Família de pescador colombiano morto em ataque dos EUA apresenta primeira denúncia à CIDH contra operações militares americanas
Em um marco para a accountability internacional, a queixa contra as operações "Lança do Sul" expõe tensões entre Washington e Bogotá, questionando o custo humano da "guerra às drogas" de Trump
A família do pescador colombiano Alejandro Andrés Carranza Medina, de 42 anos, deu um passo inédito na busca por justiça internacional ao apresentar, na terça-feira (2 de dezembro de 2025), a primeira denúncia formal contra os Estados Unidos à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA). A petição, protocolada pelo advogado de direitos humanos norte-americano Dan Kovalik em nome da esposa Katerine Hernández e dos quatro filhos de Carranza, acusa o governo de Donald Trump de execução extrajudicial em um bombardeio ocorrido em 15 de setembro de 2025, no Mar do Caribe, próximo à costa colombiana. O documento, ao qual veículos como The Guardian e EL PAÍS tiveram acesso, descreve o incidente como uma violação flagrante ao direito à vida, ao devido processo legal e às normas internacionais de direitos humanos.
Carranza, natural de Santa Marta, na costa caribenha da Colômbia, saiu de casa em 14 de setembro para pescar marlim e atum – sua ocupação habitual há décadas, conforme depoimentos de amigos e familiares à AFP e à CBS News. Amigos como César Henriquez, que o conhecia desde a infância, reforçaram em entrevistas que “Ele saía para pescar sierra, atum e robalo, que se encontram em alto-mar nessa época do ano. Ele sempre voltava para Santa Marta, amarrava o barco e ia para casa. Nunca soube dele fazer algo errado”.
No entanto, um dia após sua partida, o barco em que navegava foi alvejado por forças militares dos EUA, resultando na morte de Carranza e de pelo menos duas outras pessoas a bordo. O presidente colombiano Gustavo Petro, do Pacto Histórico, identificou o incidente como uma violação à soberania nacional e afirmou publicamente que “O pescador Alejandro Carranza não tinha vínculos com o narcotráfico e sua atividade diária era pescar. A embarcação colombiana estava à deriva e exibindo sinal de socorro devido a uma falha no motor”. Petro, que se reuniu com a família em 8 de novembro, contratou Kovalik para representá-la, após o advogado também assumir a defesa do presidente em casos internacionais – incluindo sanções impostas pelos EUA em outubro, acusando Petro de envolvimento no tráfico global de drogas, alegações negadas pelo mandatário.
A denúncia aponta diretamente o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, como o responsável pela ordem de bombardeio, com base em declarações públicas do próprio oficial. O documento alega que Hegseth “foi responsável por ordenar o bombardeio de barcos como o de Alejandro Carranza Medina e o assassinato de todos os que estavam neles”, e que sua conduta foi “ratificada” pelo presidente Donald Trump.
Trump, em postagens nas redes sociais, defendeu o ataque de 15 de setembro como uma operação que eliminou “três narcoterroristas venezuelanos” que transportariam drogas para os EUA. No entanto, investigações preliminares do governo colombiano e relatos de familiares contradizem a narrativa, confirmando a identidade colombiana das vítimas e a ausência de laços com o crime organizado. Kovalik, em entrevista à CNN, enfatizou que “Isso é o que ele estava fazendo. Essa era sua profissão e sua vocação”, referindo-se à pesca de Carranza, e alertou que a petição é apenas o início de uma série de queixas semelhantes.
O caso de Carranza insere-se em uma campanha militar mais ampla, batizada de Operação Lança do Sul (Operation Southern Spear), lançada pelo governo Trump em setembro de 2025 para combater o tráfico marítimo de drogas da América do Sul aos EUA. Iniciada com ataques no Caribe, a operação expandiu-se para o Pacífico Oriental em outubro, com pelo menos 22 bombardeios documentados até novembro, resultando em mais de 80 mortes, segundo relatórios do New York Times e do ABC News.
Os EUA justificam as ações alegando que as embarcações visadas transportavam membros de cartéis como o Tren de Aragua, de origem venezuelana, e cumprem o Direito Internacional dos Conflitos Armados, que proíbe ataques a civis. A Casa Branca, em nota, afirmou que todas as operações são “conduzidas em conformidade com a lei de conflitos armados – e aprovadas pelos melhores advogados militares e civis, de cima a baixo na cadeia de comando”.
O Pentágono redirecionou questionamentos sobre o caso de Carranza à Casa Branca, que ainda não emitiu resposta pública específica. Críticos internacionais, incluindo a Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, Volker Türk, e organizações como Human Rights Watch e Anistia Internacional, classificaram os bombardeios como “execuções extrajudiciais” que violam o direito internacional, especialmente fora de contextos de conflito armado.
A CIDH, em comunicado recente, expressou preocupação com as ações americanas e instou Washington a alinhar suas operações de segurança – inclusive extraterritoriais – às obrigações de direitos humanos, com ênfase no direito à vida, uso proporcional da força, devido processo e responsabilização. Se aceita, a comissão pode emitir recomendações, solicitar reparações ou encaminhar o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos, cujas decisões são vinculantes para os Estados-membros da OEA.
No contexto bilateral, as tensões entre Trump e Petro escalaram rapidamente. Em outubro, após as acusações de violação de soberania, Trump suspendeu todos os pagamentos e subsídios dos EUA à Colômbia, chamando o presidente colombiano de “líder de drogas” que promove a produção ilícita, e ameaçou fechar campos de cultivo se Bogotá não o fizesse “de forma amigável”. Petro, por sua vez, anunciou na segunda-feira (1º de dezembro) a formação de uma comissão de juristas colombianos para investigar o que descreveu como “crimes” no Caribe, e confirmou o apoio a mais ações judiciais internacionais.
Entre os incidentes da operação, destaca-se o ataque a um suposto narcosubmarino em 18 de outubro, com dois sobreviventes identificados – um colombiano e um equatoriano –, libertados em seus países por falta de provas, conforme reportado pelo EL PAÍS. Relatos no X (antigo Twitter) de usuários colombianos e latino-americanos ecoam a indignação, com postagens como a de @sputnik_brasil destacando a suspensão de auxílios e a retórica de Trump, acumulando milhares de visualizações e engajamentos. A petição da família Carranza não apenas busca indenização – o principal provedor da casa foi perdido, deixando a família em vulnerabilidade econômica e sob ameaças, segundo Kovalik – mas também visa frear a escalada militar na região. Com o envio do porta-aviões USS Gerald R. Ford ao Caribe em novembro, marcando a maior presença americana desde a invasão do Panamá em 1989, analistas alertam para riscos de confronto com a Venezuela de Nicolás Maduro.
A CIDH tem até 90 dias para decidir sobre a admissibilidade da queixa, mas o precedente pode inspirar vítimas de outros ataques a seguirem o caminho.
Palavras-chave: Alejandro Carranza, Gustavo Petro, Donald Trump, Pete Hegseth, CIDH, Operação Lança do Sul, bombardeios EUA Caribe, direitos humanos Colômbia, narcotráfico marítimo, soberania colombiana.
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