Escândalo de corrupção abala governo de Javier Milei na Argentina às vésperas de eleições
Áudios vazados envolvendo a irmã do presidente, karina milei, intensificam crise política e econômica, ameaçando a popularidade do líder ultraliberal
O governo do presidente argentino Javier Milei, líder do partido La Libertad Avanza (LLA), enfrenta uma das maiores crises desde sua posse em dezembro de 2023. Um escândalo de corrupção envolvendo sua irmã, Karina Milei, secretária-geral da Presidência, e aliados próximos explodiu na semana passada, com a divulgação de áudios que sugerem um esquema de propinas na compra de medicamentos para a Agência Nacional para a Deficiência (Andis).
A menos de duas semanas das eleições provinciais em Buenos Aires e dois meses das legislativas nacionais, o caso ameaça não apenas a imagem de Milei, conhecido por seu discurso anticorrupção, mas também sua base política em um Congresso já hostil.
Este texto detalha o início do escândalo, as acusações, as repercussões e as possíveis consequências para o governo e a popularidade do presidente.
Quem é Karina Milei: profissão e currículo
Antes da presidência, Karina Elizabeth Milei, nascida em 28 de março de 1972, em Buenos Aires, é a irmã mais nova de Javier Milei e uma figura central em sua trajetória pessoal e política.
Antes de seu irmão assumir a presidência, Karina não tinha experiência política formal, mas desempenhou papéis fundamentais na ascensão de Milei à proeminência pública. Formada em Relações Públicas pela Universidad Argentina de la Empresa (UADE), Karina trabalhou em pequenos negócios próprios, incluindo uma confeitaria que vendia bolos e doces por meio do Instagram, um empreendimento modesto descrito como "relativamente bem-sucedido" por fontes como o The Guardian. Além disso, ela se dedicou a atividades esotéricas, como leitura de tarô, o que atraiu atenção da mídia argentina devido ao contraste com seu atual papel político.
Cerca de uma década antes da eleição de Milei, Karina começou a organizar a agenda pública do irmão, que na época ganhava notoriedade como economista e comentarista de televisão. “Karina cuidava de tudo, desde garantir que ele tivesse comida na geladeira até gerenciar suas atividades de campanha”, afirmou a jornalista Carolina De Masi, autora de um livro sobre Karina.
Ela controlava o acesso a Milei, decidindo quem poderia entrevistá-lo e coordenando suas aparições em programas de TV, que foram cruciais para sua ascensão como figura pública. “Não havia como convidar Milei para um programa de TV sem falar primeiro com Karina”, disse De Masi. Essa proximidade a tornou a principal estrategista da campanha presidencial de 2023, sendo descrita por Milei como “a grande arquiteta” de sua vitória eleitoral.
Apesar de sua falta de experiência em cargos públicos, Karina assumiu um papel central na La Libertad Avanza, consolidando-se como presidente do partido em setembro de 2024. Sua influência vai além da política, controlando aspectos pessoais da vida de Milei, como sua aparência e contatos com empresários. Essa trajetória, de uma ex-vendedora de bolos e taróloga a uma das figuras mais poderosas do governo, gerou críticas, especialmente após Milei revogar um decreto anti-nepotismo de Mauricio Macri para nomeá-la secretária-geral da Presidência.
Como o escândalo começou
O caso veio à tona em 20 de agosto de 2025, quando jornais argentinos publicaram áudios atribuídos a Diego Spagnuolo, ex-chefe da Andis e amigo pessoal de Milei. Nas gravações, ainda sob análise judicial para autenticação, Spagnuolo acusa Karina Milei e Eduardo “Lule” Menem, subsecretário de gestão institucional, de liderarem um esquema de cobrança de propinas de até 8% sobre contratos com a indústria farmacêutica, rendendo entre US$ 500 mil e US$ 800 mil mensais. “Estão roubando. Você pode fingir que não sabe, mas não joguem esse problema para mim. Tenho todos os WhatsApp de Karina”, teria dito Spagnuolo, segundo o jornal La Nación.
A denúncia aponta que Karina, considerada o “braço direito” de Milei e uma das figuras mais influentes do governo, recebia a maior fatia das propinas, entre 3% e 4%. O esquema, segundo os áudios, envolvia a distribuidora Suizo Argentina, intermediária na venda de medicamentos ao Estado. Spagnuolo também acusou Milei de ter conhecimento do esquema, o que agravou a crise. “Eles não consertaram nada”, disse ele, referindo-se à inação do presidente e de sua irmã.
Horas após a divulgação, o governo reagiu: Spagnuolo foi demitido, e o Ministério da Saúde anunciou uma intervenção na Andis. No dia 22 de agosto, autoridades realizaram buscas na sede da agência e na Suizo Argentina, apreendendo US$ 266 mil em espécie na casa de Emmanuel Kovalivker, representante da empresa, além de celulares e documentos. Jonathan Kovalivker, seu irmão, considerado foragido, entregou-se à Justiça em 25 de agosto.
As acusações e os envolvidos
As acusações giram em torno de corrupção, fraude administrativa e associação ilícita. Além de Karina Milei e Lule Menem, outros nomes foram citados:
Diego Spagnuolo: Ex-chefe da Andis, autor dos áudios e agora investigado. Era próximo de Milei e frequentador assíduo da Casa Rosada.
Daniel Garbellini: Diretor da Andis, afastado após ser chamado de “criminoso” por Spagnuolo nos áudios.
Emmanuel e Jonathan Kovalivker: Empresários ligados à Suizo Argentina, acusados de intermediar o esquema.
A denúncia foi formalizada por Gregorio Dalbón, advogado da ex-presidente Cristina Kirchner, que classificou o caso como uma “matriz de corrupção”. A Justiça, sob o juiz Sebastián Casanello, proibiu os investigados de deixar o país e analisa quatro celulares, incluindo o de Spagnuolo, como provas-chave.
Reações do governo e da oposição
Javier Milei, conhecido por sua retórica combativa, optou pelo silêncio sobre as acusações. Em 25 de agosto, apareceu sorridente ao lado de Karina em um evento com empresários, sem mencionar o caso. Em seu discurso, criticou a imprensa, chamando jornalistas de “mentirosos e rasteiros”, e acusou opositores de quererem “derrubar o país”. Martín Menem, presidente da Câmara e primo de Lule Menem, defendeu os acusados: “Ponho as mãos no fogo por Lule Menem e Karina Milei”, classificando os áudios como uma “operação política” do kirchnerismo.
A oposição, liderada pelo kirchnerismo e outros partidos como a União pela Pátria, aproveita o escândalo para pressionar o governo. Parlamentares planejam abrir uma CPI no Senado, onde a LLA não tem cadeiras, para investigar Karina Milei. “O Parlamento se tornou um ambiente hostil”, afirmou o analista Ignacio Labaqui, da Universidade Católica Argentina, destacando as 12 derrotas consecutivas do governo na Câmara.
Impacto na popularidade de Milei
A popularidade de Milei, que já vinha caindo, sofreu um novo golpe. Pesquisas recentes indicam que sua aprovação está entre 41% e 45%, uma queda significativa desde os 54% registrados em novembro de 2024. A Universidade de San Andrés apontou que 61% dos argentinos estão insatisfeitos com o governo, com rejeição especialmente alta entre jovens (66%) e adultos de meia-idade (71%). O escândalo reforça a percepção de que Milei, que se elegeu prometendo combater a “casta política”, pode estar envolvido em práticas que contradizem seu discurso.
Carlos Fara, da consultoria Fara e Associados, observou: “Milei foi eleito com muitos votos emprestados do centro, e esses eleitores podem estar com dúvidas”. O caso também coincide com um momento econômico delicado: apesar da redução da inflação de 25% ao mês em dezembro de 2023 para 1,9% em julho de 2025, a economia argentina encolheu 1,7% em 2024, com quedas no consumo e nos investimentos. A Universidade Di Tella relatou uma queda de 14% no Índice de Confiança no governo, a segunda maior em 20 meses.
Outras controvérsias recentes
O escândalo da Andis não é o único a abalar Milei. Em fevereiro de 2025, o presidente enfrentou o “Criptogate”, quando promoveu a criptomoeda $LIBRA nas redes sociais, levando a uma valorização seguida de colapso, com prejuízos para milhares de investidores. Mais de 100 denúncias criminais foram registradas, e a oposição pediu seu impeachment, acusando-o de fraude e associação ilícita. Mensagens atribuídas a Hayden Davis, criador da criptomoeda, sugerem que ele pagava Karina Milei para influenciar o presidente: “Envio dinheiro à sua irmã e ele assina o que digo”. Embora Milei tenha negado envolvimento, o caso segue sob investigação na Argentina e nos Estados Unidos.
Além disso, a repressão a protestos, como a de aposentados em 12 de março, e a nomeação de juízes para a Suprema Corte por decreto geraram críticas de aliados como Mauricio Macri e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Esses episódios amplificam o desgaste do governo.
Consequências políticas e econômicas
O escândalo da Andis pode impactar diretamente as eleições de 7 de setembro em Buenos Aires, onde vive um terço do eleitorado argentino, e as legislativas nacionais de 26 de outubro, vistas como um referendo sobre a agenda de austeridade de Milei. A LLA, com apenas 39 deputados na Câmara, precisa conquistar pelo menos 86 cadeiras para formar um “escudo legislativo” contra um possível impeachment.
No mercado financeiro, o impacto já é visível: na segunda-feira, 25 de agosto, o índice de ações argentino caiu 4%, o peso desvalorizou 3% em relação ao dólar, e os títulos em dólar atingiram mínimas de meses. Marcelo Garcia, da consultoria Horizon Engage, alertou: “O escândalo afeta a capacidade do governo de ser respeitável o suficiente para continuar com reformas rigorosas”.
O que esperar?
Analistas veem o caso como um potencial “divisor de águas”. “A narrativa de integridade que sustentou Milei está fragilizada”, disse Jackson Pereira Jr. em análise para a Economic News Brasil. Se os áudios forem autenticados e as acusações contra Karina confirmadas, Milei pode perder sua principal aliada e ver sua base eleitoral erodir. A pressão judicial, liderada por figuras como Gregorio Dalbón, e a possibilidade de uma CPI no Senado aumentam o risco de instabilidade política.
Por outro lado, a base fiel de Milei, apoiada por setores empresariais e parte da imprensa, pode minimizar o impacto nas redes sociais, como sugerem analistas próximos ao governo. No entanto, com a economia estagnada e a oposição se reorganizando, o presidente enfrenta um cenário de crescente volatilidade.
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