Incêndio em navio no Pacífico com mais de 3 mil carros reacende debate sobre segurança no transporte de veículos elétricos
Morning Midas, com 3.159 veículos, incluindo elétricos e híbridos, foi abandonado após chamas intensas, destacando riscos das baterias de íons de lítio e desafios para a indústria marítima
Um incêndio a bordo do navio cargueiro Morning Midas, ocorrido na madrugada de 3 de junho de 2025, forçou a evacuação de seus 22 tripulantes a cerca de 482,8 km da costa de Adak, no Alasca. A embarcação, operada pela Zodiac Maritime e com bandeira da Libéria, transportava 3.159 veículos, incluindo 751 variantes de veículos elétricos (EVs), 65 EVs completos e 681 híbridos, além de 350 toneladas métricas de combustível gasoso e 1.530 toneladas métricas de óleo combustível com baixo teor de enxofre (VLSFO).
Partindo do porto de Yantai, na China, em 26 de maio, com destino a Lázaro Cárdenas, no México, o navio foi abandonado após tentativas frustradas de conter as chamas, que começaram em um dos conveses onde estavam os veículos elétricos. A Guarda Costeira dos Estados Unidos coordenou o resgate, transferindo a tripulação para os navios Cosco Hellas e Manukai sem registro de feridos. O estado atual do incêndio é desconhecido, mas a embarcação continua emitindo fumaça, segundo imagens captadas por um C-130J Super Hercules da Guarda Costeira.
O incidente reacende o debate sobre os riscos associados ao transporte marítimo de veículos elétricos, especialmente devido às baterias de íons de lítio. Um relatório recente da Allianz Commercial destaca que a crescente demanda por EVs tem aumentado os desafios para a indústria marítima, já que muitos navios não foram projetados para lidar com as particularidades dessas cargas.
As baterias de lítio podem entrar em thermal runaway (fuga térmica), um processo em que as chamas se espalham rapidamente, atingindo temperaturas de até 2.700°C e liberando gases tóxicos, o que dificulta o controle de incêndios. Apagar essas chamas pode exigir até 30.000 litros de água, um desafio em alto-mar. A Allianz sugere reduzir o volume de carga para aumentar o espaçamento entre veículos e baterias, minimizando riscos e facilitando o acesso em emergências.
Histórico de incidentes reforça preocupações
O caso do Morning Midas não é isolado. Nos últimos anos, diversos incêndios em navios ro-ro (roll-on/roll-off), especializados no transporte de veículos, levantaram alertas sobre segurança. Em 2023, o Fremantle Highway, no Mar do Norte, transportava 3.783 veículos, incluindo 498 elétricos, quando um incêndio resultou na morte de um tripulante. Apesar de suspeitas iniciais, os EVs não foram a causa, que ainda está sob investigação. No mesmo ano, o Grande Costa D’Avorio, em Newark, EUA, pegou fogo enquanto carregava 1.200 veículos usados, sem EVs. O incêndio, causado por um veículo modificado com sistema superaquecido, matou dois bombeiros.
Em 2022, o Felicity Ace afundou no Atlântico após um incêndio consumir cerca de 4.000 veículos, incluindo modelos de luxo como Porsche e Lamborghini. A suspeita recai sobre baterias de lítio, embora a causa oficial não tenha sido confirmada. Em 2020, o Höegh Xiamen, na Flórida, sofreu um incêndio devido a uma bateria mal desconectada, ferindo nove bombeiros. Casos como o Grande Europa (2019, Espanha) e Grande America (2019, Golfo da Biscaia) também evidenciaram falhas em veículos tradicionais, enquanto o Sincerity Ace (2018, Pacífico) perdeu cinco tripulantes em um incêndio de causa não esclarecida.
Desafios e soluções em debate
A combinação de baterias de íons de lítio, ambientes confinados e longas viagens transoceânicas cria um cenário de alto risco. A falta de anteparos internos nos navios ro-ro e o grande volume de ar nos conveses amplificam a propagação de chamas. Além disso, a estiva inadequada de veículos e a dificuldade de acesso após o carregamento complicam o combate a incêndios. Especialistas apontam que falhas na fabricação, sobrecarga ou danos nas baterias podem desencadear explosões ou fugas térmicas.
Para mitigar esses riscos, a indústria marítima tem buscado inovações. Em 2024, um grupo internacional de segurança publicou diretrizes para o transporte de EVs, recomendando sistemas de detecção precoce de fumaça, treinamento especializado para tripulações e barreiras térmicas nos conveses. Tecnologias como drones para monitoramento de temperatura, sensores de calor e ferramentas de planejamento de estiva, como o Stowage Planning Tool, estão sendo testadas. O projeto europeu Lash Fire, iniciado em 2019, também promove soluções para prevenir e combater incêndios em navios ro-ro, equilibrando segurança, custos e impacto ambiental.
Impactos ambientais e logísticos
O Morning Midas permanece à deriva, levantando preocupações sobre possíveis vazamentos de combustíveis e substâncias tóxicas das baterias, que podem prejudicar o ecossistema marinho. Incidentes semelhantes, como o do Fremantle Highway em 2023, geraram temores de poluição, embora 800 veículos tenham sido salvos. A localização remota do Morning Midas dificulta as operações de salvamento, e a Zodiac Maritime afirmou que prioriza a proteção do meio ambiente marinho, mas ainda não há informações sobre o estado da carga.
O aumento na frota global de EVs, essencial para a transição energética, pressiona o setor marítimo a se adaptar rapidamente. Seguradoras, como a Allianz, têm elevado prêmios para navios que transportam EVs sem medidas adequadas de mitigação, enquanto montadoras e operadores enfrentam custos logísticos crescentes. Empresas como a norueguesa Havila Kystruten já optaram por não transportar EVs devido aos riscos.
O que vem a seguir?
A investigação sobre o incêndio no Morning Midas está em andamento, e autoridades marítimas monitoram a embarcação para evitar impactos ambientais e riscos à navegação. O incidente reforça a necessidade de regulamentações mais rigorosas e investimentos em infraestrutura, como sistemas de supressão de incêndios com espuma ou gases e compartimentos isolados. O setor marítimo enfrenta o desafio de equilibrar a demanda crescente por EVs com a segurança em alto-mar, enquanto o Brasil, com 95% de suas exportações dependentes do transporte marítimo, deve acompanhar essas discussões para evitar penalizações e aproveitar oportunidades na transição energética.
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