Greve dos Auditores Fiscais trava logística e ameaça economia brasileira
Paralisação da Receita Federal, iniciada em 2024, acumula prejuízos bilionários e compromete importações, exportações e abastecimento nacional
A paralisação dos auditores fiscais da Receita Federal, iniciada em 26 de novembro de 2024, ultrapassa 190 dias e continua sem previsão de término, gerando impactos severos na logística brasileira. A Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL) expressou “extrema apreensão” com a situação, que afeta diretamente portos, aeroportos e cadeias de suprimento, comprometendo o comércio exterior, o abastecimento interno e a competitividade do Brasil no mercado global. A crise, que já acumula prejuízos estimados em R$ 3,5 bilhões, reflete entraves institucionais e ameaça cerca de 2,3 milhões de empregos no setor logístico.
Gargalos logísticos em portos e aeroportos
A operação-padrão adotada pelos auditores fiscais, que reduz drasticamente o ritmo de liberação de cargas, tem causado acúmulo expressivo de mercadorias nos principais terminais do país. Nos aeroportos de Viracopos e Guarulhos, em São Paulo, mais de 100 mil encomendas e documentos ficam represados a cada ciclo de liberação de 14 dias. No Porto de Santos, estima-se que milhares de declarações de importação e exportação estejam paradas, agravando o cenário logístico. Cargas sensíveis, como medicamentos, insumos perecíveis e equipamentos eletrônicos, sofrem com atrasos e condições inadequadas de armazenamento, resultando em avarias e perdas significativas.
Segundo a ABOL, a situação é particularmente crítica devido ao aumento dos custos logísticos. Contratos com cláusulas de demurrage (taxa por atraso na retirada de contêineres nos portos) e detention (taxa por retenção prolongada de contêineres fora dos terminais) têm sido acionados com frequência, elevando os custos operacionais. “Esses custos adicionais desestimulam novas contratações, geram queda de receita e afetam diretamente o nível de emprego”, alerta Marcella Cunha, diretora-presidente da ABOL. O setor logístico, responsável por 2,3 milhões de empregos diretos e indiretos, enfrenta risco de retração operacional.
Impactos no comércio exterior e na economia
A paralisação compromete a competitividade do Brasil no mercado internacional. Associações do setor, como a Associação Brasileira de Empresas de Transporte Internacional Expresso de Cargas (Abraec) e a Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (ABTI), destacam que os atrasos logísticos dificultam o cumprimento de prazos de entrega, levando à rescisão de contratos internacionais e à substituição do Brasil por fornecedores de outros países. “Os atrasos não afetam apenas as empresas de logística, mas destroem a competitividade do Brasil no mercado global”, afirmou um representante do Centro de Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).
Além disso, a greve impacta diretamente a arrecadação federal. Segundo o Sindifisco Nacional, o movimento travou R$ 15 bilhões em transações tributárias e interrompeu julgamentos no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), que envolvem R$ 51 bilhões em disputas fiscais. Essa retenção de recursos compromete a meta do governo de atingir déficit zero em 2025, adicionando pressão às contas públicas.
Reivindicações dos auditores e impasse com o governo
Os auditores fiscais reivindicam recomposição salarial, com defasagem acumulada desde 2016, e o cumprimento de acordos firmados em anos anteriores. Segundo o Sindifisco Nacional, o Ministério da Gestão e Inovação (MGI) descumpriu compromissos de abrir negociações até julho de 2024. Em 26 de fevereiro de 2025, 95% dos 7.200 auditores que participaram de uma Assembleia Nacional rejeitaram a proposta do governo, intensificando o movimento. A operação “Desembaraço Zero”, iniciada em 12 de fevereiro, suspendeu completamente a liberação de mercadorias por 15 dias, agravando os gargalos.
A Unafisco, associação dos auditores, responsabiliza o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por priorizar outras áreas do ministério, como a Procuradoria da Fazenda Nacional, que recebeu reajustes salariais de 19% para os próximos dois anos, enquanto os auditores permanecem com vencimentos congelados. Em resposta, o Ministério da Fazenda e a Receita Federal não se manifestaram oficialmente, mas o governo alega que as demandas da categoria já foram atendidas em 2024, sem espaço para novas negociações.
Setores mais afetados e riscos ao abastecimento
Setores como farmacêutico, automotivo e agronegócio estão entre os mais impactados. Medicamentos e insumos hospitalares retidos em terminais enfrentam risco de deterioração, comprometendo o abastecimento de postos de saúde e farmácias. No agronegócio, responsável por 48,6% das exportações brasileiras entre julho de 2023 e junho de 2024, a paralisação afeta a exportação de commodities como soja e milho, com perdas agravadas pela seca na Amazônia e pela crise no Mar Vermelho, que já elevou os custos de frete internacional.
Pequenas e médias empresas, que dependem de fluxo de caixa regular, são particularmente vulneráveis. “A deterioração de produtos e o risco de quebra e desemprego nas empresas são problemas graves”, destacou o Ciesp. A Frente Parlamentar pelo Livre Mercado (FPLM) estima que mais de 75 mil encomendas e documentos foram diretamente afetados, com tempos de desembaraço de cargas dobrando: exportações passaram de quatro para oito dias, e importações, de sete para 14 dias, podendo chegar a 21 dias em processos completos.
Esforços para mitigar a crise
A pressão por uma solução tem crescido. Em março de 2025, a FPLM enviou uma carta ao ministro Fernando Haddad solicitando intervenção urgente para garantir a estabilidade do setor logístico. Associações como ABOL, Abraec e a Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (Alta) pediram audiências com Haddad e com o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, mas não obtiveram respostas até o momento. Um caso isolado, reportado pelo Jornal do Comércio, mostra que um juiz da 8ª Vara Federal de Campinas determinou que a Receita Federal realize o desembaraço de uma carga de tintas automotivas em até oito dias, reforçando que a paralisação não pode interromper serviços essenciais.
A ABOL reforça a necessidade de diálogo para superar os entraves institucionais que alimentam greves recorrentes. “As greves cíclicas revelam problemas estruturais que precisam de soluções definitivas”, afirma Marcella Cunha. A entidade se colocou à disposição para mediar negociações e propor soluções regulatórias que restaurem a eficiência da cadeia logística brasileira.
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