Erros foram cometidos (Mas juro que não fui eu): Por que políticos e cidadãos preferem a autojustificação à responsabilidade
Nova edição da obra-prima de Carol Tavris e Elliot Aronson chega ao Brasil pela Editora Goya e expõe os mecanismos psicológicos que corroem democracias – inclusive a nossa
Admitir um erro é uma das tarefas mais difíceis da experiência humana. Em vez de reconhecer falhas, indivíduos, governos e instituições preferem construir narrativas de autojustificadoras que protegem o ego a qualquer custo. Essa é a tese central de Erros foram cometidos (mas juro que não fui eu), clássico da psicologia social escrito por Carol Tavris e Elliot Aronson, que ganha sua primeira edição brasileira pela Editora Goya (selo da Aleph) em 2025.
Logo nas primeiras páginas, os autores acertam o alvo com precisão cirúrgica: “A locução passiva ‘erros foram cometidos’ é uma maneira de reconhecer que algo saiu errado sem que ninguém precise se responsabilizar por isso”. A frase, que virou clichê em discursos políticos mundo afora, resume perfeitamente como a linguagem pode servir de escudo contra a responsabilidade.
O livro mostra que esse mecanismo não é exclusivo de políticos. Ele está presente no cotidiano: quem nunca insistiu num relacionamento tóxico, gastou mais dinheiro consertando um carro ruim ou permaneceu num emprego infeliz apenas para não admitir que errou na escolha inicial? Esse fenômeno, batizado de dissonância cognitiva, faz com que, quanto mais investimos numa decisão errada, mais nos convencemos de que ela estava certa.
Na política, porém o custo é infinitamente maior.
Tavris e Aronson dedicam capítulos inteiros a casos históricos. A invasão do Iraque em 2003, promovida pelo governo George W. Bush com base em informações falsas sobre armas de destruição em massa, é analisada como exemplo clássico de escalada de compromisso: quanto mais soldados morriam e mais evidente ficava o erro, mais a administração Bush dobrava a aposta em narrativas justificadoras.
O livro também dedica atenção especial a Donald Trump. Os autores afirmam sem rodeios: “O processo pelo qual Trump, sua administração e seus apoiadores fomentaram essa visão [de transformar adversários em inimigos] teve consequências devastadoras para nossa democracia”. Trump elevou a negação de erros a estratégia política central, transformando qualquer crítica em “fake news” e qualquer falha em vitória.
Embora o livro seja de origem americana (a edição original é de 2007, com atualizações posteriores), sua leitura em 2025 no Brasil soa assustadoramente atual. Aqui também abundam exemplos de líderes que preferem a teoria da conspiração à autocrítica, de governantes que culpam “herança maldita” ou “forças ocultas” em vez de reconhecerem falhas de gestão, de parlamentares que nunca erram – são sempre “vítimas do sistema” ou “traídos por assessores”.
A frase “erros foram cometidos” já foi usada por presidentes, ministros e governadores brasileiros em escândalos de corrupção, crises econômicas, sem que ninguém, de fato, assumisse autoria. O mecanismo é o mesmo diagnosticado por Tavris e Aronson: quanto maior o erro, maior a necessidade de autojustificação – e maior o dano à confiança nas instituições.
Mais do que diagnosticar o problema, o livro oferece antídotos. Autocrítica, transparência institucional e educação para o pensamento crítico são apontados como caminhos possíveis. Aprender com erros, defendem os autores, não é fraqueza – é a única forma de preservar democracias saudáveis.
Elliot Aronson, professor emérito da Universidade da Califórnia e um dos psicólogos mais premiados da história (único a vencer as três principais categorias da Associação Americana de Psicologia), e Carol Tavris, doutora pela Universidade de Michigan e autora de centenas de artigos sobre temas controversos, entregam uma obra acessível, divertida e profundamente perturbadora.
A edição brasileira da Editora Goya chega em momento oportuno. Num país onde a polarização alimenta narrativas de “nós contra eles” e onde admitir erro ainda é visto como sinal de fraqueza, Erros foram cometidos (mas juro que não fui eu) funciona como alerta e vacina.
Você já percebeu esse mecanismo em políticos brasileiros que nunca erram? Ou em você mesmo? Deixe seu comentário abaixo, compartilhe esta matéria com quem precisa ler e ajude a espalhar essa reflexão necessária.
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