornar Rondônia referência nacional em governança, com destaque para a construção do Hospital de Emergência e Urgência (Heuro) em Porto Velho, anunciado como solução para os gargalos na saúde pública. No entanto, essas promessas não se concretizaram, e o governo logo enfrentou crises que minaram sua imagem.
Mas desde o primeiro dia o ‘novo governo’ já prenunciava que Rocha estava mais preocupado com seus interesses pessoais que com Rondônia. Marcos Rocha e sua esposa Luana fizeram uma cerimônia de posse às carreiras para conseguir pegar um voo para Brasília e assistir a posse de Jair Bolsonaro. Bajularam, tentaram forçar uma proximidade que nunca existiu e voltaram dias depois sem nenhum resultado concreto. Jair Bolsonaro nunca colocou um mísero real em investimento em Rondônia durante seu mandato de 4 anos.
Crises que definiram o governo
O mandato de Marcos Rocha foi marcado por uma sucessão de polêmicas, muitas delas ligadas a denúncias de corrupção e má gestão. Abaixo, um histórico detalhado das principais crises:
1. Operação Propagare (2021):
Em maio de 2021, a Operação Propagare, deflagrada pelo Ministério Público de Rondônia, revelou indícios de um esquema de corrupção em contratos de publicidade estatal. A operação resultou no afastamento temporário de Gonçalves, que retornou ao cargo em junho de 2021, após decisão do Tribunal de Justiça, com a restrição de não atuar junto à Superintendência de Comunicação (Secom). Marcos Rocha, em resposta, limitou-se a afirmar que “cada servidor responde por suas ações em seu CPF”, evitando medidas mais drásticas contra seu aliado.
2. Denúncias de “sites fantasmas” e desvios na mídia:
Em 2025, novas denúncias abalaram a gestão. O Rondoniagora.com revelou que verbas de mídia estatal teriam sido destinadas a “sites fantasmas”, levantando suspeitas de desvios de recursos públicos. A falta de transparência nas investigações e a ausência de respostas claras do governo intensificaram o desgaste, especialmente em um contexto de protestos, como o bloqueio da BR-364 em Cujubim por produtores rurais, que denunciavam a má gestão estadual.
3. Gastos questionáveis em viagens internacionais:
Marcos Rocha enfrentou críticas crescentes por gastos elevados em viagens internacionais que, segundo opositores, trouxeram poucos resultados concretos para Rondônia. Reportagens locais, como as do portal Tudo Rondônia, apontaram que o governador realizou diversas missões ao exterior, custando milhares de reais aos cofres públicos, com objetivos vagos, como “prospecção de investimentos” ou “intercâmbio técnico”.
Em 2023, por exemplo, uma viagem à Europa, acompanhado de comitiva, foi questionada pela Assembleia Legislativa devido à falta de relatórios detalhando os benefícios para o estado. Essas despesas, em um contexto de crise fiscal e ausência de investimentos em áreas prioritárias como saúde e infraestrutura, alimentaram a narrativa de má gestão e distanciamento das necessidades da população.
4. O fracasso do Heuro:
A construção do Hospital de Emergência e Urgência, prometida desde 2019, tornou-se o maior símbolo das promessas não cumpridas. Em março de 2022, Rocha lançou a pedra fundamental da obra, mas a licença ambiental só foi protocolada em abril de 2023, evidenciando falta de planejamento. A licença foi cassada pela prefeitura de Porto Velho, sob gestão de Hildon Chaves, aliado do governador, que classificou o projeto como “uma farsa”. O senador Marcos Rogério (PL-RO), adversário de Rocha nas eleições de 2022, acusou o governo de usar a promessa como peça de campanha eleitoral. Até hoje, nenhum hospital foi construído, deixando a saúde pública em situação crítica, com superlotação no Hospital João Paulo II e falta de leitos de UTI.
5. Aumento de impostos e crise fiscal:
A gestão Rocha foi marcada por medidas fiscais impopulares, como o aumento do ICMS de 17,5% para 21% em 2023, que impactou diretamente o custo de vida dos rondonienses. O Tribunal de Contas do Estado (TCE) recomendou a reprovação das contas de 2024, apontando aumento de despesas sem investimentos estruturantes e descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. O senador Marcos Rogério criticou a medida, afirmando que ela refletia a “falta de planejamento e visão” do governo. A tentativa de zerar o ICMS do gás de cozinha, proposta por Rocha, foi adiada pelo Confaz, reforçando a percepção de ineficiência administrativa.
6. Crises institucionais e perda de aliados:
A gestão Rocha enfrentou tensões com a Assembleia Legislativa, o Tribunal de Contas e até mesmo aliados políticos. Em 2019, um pedido de impeachment foi protocolado pelo advogado Caetano Vendiamiatti Netto, alegando que o governador nomeou presidentes de autarquias sem aprovação legislativa, violando a Constituição Estadual. Embora o pedido não tenha prosperado, ele expôs fragilidades na articulação política. Em 2025, a tentativa de “silenciar” Júnior Gonçalves, conforme noticiado pelo Rondoniagora.com, gerou atritos no União Brasil, com o presidente nacional da sigla, Antônio Rueda, expressando insatisfação com a condução política de Rocha.
O papel de Júnior Gonçalves e o controle do União Brasil
Júnior Gonçalves, presidente do União Brasil em Rondônia, foi uma figura central no governo Rocha. Como chefe da Casa Civil, ele exerceu forte influência nas decisões administrativas e políticas, mas sua gestão foi marcada por controvérsias. Além da Operação Propagare, Gonçalves foi acusado de articular a nomeação de seu irmão, Sérgio Gonçalves, como vice-governador na chapa de reeleição de Rocha em 2022, uma decisão que gerou protestos entre aliados, segundo o portal Planeta Folha. A escolha foi vista como uma manobra para consolidar o poder da família Gonçalves, com críticas à “arrogância” de Sérgio durante a campanha. Júnior também indicou seu tio, João Gonçalves, como segundo suplente da senadora Mariana Carvalho, reforçando sua influência no cenário político local.
A permanência de Júnior na Casa Civil, mesmo após denúncias, e sua liderança no União Brasil, consolidada em 2021 após negociações com o presidente nacional do partido, Luciano Bivar, fortaleceram sua posição como articulador político. No entanto, a tentativa de afastá-lo em 2025, conforme reportado pelo Rondoniagora.com, gerou uma crise interna no governo, com especulações de que Rocha buscava neutralizá-lo para proteger sua candidatura ao Senado em 2026. A tensão entre Rocha e Gonçalves reflete a luta pelo controle político do estado, com o vice-governador Sérgio Gonçalves posicionado como sucessor natural caso Rocha deixe o cargo para disputar o Senado.
Viagens internacionais e ambições senatoriais
As viagens internacionais de Marcos Rocha tornaram-se um ponto de crítica recorrente. Segundo o portal Tudo Rondônia, o governador gastou milhares de reais em missões ao exterior, como viagens à Ásia e à Europa, com objetivos pouco claros, como “fomentar parcerias comerciais” ou “captar investimentos”. A falta de relatórios detalhando os resultados dessas viagens alimentou acusações de desperdício de recursos públicos, especialmente em um estado com carências em saúde, educação e infraestrutura. Em 2024, a Assembleia Legislativa cobrou esclarecimentos, mas as respostas do governo foram consideradas insuficientes, ampliando a percepção de desconexão com as prioridades locais.
Paralelamente, Rocha manifestou interesse em concorrer ao Senado em 2026, mas enfrenta obstáculos significativos. Sem o comando do União Brasil, que permanece sob controle de Júnior Gonçalves, o governador terá dificuldades para articular uma base sólida. Além disso, a possível ascensão de Sérgio Gonçalves ao governo, caso Rocha renuncie para disputar o Senado, coloca a família Gonçalves em posição de destaque, potencializando conflitos internos no partido. O Rondoniagora.com sugere que a tentativa de “silenciar” Júnior Gonçalves seria parte de um plano para enfraquecer a influência da família e viabilizar candidaturas de aliados próximos, como a primeira-dama Luana Rocha ou o irmão Sandro Rocha, ambos inelegíveis caso o governador permaneça no cargo.
Se o governador se desincompatibilizar (renunciar ao cargo) nos seis meses anteriores ao pleito, o cônjuge pode ser candidato a qualquer cargo, inclusive a deputada federal, segundo o Tribunal Superior Eleitoral.
Impactos na população e percepção pública
O governo Rocha deixa Rondônia com desafios profundos. A ausência de novos hospitais, agravada pela não construção do Heuro, foi sentida durante a pandemia de Covid-19, apesar de avanços pontuais, como o aumento de leitos de UTI. A economia, embora tenha registrado crescimento no agronegócio (de R$ 9 bilhões em 2019 para R$ 20 bilhões em 2022), não conseguiu reduzir desigualdades ou gerar empregos em escala. O aumento do ICMS e a falta de investimentos em infraestrutura, como pavimentação de rodovias e drenagem urbana, geraram insatisfação em cidades como Porto Velho, Ji-Paraná e Cacoal.
Nas redes sociais, a percepção sobre o governo é polarizada. Postagens recentes no X criticam a reprovação das contas pelo TCE e a ineficiência na saúde, enquanto apoiadores, especialmente em redutos eleitorais como Ji-Paraná, destacam a postura conservadora de Rocha e sua proximidade com Bolsonaro. A hashtag #ForaMarcosRocha ganhou tração em 2025, refletindo o descontentamento de parte da população, enquanto outros defendem programas como o “Prato Fácil”, que entregou mais de 1 milhão de refeições a pessoas de baixa renda.
Um fim melancólico e o futuro incerto
O governo Marcos Rocha, que começou com promessas de transformação, anuncia um fim envolto em crises que ele próprio construiu. As denúncias de corrupção, os gastos questionáveis em viagens internacionais, a influência de Júnior Gonçalves e a ausência de obras estruturantes, como o Heuro, marcaram um mandato que perdeu apoio político e popular.
Com aspirações senatoriais, Rocha enfrenta um cenário desafiador, sem controle do União Brasil e com a família Gonçalves consolidada no poder, especialmente com Sérgio Gonçalves como vice-governador. Enquanto Rondônia se prepara para uma nova gestão em 2027, a população busca respostas para os desafios deixados por um governo que, apesar de conquistas pontuais, ficou marcado por contradições e frustrações.
Um governo opaco
Rocha sempre esteve ausente em momentos críticos no Estado. O caso mais recente foi a crise na segurança pública no fim do ano passado, quando facções criminosas promoveram uma série de ataques em diversas regiões da capital. Rocha estava de férias e por lá ficou, alegando que ‘Sérgio estava cuidando’ e que ele próprio ‘estava sempre online em seu Whatsapp'. O episódio gerou um mal estar até mesmo entre aliados de primeira hora do governado, que tentaram amenizar a ausência do Chefe do Executivo, mas eles próprios não estavam plenamente convencidos.
Sem articulação com o governo federal, nem mesmo no período Jair Bolsonaro, quando começaram as audiências para tratar da privatização da BR 364, o governo deixou ‘correr solto’, culminando com uma concessão vantajosa apenas para o consórcio vencedor do leilão, que teve apenas um participante, por total falta de articulação estadual.
O governo Rocha não consegue dialogar com a bancada federal, que trabalha ‘às cegas', atendendo a demandas pontuais de municípios, em outras palavras, é um governo que nunca começou de fato.
Rondônia ficou isolada, e não fosse o senador Confúcio Moura, dificilmente o Estado receberia recursos para obras de infraestrutura importantes, como a ponte bi-nacional, Brasil-Bolívia em Guajará-Mirim, além do resgate de ações importantes como Minha Casa Minha Vida e outros programas sociais que adormeciam nas gavetas do governo estadual.
Ao mesmo tempo, a falta de diálogo com a bancada, impede o avanço de setores importantes, como a Saúde. A deputada federal Silvia Cristina, por exemplo, destinou recursos para a Sesau que nunca foram executados sem nenhuma explicação plausível.
Entre a bancada, o descontentamento com o governo estadual é unânime assim como as críticas.
Denúncias e troca de acusações
Nos últimos dias, o governo Rocha vem promovendo, através da imprensa, uma série de ataques ao ex-Chefe da Casa Civil, inclusive com a circulação de informações extra-oficiais de uma suposta operação policial contra Júnior Gonçalves. Uma crise desnecessária, politicamente amadora, que municia adversários e órgãos de controle, como Ministério Público e Tribunal de Contas.
Gonçalves, por sua vez, foi às redes sociais anunciar que ‘vai se defender’ e disse que nesta sexta-feira pretende fazer ‘uma live’ onde promete ‘restabelecer a verdade', sem dar maiores explicações sobre 'essas verdades'.
Uma crise sem precedentes
A população de Rondônia já testemunhou crises políticas complexas e graves, como do ex-governador Ivo Cassol, que gravou diversos ex-deputados estaduais que tentavam extorquir contratos em seu governo, resultando na Operação Dominó, da Polícia Federal que indiciou na época, 23 dos 24 deputados, além de prender o ex-presidente do Tribunal de Justiça, promotores e outras autoridades.
Mas foi uma crise provocada por terceiros. No caso de Rocha é uma crise provocada por ele próprio, por sua incapacidade de administrar relações internas. Ao mesmo tempo, a recusa de Gonçalves de deixar o cargo, provocou um desgaste desncessário, expondo as entranhas de um governo que sobrevive graças a propaganda e ao fato da máquina pública andar praticamente sozinha.
A aguardar os próximos capítulos de um roteiro que tem tudo para terminar com prisões, processos criminais extensos e a derrota para um grupo que teve tudo para fazer mudanças significativas para o Estado, mas optou pela mediocridade.
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