'Mão na Cabeça': Um retrato da chacina de Vigário Geral chega ao streaming
Filme dirigido por Milton Alencar Jr. e distribuído pela Iconic Films estreia em 1º de julho trazendo reflexão sobre violência, milícias e a força do cinema brasileiro
A partir de 1º de julho de 2025, o cinema brasileiro ganha destaque nas plataformas de streaming com a estreia de Mão na Cabeça, um longa-metragem que revisita um dos episódios mais trágicos da história recente do Rio de Janeiro: a Chacina de Vigário Geral, ocorrida em 1993, que deixou 21 mortos.
Dirigido por Milton Alencar Jr. e distribuído pela Iconic Films, sob a curadoria do cineasta Felipe Brêtas, o filme chega ao Amazon Prime Video, Apple TV e YouTube Filmes, trazendo uma narrativa ficcional ancorada em fatos reais, que mistura drama, romance e uma reflexão profunda sobre a violência e a impunidade nas comunidades brasileiras.
O filme, com roteiro de José Loureiro, conhecido por Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia (1977), apresenta a história de Leonardo (Roberto Bomtempo), um homem que, após sofrer um atentado a tiros, é internado e conhece Clarissa (Prisma da Matta), uma enfermeira marcada pela tragédia de Vigário Geral, onde perdeu sete familiares. A partir desse encontro, os dois exploram a possibilidade de um amor improvável, enquanto o filme, estruturado como uma colcha de retalhos de memórias, reconstrói os eventos que culminaram na chacina e suas consequências. O elenco estelar, que inclui Milhem Cortaz, André Gonçalves e Bárbara Reis, dá vida a uma trama que equilibra emoção e crítica social.
“A Chacina de Vigário Geral foi um marco, uma das primeiras a receber ampla cobertura midiática na época. O filme não apenas resgata essa memória, mas faz um paralelo com a realidade atual, onde as milícias, que começaram com justiçamentos como os de Vigário Geral e Candelária, se consolidaram como uma força poderosa, controlando serviços como transporte, internet e até a escolha de candidatos políticos nas comunidades”, explica Felipe Brêtas, produtor do filme. Ele destaca a relevância de Mão na Cabeça como uma obra necessária para entender a evolução das milícias no Rio de Janeiro, que hoje ocupam espaços no legislativo e na administração pública, configurando uma das máfias mais perigosas do país.
Um mergulho na história e na produção
A gênese de Mão na Cabeça remonta ao documentário Lembrar Pra Não Esquecer, filmado entre 2007 e 2009, que também abordava a chacina. Durante as pesquisas, Milton Alencar Jr. e sua equipe se conectaram com familiares das vítimas, como Iracilda, e figuras-chave, como a advogada Cristina Leonardo e o então promotor de justiça, hoje desembargador, Muiño Piñeiro. Essas interações com a comunidade de Vigário Geral foram fundamentais para a construção do filme, que transformou a dor e a impotência das vítimas em uma narrativa ficcional potente. “A ficção nos ajudou a dar voz a tantas ‘Clarissas’ que ainda vivem situações de injustiça e violência”, afirmou Alencar Jr. em entrevista ao Jornal de Brasília.
As filmagens, realizadas entre 2016 e 2017, enfrentaram desafios logísticos, especialmente pela dificuldade de gravar em Vigário Geral devido à crescente violência. A produção precisou buscar locações alternativas, como Cabo Frio e Silva Jardim, para recriar cenários que refletissem a realidade social das comunidades cariocas. A praça Catole do Rocha, em Vigário Geral, foi um ponto central da narrativa, mas outras locações, como um templo da Assembleia de Deus e um hospital, foram adaptadas para manter a autenticidade da história.
Iconic Films e a diversidade no streaming
Além de Mão na Cabeça, a Iconic Films estreia outras três produções no mesmo dia, reforçando sua aposta na diversidade de temas e formatos. Mar de Lama, documentário dirigido por Brêtas e Marcelo Caldas, aborda as tragédias ambientais de Mariana e Brumadinho, destacando o impacto humano e propondo soluções. “Comecei documentando Mariana, ajudando a população, e depois Brumadinho. O filme investiga causas e consequências, mas também aponta caminhos”, conta Brêtas. A obra foi premiada em festivais nacionais e internacionais, consolidando sua relevância.
Rio, também dirigido por Brêtas, é uma releitura da primeira série brasileira de temática LGBTQIAPN+ lançada em plataformas como Amazon e Apple TV. O longa mistura realidade e ficção, revisitando personagens e cenários do Rio de Janeiro em uma narrativa sensível e envolvente. Já O Jogo, outra produção de Brêtas, é uma sátira ao universo dos reality shows, inspirada em programas como Big Brother, De Férias com o Ex e A Fazenda. Originalmente uma série, a boa recepção levou à sua adaptação para o formato de longa-metragem, trazendo uma crítica mordaz aos bastidores da mídia e da competitividade.
O impacto do cinema brasileiro nas plataformas
A chegada dessas produções ao streaming reflete o momento de efervescência do cinema nacional. Brêtas celebra o reconhecimento do setor, especialmente após a indicação de um filme brasileiro ao Oscar, que trouxe novo fôlego à indústria. “Temos produções incríveis, mas muitas vezes faltam espaços para exibi-las. Estar em plataformas como Prime Video, Apple TV e YouTube Filmes é uma oportunidade de levar histórias autorais ao público brasileiro e internacional”, afirma.
Milton Alencar Jr., por sua vez, lamenta a permanência da violência nas comunidades, observando que a situação piorou desde a chacina de Vigário Geral. “O que resta é lembrar e não esquecer o sofrimento e a banalização da violência. A chacina gerou reações como o Viva Rio e o Afro Reggae, mas a justiça plena nunca foi alcançada”, reflete o diretor.
Um convite à reflexão
Mão na Cabeça e as demais estreias da Iconic Films são um convite para que o público brasileiro mergulhe em histórias que abordam questões sociais, culturais e ambientais com profundidade e sensibilidade. Disponíveis a partir de 1º de julho de 2025, essas produções reforçam o potencial do cinema nacional de dialogar com o presente e preservar a memória de eventos que moldaram a história do país.
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