Lula em 2025: entre crise política, risco de impeachment e pressões econômicas
O governo vê sua base de apoio fragmentar-se em meio a uma tempestade perfeita: desconexão com a base, alta da inflação e crise de credibilidade
O terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atravessa um momento crítico em 2025, enfrentando uma convergência sem precedentes de desafios políticos, econômicos e sociais.
O governo, que já registra os piores índices de aprovação legislativa desde a redemocratização, vê sua base de apoio fragmentar-se em meio a uma tempestade perfeita: queda acentuada de popularidade (31% de aprovação), pressões inflacionárias persistentes com o dólar acima de R$ 6,30, e uma crescente desconexão com as camadas populares - tradicionalmente seu principal sustentáculo político.
A situação é agravada por uma série de crises recentes, como a disseminação massiva de fake news sobre o Pix, que expôs as fragilidades da comunicação governamental, e o fortalecimento da oposição no Congresso, onde apenas 15% das medidas provisórias conseguiram aprovação no último ano.
Esse cenário complexo é ainda mais desafiador considerando a proximidade das eleições de 2026, com alertas vindos até mesmo do Nordeste, região historicamente leal ao PT, onde governadores como Fátima Bezerra (RN) já sinalizam que o apoio ao presidente "não está garantido".
A combinação desses fatores tem alimentado não apenas a retórica oposicionista por impeachment, mas também uma crescente inquietação no mercado financeiro e entre setores empresariais, que questionam a capacidade do governo de manter a estabilidade econômica e política necessária para as reformas estruturantes prometidas. Veja abaixo um ponto a ponto sobre a situação.
1. disputa no Congresso: nova configuração de forças
A eleição para as mesas do Congresso em fevereiro de 2025 tornou-se um teste crucial para o governo. Na Câmara, a disputa ganhou novos contornos com a candidatura do deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), que se apresenta como alternativa à base governista e ao Centrão. Van Hattem compete com Hugo Motta (Republicanos-PB), favorito apoiado pelo Centrão, e Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), representando a esquerda.
No Senado, a entrada do astronauta Marcos Pontes (PL) na disputa pela presidência da Casa, enfrentando Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), adiciona um elemento de imprevisibilidade à sucessão. A base governista encontra-se fragmentada, com parte dos senadores resistindo ao acordo que favoreceria Alcolumbre.
O cenário é agravado pelo histórico recente: apenas 20 das 133 medidas provisórias editadas até 2024 foram aprovadas, e 32 vetos presidenciais foram derrubados em 2023, evidenciando a fragilidade da articulação política do governo.
2. Crise de credibilidade e ameaças de impeachment
A popularidade de Lula sofreu forte impacto em janeiro de 2025, atingindo 31% de aprovação, com 37% de rejeição. Um dos fatores determinantes foi a crise gerada pela disseminação de fake news sobre o Pix. Segundo fontes do Palácio do Planalto, a desinformação sobre uma suposta taxação do sistema de pagamentos instantâneos contribuiu significativamente para o desgaste do governo.
O episódio levou o governo a tomar medidas emergenciais:
Edição de Medida Provisória reforçando a gratuidade do Pix
Investigações pela Polícia Federal sobre a origem das fake news
Campanha de esclarecimento pelo Banco Central
A oposição bolsonarista aproveitou o momento para intensificar o discurso pró-impeachment, organizando manifestações em diversas capitais. O movimento ganhou força com o apoio de setores do empresariado insatisfeitos com a política econômica. Na última segunda-feira, a oposição conseguiu reunir 100 assinaturas para um novo pedido de impeachment com base na decisão do TCU sobre o programa Pé-de Meia.
3. Inflação e tensões econômicas
A economia permanece como ponto sensível. O dólar que chegou a ser comercializado a R$ 6,30 pressiona a inflação, enquanto o pacote fiscal de 2024 foi considerado insuficiente pelo mercado. A proposta de isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil, combinada com a taxação de dividendos, ampliou a desconfiança dos investidores.
O Banco Central, sob Gabriel Galípolo, enfrenta o desafio de equilibrar o controle inflacionário com as pressões por redução da taxa Selic, em um contexto de crescente questionamento sobre sua independência.
4. Estratégias para 2025: recuperação e governabilidade
Para reverter o quadro adverso, o governo precisa:
Recomposição Política
Negociar apoios para as eleições das mesas do Congresso
Ampliar a base parlamentar com acordos programáticos
Fortalecer a comunicação governamental
Gestão de Crises
Combater fake news com transparência e dados
Estabelecer canal direto com a população
Mobilizar base social para contrapor narrativas negativas
Agenda Econômica
Apresentar novo pacote fiscal consistente
Coordenar ações com o Banco Central
Acelerar programas de investimento público
Momento decisivo
O ano de 2025 se configura como decisivo para o governo Lula. A capacidade de superar a crise de credibilidade, estabilizar a base parlamentar e recuperar indicadores econômicos determinará não apenas a governabilidade imediata, mas também as perspectivas para 2026. O cenário exige uma mudança de estratégia que combine pragmatismo político com resultados econômicos concretos.
A multiplicação de frentes de conflito – do Congresso às redes sociais, da economia à mobilização social – demanda do governo uma capacidade de articulação que até agora não foi demonstrada no terceiro mandato. O sucesso dessa reorientação definirá se o atual período será lembrado como um momento de superação ou como o princípio de uma crise mais profunda.