Gilmar Mendes rebate críticas de deputado português sobre Fórum de Lisboa, que ficou conhecido como "Gilmarpalooza"
Evento conhecido como "Gilmarpalooza" gera debate sobre transparência e influência política em Portugal

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes respondeu, na quarta-feira (2 de julho de 2025), às críticas do deputado português André Ventura, líder do partido de direita Chega, que anunciou uma investigação sobre a suposta influência do magistrado em Portugal. Ventura, conhecido por sua retórica populista, prometeu apurar o "patrimônio e rede de interesses" de Mendes, com foco no Fórum Jurídico de Lisboa, apelidado informalmente de "Gilmarpalooza". Em resposta, o ministro defendeu a transparência do evento e sugeriu que as acusações têm motivação eleitoral, especialmente entre os cerca de 400 mil brasileiros que votam nas eleições portuguesas.
O Fórum de Lisboa, que chega à sua 13ª edição entre 2 e 4 de julho de 2025, é organizado pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), fundado por Gilmar Mendes, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Lisbon Public Law Research Centre da Universidade de Lisboa. Com o tema “O mundo em transformação – Direito, Democracia e Sustentabilidade na Era Inteligente”, o evento reúne autoridades do Judiciário, políticos, empresários e acadêmicos de Brasil e Portugal para discutir temas como inteligência artificial, democracia e sustentabilidade.
Um evento de peso e polêmicas
O fórum, que ocorre na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, consolidou-se como um ponto de encontro da elite política e jurídica brasileira. A edição de 2025 conta com a presença de cinco ministros do STF – Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, André Mendonça e Flávio Dino –, além do procurador-geral da República, Paulo Gonet, e do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Também estão confirmados sete governadores, como Cláudio Castro (RJ), Tarcísio de Freitas (SP) e Eduardo Leite (RS), além de cinco ministros do governo Lula, incluindo Ricardo Lewandowski (Justiça) e Camilo Santana (Educação). A presença de figuras como o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e representantes do setor empresarial, como André Esteves, do BTG Pactual, reforça o caráter plural e influente do evento.
No entanto, a grandiosidade do fórum, que espera cerca de 2 mil participantes e 500 palestrantes em 50 painéis, também alimenta críticas. O apelido “Gilmarpalooza”, uma referência ao festival musical Lollapalooza, surgiu entre críticos do STF no Brasil e reflete a percepção de que o evento é mais do que um seminário acadêmico, funcionando como um espaço de confraternização entre poderosos. Reportagens apontam que, em 2024, os gastos públicos com passagens e diárias de autoridades brasileiras para o fórum alcançaram R$ 1,34 milhão, o que gerou questionamentos sobre a transparência e a adequação do uso de recursos públicos. Além disso, a participação de representantes de empresas com processos em tramitação no STF, como BTG Pactual, Eletrobras e Light, levanta preocupações sobre possíveis conflitos de interesse.
A resposta de Gilmar Mendes
Em entrevista à CNN, Gilmar Mendes destacou a transparência do evento e minimizou as críticas, afirmando que o fórum é “bipartite” com a Universidade de Lisboa e a FGV, contando com mais de 3 mil inscritos e 400 palestrantes. “Não tememos nenhuma investigação”, declarou o ministro, reforçando que o evento é aberto e que os debates são de interesse público. Ele também citou o poeta português Fernando Pessoa para rebater as acusações: “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena.”
Mendes sugeriu que as denúncias de Ventura podem estar ligadas à polarização política no Brasil e à tentativa de conquistar o eleitorado brasileiro em Portugal, que representa uma força significativa nas eleições locais. “Talvez seja reflexo dessa confusão brasileira. Vocês sabem que, em Portugal, há um grande número de eleitores brasileiros que vota nas eleições daqui”, disse. A declaração ganhou eco em publicações nas redes sociais, como a do ex-deputado cassado Deltan Dallagnol, que destacou o “anúncio bombástico” de Ventura, e de outros perfis que associam o evento a uma suposta “rede de proteção” do governo Lula em Portugal.
As acusações de André Ventura
André Ventura, líder do Chega, anunciou em 23 de junho de 2025, por meio de suas redes sociais, que o partido conduzirá uma investigação própria sobre Gilmar Mendes, alegando ter recebido “milhares de denúncias” sobre a influência do ministro em Portugal. “Todos sabemos que o governo Lula e os seus amigos tiveram e ainda têm em Portugal um lote grande de amigos que lhes apara os golpes, mesmo tendo em conta a ditadura em que o Brasil se está a tornar”, escreveu Ventura. A retórica do deputado, que já declarou em campanha eleitoral que “prenderia Lula” caso fosse eleito primeiro-ministro, reflete sua postura anti-imigração e crítica aos brasileiros, especialmente após o crescimento de memes que ironizam Portugal como uma “colônia do Brasil”.
A iniciativa de Ventura ocorre às vésperas do fórum e em um contexto de ascensão da extrema-direita em Portugal, com o Chega se consolidando como a segunda maior força no parlamento português. Críticos apontam que as acusações podem ter motivações políticas, visando capitalizar o descontentamento de parte do eleitorado com a presença de brasileiros no país. No entanto, até o momento, não foram apresentados detalhes concretos sobre o teor das denúncias mencionadas por Ventura.
Questionamentos sobre transparência
O Fórum de Lisboa tem sido alvo de críticas recorrentes pela falta de clareza sobre o financiamento, os critérios de convite e os custos das viagens de autoridades. Segundo o advogado constitucionalista André Marsiglia, o evento cria um ambiente de confraternização entre juízes, políticos e empresários sem mecanismos suficientes de transparência, o que pode comprometer a percepção de imparcialidade do Judiciário. “Quando juízes que julgam, ministros que governam, advogados que litigam e empresários que podem ter suas demandas julgadas por quem lá está compartilham ambientes privados e descontraídos sob o pretexto de debates acadêmicos, corre-se o risco de enfraquecer a percepção de imparcialidade”, afirmou Marsiglia.
A edição de 2024, por exemplo, foi marcada por polêmicas envolvendo jantares luxuosos e eventos paralelos patrocinados por empresas, como coquetéis e pocket shows, que reuniram autoridades e representantes de firmas com ações no STF. Reportagens indicaram que organizadores desses eventos paralelos integravam 145 ações nos tribunais superiores brasileiros, o que intensificou os questionamentos éticos. Apesar disso, os organizadores do fórum afirmam que não há pagamento de cachês aos palestrantes e que a escolha dos participantes segue critérios de “relevância acadêmica e técnica”.
O impacto político e social
O “Gilmarpalooza” também reflete as tensões entre Brasil e Portugal no contexto da polarização política. A presença de brasileiros em Portugal, tanto como imigrantes quanto como eleitores, tem gerado debates acalorados, especialmente com a ascensão de discursos anti-imigração do Chega. A investigação anunciada por Ventura, embora sem detalhes concretos até o momento, reforça a narrativa de que o Brasil exporta suas divisões políticas para o exterior. Por outro lado, defensores do fórum argumentam que ele promove a integração luso-brasileira e discussões relevantes para o futuro do Direito e da democracia.
Enquanto o evento segue como uma vitrine de articulação entre as elites brasileira e portuguesa, as críticas persistem. A ausência de respostas claras sobre o custeio das viagens e a relação entre participantes com interesses judiciais mantém o fórum no centro de um debate ético e político que transcende fronteiras. Gilmar Mendes, por sua vez, parece confiante na legitimidade do evento, mas a investigação prometida pelo Chega pode trazer novos desdobramentos à já controversa história do “Gilmarpalooza”.
Palavras-chave: Gilmar Mendes, Fórum de Lisboa, Gilmarpalooza, André Ventura, Chega, STF, transparência, polarização política, Brasil, Portugal, Judiciário
Hashtags: #PainelPolitico #Gilmarpalooza #FórumDeLisboa #GilmarMendes #AndréVentura #Chega #STF #Transparência #PolíticaBrasil #BrasilPortugal