EUA à beira do colapso: Trump intensifica política anti-imigração com envio da guarda nacional a Los Angeles
Confrontos, tensões políticas e críticas do governador Gavin Newsom marcam nova fase da repressão migratória nos EUA
No último sábado, 7 de junho de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ordenou o envio de 2.000 soldados da Guarda Nacional para Los Angeles, Califórnia, em uma decisão que escalou as tensões em torno de sua política anti-imigração. A medida, que federalizou as tropas sem o consentimento do governador do estado, Gavin Newsom, gerou protestos violentos, confrontos com forças de segurança e críticas contundentes de líderes democratas. A ação marca um precedente raro, sendo a primeira vez em mais de 60 anos que tropas federais são mobilizadas em um estado americano sem aprovação local, evocando paralelos com os conflitos pelos direitos civis nas décadas de 1950 e 1960.
Contexto de uma crise fabricada?
A decisão de Trump veio após dias de protestos em Los Angeles, desencadeados por operações do Serviço de Imigração e Controle de Alfândega (ICE) contra imigrantes indocumentados. As ações do ICE, que incluíram prisões em locais de trabalho e comunidades de maioria latina, como o bairro de Paramount, provocaram reações intensas. Manifestantes bloquearam rodovias, queimaram carros e enfrentaram agentes federais com gritos de ordem e bandeiras mexicanas, enquanto alguns chegaram a queimar uma bandeira americana, segundo relatos do Los Angeles Times.
Trump justificou a mobilização da Guarda Nacional como uma resposta à “ilegalidade” e à “invasão de criminosos estrangeiros”, utilizando uma retórica inflamatória que tem caracterizado sua abordagem à imigração. Em postagens na rede Truth Social, o presidente descreveu os protestos como uma “insurreição” e pediu a prisão imediata de manifestantes mascarados. A Casa Branca, por meio da secretária de imprensa Karoline Leavitt, defendeu a ação, afirmando que as operações do ICE são “essenciais para deter e reverter a invasão de criminosos ilegais nos Estados Unidos”.
Reação de Gavin Newsom e líderes locais
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, do Partido Democrata, classificou a decisão de Trump como “propositalmente inflamatória” e uma “violação grave da soberania do estado”. Em uma série de postagens no X, Newsom pediu aos manifestantes que mantivessem a calma e não caíssem na “provocação” de Trump, que, segundo ele, busca criar um “espetáculo” para justificar a militarização. “Não tínhamos problemas até que Trump se envolveu”, afirmou o governador, que solicitou formalmente à Casa Branca a retirada das tropas e a devolução do comando da Guarda Nacional ao estado.
A prefeita de Los Angeles, Karen Bass, também criticou as ações do ICE, acusando-as de “espalhar o terror” na cidade. Em resposta, o FBI e o Departamento de Segurança Interna alegaram que os comentários da prefeita colocaram agentes federais em risco. A Coalizão pelos Direitos Humanos dos Imigrantes, liderada por Angélica Salas, denunciou a situação como um “ataque” às comunidades imigrantes, destacando o impacto sobre trabalhadores e famílias.
Uma política anti-imigração agressiva
A mobilização da Guarda Nacional é parte de uma estratégia mais ampla de Trump para intensificar a repressão à imigração, uma das marcas de sua campanha presidencial de 2024. Entre as medidas anunciadas estão:
Meta de 3.000 prisões diárias: O governo planeja expandir as operações do ICE, focando não apenas em áreas de alta criminalidade, mas também em locais de trabalho, escolas e hospitais, revertendo proibições da era Biden.
Restrições de vistos: Em 4 de junho de 2025, Trump assinou uma proclamação que proíbe a entrada de cidadãos de 12 países (como Afeganistão, Mianmar, Haiti, Irã, Líbia e Sudão) e impõe restrições parciais a outros sete, incluindo Cuba e Venezuela. A medida, que afeta cerca de 140 mil viajantes anualmente, foi justificada como uma resposta a “ameaças terroristas” após um ataque em Boulder, Colorado, embora o autor do ataque, um egípcio, viesse de um país não listado.
Deportação em massa: Trump prometeu deportar até 1 milhão de imigrantes por ano, com foco em indocumentados e pessoas com status de proteção temporária, como venezuelanos e salvadorenhos. A campanha do vice-presidente J.D. Vance destacou essa meta como uma prioridade.
Uso de forças militares: O memorando presidencial permite que o Secretário de Defesa, Pete Hegseth, mobilize tropas regulares, além da Guarda Nacional, para apoiar operações de deportação, uma medida que preocupa especialistas devido à Lei Posse Comitatus, que restringe o uso de forças armadas em solo americano.
Impacto nas comunidades imigrantes
A Califórnia abriga cerca de 1,8 milhão de imigrantes indocumentados, segundo o Pew Research Center, e é o segundo estado com mais famílias de status migratório misto, onde filhos cidadãos convivem com pais sem documentos. A intensificação das operações do ICE e a presença de tropas federais têm gerado um clima de medo, especialmente em comunidades latinas. Um helicóptero das forças de ordem sobrevoando manifestantes em Los Angeles com a mensagem “Temos todos vocês gravados em câmera. Vamos até suas casas” foi descrito por moradores como uma tática de intimidação.
Jason Garcia, ex-militar e morador de Los Angeles, expressou à AFP sua preocupação com a escalada: “A presença expressiva dos militares uniformizados é mais uma tática de intimidação”. Thomas Henning, um manifestante, ecoou o sentimento, afirmando que a militarização “causa mais preocupação do que tranquiliza”.
Precedente histórico e implicações políticas
A federalização da Guarda Nacional sem consentimento estadual é uma medida rara, comparável à mobilização de 1992, após os distúrbios pelo espancamento de Rodney King, mas, naquela ocasião, o governador da Califórnia havia solicitado a intervenção. A decisão de Trump, tomada sob a justificativa de conter “violência e desordem”, não invoca formalmente a Lei de Insurreição, mas analistas como Steve Vladeck, da Universidade de Georgetown, alertam que a mobilização pode abrir caminho para ações mais agressivas no futuro.
A medida aprofunda a divisão entre democratas e republicanos. Enquanto apoiadores de Trump celebram a postura de “lei e ordem”, críticos alertam para o risco de erosão das liberdades civis e da soberania estadual. Newsom, em uma postagem no X, acusou Trump de “criar caos para justificar a escalada”, enquanto outros governadores democratas expressaram solidariedade, chamando a militarização de “abuso de poder alarmante”.
Desafios logísticos e econômicos
Especialistas apontam que a promessa de deportações em massa enfrenta obstáculos significativos. O Conselho Americano de Imigração estima que deportar 1 milhão de pessoas por ano custaria US$ 88 bilhões, totalizando quase US$ 1 trilhão em uma década. Além disso, a remoção de milhões de imigrantes indocumentados, muitos dos quais são residentes de longa data, poderia desestabilizar setores como agricultura e turismo, que dependem fortemente dessa mão de obra.
Adam Isacson, do Washington Office on Latin America, destacou o impacto humano: “Você teria imagens dolorosas na TV de crianças chorando e famílias separadas. É uma propaganda incrivelmente ruim”. A resistência de “cidades santuário”, como Los Angeles, que limitam a cooperação com o ICE, também complica a execução do plano.
Perspectivas futuras
A crise em Los Angeles pode ser apenas o início de um período de maior agitação civil nos Estados Unidos. Com cinco meses de governo Trump, analistas temem que a militarização da política migratória intensifique conflitos entre o governo federal e estados liderados por democratas. A exclusão de países aliados, como o Egito, da lista de restrições de visto, apesar de incidentes como o ataque em Colorado, levanta questões sobre a coerência da política de segurança nacional de Trump.
Enquanto as ruas de Los Angeles permanecem tensas, com a polícia declarando o centro da cidade uma “zona de aglomeração proibida”, o embate entre Trump e Newsom simboliza uma nação profundamente dividida. A resolução dessa crise dependerá da capacidade de diálogo entre as partes e da resposta das comunidades afetadas, que continuam a resistir em meio a um clima de incerteza.
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