Há 78 anos, morria Aleister Crowley: O ocultista britânico que desafiou o mundo com Thelema
De rituais controversos na Sicília a inspirações no rock dos anos 1960, descubra como o fundador de uma filosofia espiritual ainda ecoa na cultura contemporânea – uma história de rebeldia e mistério
Em 1º de dezembro de 1947, Aleister Crowley, nascido Edward Alexander Crowley em 12 de outubro de 1875 em Royal Leamington Spa, Inglaterra, sucumbia a bronquite crônica, pleurisia e degeneração miocárdica em uma pensão humilde em Hastings, aos 72 anos. Há exatos 78 anos, o mundo se despedia de um dos intelectuais mais polêmicos do século XX: ocultista cerimonial, poeta, romancista, alpinista e pintor, cujas ideias fundaram a religião Thelema e ecoaram na contracultura global. Filho de uma família abastada dos Irmãos de Plymouth – uma seita evangélica fundamentalista –, Crowley cresceu sob a influência rígida de seu pai, Edward Crowley (1829–1887), um pregador itinerante e herdeiro de uma fortuna no ramo cervejeiro, e da mãe, Emily Bertha Bishop (1848–1917), devota conservadora que o apelidou de “a Besta” após a morte precoce do pai, em 1887, por câncer de língua.
Essa herança financeira – estimada em £200 mil (equivalente a milhões hoje) – financiou sua rebeldia precoce: aos 11 anos, ele já fumava cigarros e consumia pornografia; aos 14, perdeu a virgindade com uma empregada de 15 anos, iniciando uma fixação sexual que o levaria a contrair gonorreia e sífilis em prostitutas.
Sua educação foi tumultuada. Expulso de escolas evangélicas como a de Henry d’Arcy Champney em Cambridge por indisciplina – incluindo acusações infundadas de homossexualidade –, Crowley frequentou brevemente o Malvern College e o Tonbridge School, onde se rebelou contra o bullying e o sadismo dos mestres.
Em 1895, ingressou no Trinity College, Cambridge, inicialmente para filosofia moral, mas trocou por literatura inglesa, sem concluir o grau apesar de honras de primeira classe. Lá, destacou-se no xadrez (como presidente do clube), na poesia erótica publicada em revistas como The Granta e em escaladas alpinas, como a primeira ascensão solo do Mönch em 1897.
Foi em Estocolmo, em dezembro de 1896, que Crowley teve sua primeira experiência homossexual confirmada, com o cantor Herbert Charles Pollitt, afirmando sua bissexualidade – um traço que ele exploraria abertamente, contrastando com a hipocrisia vitoriana.
Menos conhecido: Crowley planejava uma carreira diplomática, aprendendo russo em São Petersburgo em 1897, mas uma doença o desviou para o ocultismo. Em 1898, em Zermatt, Suíça, Crowley encontrou Julian L. Baker, iniciando-o na Ordem Hermética da Aurora Dourada, sociedade secreta de magia cerimonial liderada por Samuel Liddell MacGregor Mathers.
Iniciado como “Frater Perdurabo” (o perseverante), ele aprendeu rituais goéticos e experimentou drogas com o mentor Allan Bennett, mas foi expulso em 1900 por disputas internas, acusações de homossexualidade e deslealdade. Suas viagens foram épicas: no México (1900), escalou o Iztaccíhuatl e o Popocatépetl com Oscar Eckenstein, invocou enoquianos e alegou iniciação maçônica; no Ceilão e Índia (1901–1902), estudou ioga no Templo de Meenakshi, Madurai, contraindo malária e escrevendo The Sword of Song (1904); e na expedição ao K2 (1902), atingiu 6.000 metros, mas retreats por nevascas e doenças, gerando acusações de negligência em mortes de companheiros – um mito que biógrafos como Lawrence Sutin desmentem como exagero de inexperiência, não malícia.
O cerne de sua obra surgiu em 1904, durante a lua de mel no Cairo com Rose Edith Kelly, casada em 1903 para salvá-la de um noivado arranjado. Em 8–10 de abril, Crowley alegou ditado do Livro da Lei (Liber AL vel Legis) pela entidade Aiwass, mensageiro de Hoor-paar-kraat (forma de Hórus), anunciando o Éon de Hórus e a máxima: _”Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei” (Do what thou wilt shall be the whole of the Law)_Thelema não é anarquia, mas alinhamento à Verdadeira Vontade – essência cósmica individual –, via magia definida como “a Ciência e a Arte de causar mudança em conformidade com a Vontade”.
Integrando cabala, tantra, budismo e egípcio, Crowley fundou a Astrum Argentum (A∴A∴) em 1907 com George Cecil Jones, e em 1912 assumiu a Ordo Templi Orientis (O.T.O.), incorporando magia sexual como portal ao êxtase divino. Obras como The Book of Lies (1912) e os Livros Santos (1907–1909), incluindo Liber VII (”Into my loneliness comes— The sound of a flute in dim groves...”), expandiram isso.
Menos conhecido: Crowley rejeitava satanismo, chamando-o de “tolice cristã”; sua imagem de “Besta 666” era provocação bíblica, e ele via o número como solar, não maligno.
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1919), nos EUA, Crowley publicou propaganda pró-alemã na The Fatherland de George Sylvester Viereck, mas historiadores como Richard B. Spence argumentam que era cobertura para espionagem britânica – uma teoria plausível, dada sua rede, incluindo contatos com Ian Fleming anos depois.
Relacionamentos foram centrais: bissexual, com amantes como Leila Waddell (violonista em rituais), Leah Hirsig (”Mulher Escarlate”) e Mary Desti, gerando seis filhos, incluindo Lola Zaza (com Hirsig) e Aleister Atatürk (1937–2002, com Maria Teresa Sanchez, casada em 1929).
Drogas – heroína prescrita em 1920, cocaína, peiote, ópio – eram ferramentas místicas, mas levaram ao vício, documentado em O Diário de um Viciado em Drogas (1922).
O escândalo da Abadia de Thelema (1920–1923), em Cefalù, Sicília, com Hirsig e discípulos como Jane Wolfe, visava utopia thelêmica: rituais gnósticos, educação livre e liberação sexual. Mas insalubridade causou mortes, como a de Poupée (1920) e Raoul Loveday (1923), de febre entérica por água poluída – não “sangue de gato” ou sacrifícios humanos, mito desmentido por investigações e a viúva Betty May, cujos relatos sensacionalistas ao Sunday Express o rotularam “o homem mais perverso do mundo”.
Benito Mussolini ordenou sua deportação em 1923 por “imoralidade”. Batalhas legais seguiram: vitória contra Mathers (1910) por segredos da Aurora Dourada; derrota em difamação contra Nina Hamnett (1934), alegando invisibilidade mágica no México – um delírio ou exagero para defesa. Em 1930, em Lisboa, encenou suicídio na Boca do Inferno com Fernando Pessoa, reaparecendo em Berlim para chocar a imprensa.
Sua morte, pobre e isolado, contrastou com o renascimento nos anos 1960. Thelema ressoou na contracultura: Timothy Leary o chamou de precursor psicodélico, citando-o em The Psychedelic Experience (1964), inspirando linhas dos Beatles como “Turn off your mind, relax and float downstream” em Tomorrow Never Knows (1966).
Sua imagem na capa de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967) o imortalizou; Jimmy Page (Led Zeppelin) comprou Boleskine House (1899–1913) em 1971, inscrevendo a máxima thelêmica em Led Zeppelin III (1970) e alegando assombrações.
Ozzy Osbourne questionou em “Mr. Crowley” (1980): “Você conversa com os mortos?”; David Bowie explorou em Quicksand (1971); The Doors, Stones e Donovan incorporaram temas ocultos. Influências estendem-se à Wicca de Gerald Gardner, Scientology via Jack Parsons (discípulo que conheceu L. Ron Hubbard), e satanismo de Anton LaVey, apesar de Crowley rejeitar o diabo.
Locais como o Dakota (Nova York), onde rituais inspiraram O Bebê de Rosemary (1968), alimentam lendas, mas tragédias como Manson (1969) ou Lennon (1980) são coincidências, não causais.
Thelema vive na O.T.O., com milhares de membros, influenciando neopaganismo e estudos de consciência (Tobias Churton). Crowley era complexo: anti-aborto por “Vontade verdadeira”; visões mistas sobre judeus (elogios culturais, estereótipos); pioneiro em ioga ocidental, mas misógino em trechos como desprezo a “mulheres castas”. Como notou Wouter Hanegraaff, ele é “o ocultista mais notório do século XX”, espelho de tensões entre tradição e modernidade – não o monstro midiático, mas um visionário falho.
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