Entre a dedicação e a apatia: um comparativo dos mandatos dos primos Gilvan Máximo e Fernando Máximo
Enquanto o não médico Gilvan se destaca na defesa da saúde pública, o médico Fernando entrega atuação apagada
Na política, laços familiares nem sempre se traduzem em afinidades de atuação. Os deputados federais Gilvan Máximo (Republicanos-DF) e Fernando Máximo (União Brasil-RO), primos de sangue e eleitos em 2022 para a 57ª legislatura (2023-2027), exemplificam essa máxima.
Gilvan, um empresário da construção civil sem formação médica, tem se notabilizado por projetos de lei voltados à saúde pública e por uma presença constante no plenário da Câmara dos Deputados. Já Fernando, médico cirurgião com vasta experiência prévia como gestor na área da saúde, apresenta um mandato discreto, com poucos projetos protocolados e participação limitada, o que levanta questionamentos sobre seu aproveitamento do cargo.
Projetos de Lei: Gilvan proativo, Fernando contido
Gilvan Máximo, que assumiu seu primeiro mandato com 20.923 votos, já deixou sua marca com iniciativas legislativas focadas em ampliar o acesso à saúde e melhorar o atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). Até março de 2025, ele é autor de pelo menos cinco projetos de lei relevantes, três deles diretamente ligados à saúde. Confira os principais:
PL 2318/2023 – Prioridade no SUS para Pacientes com Câncer: Garante atendimento e exames prioritários para pessoas com suspeita ou diagnóstico confirmado de câncer, reduzindo o tempo entre diagnóstico e tratamento. Aprovado na Câmara em fevereiro de 2025, o projeto aguarda análise do Senado.
PL 4512/2023 – Políticas de Saúde para a Terceira Idade no DF: Propõe a criação de programas específicos de atendimento geriátrico no Distrito Federal, como consultas regulares e acesso a medicamentos essenciais para idosos.
PL 789/2024 – Incentivo à Tecnologia na Saúde Pública: Visa destinar recursos para a implementação de ferramentas digitais, como prontuários eletrônicos e telemedicina, em unidades de saúde públicas.
PL 1520/2024 – Campanhas de Prevenção ao Diabetes: Sugere a realização de campanhas nacionais anuais para conscientização e diagnóstico precoce do diabetes, com foco em populações vulneráveis.
PL 3809/2024 – Transporte Gratuito para Tratamento Médico: Propõe a oferta de transporte público gratuito a pacientes do SUS em tratamento contínuo, como quimioterapia ou hemodiálise, ainda em tramitação.
“Não sou médico, mas sei que a saúde é o clamor das ruas. Meu papel é ouvir o povo e transformar essas demandas em ações concretas”, declarou Gilvan em discurso no plenário em 2024, ao defender o PL 2318/2023. Sua atuação tem sido elogiada por entidades como a Associação Brasileira de Apoio ao Câncer (ABAC), que vê nas propostas um avanço na humanização do atendimento.
Por outro lado, Fernando Máximo, eleito com 52.466 votos e conhecido por sua passagem como secretário de Saúde de Rondônia, tem uma produção legislativa tímida. Em mais de dois anos de mandato, ele apresentou apenas dois projetos de lei, nenhum deles diretamente ligado à saúde pública, área em que sua expertise poderia fazer diferença.
“Prefiro trabalhar nos bastidores, levando recursos para Rondônia via emendas parlamentares”, justificou Fernando em entrevista ao jornal Extra de Rondônia em janeiro de 2025. Apesar disso, sua baixa produtividade legislativa tem sido criticada por eleitores que esperavam mais protagonismo de um médico no Congresso.
Presença em sessões: assiduidade versus intermitência
A disparidade entre os primos também aparece nos números de presença. Gilvan Máximo registra um índice de 92% de comparecimento às 142 sessões deliberativas realizadas entre fevereiro de 2023 e março de 2025, segundo dados do Portal da Câmara. Suas raras ausências, totalizando 11 sessões, foram justificadas por compromissos oficiais, como a representação da Câmara em eventos da Frente Parlamentar da Ciência, da qual é presidente. “Estar presente é o mínimo que posso fazer por quem confiou em mim”, afirmou Gilvan em redes sociais em 2024.
Fernando Máximo, contudo, marca 78% de presença no mesmo período, ausentando-se de 31 sessões, das quais 12 sem justificativa. Integrante titular da Comissão de Saúde, ele raramente assume a palavra ou propõe debates, o que contrasta com sua experiência como ex-secretário estadual, cargo em que geriu hospitais e políticas de saúde em Rondônia. “Ele poderia ser uma liderança na pauta da saúde, mas parece alheio ao potencial do mandato”, lamentou um assessor parlamentar sob anonimato.
Trajetórias e impactos distintos
Gilvan Máximo, além de sua produção legislativa, tem se destacado na articulação política. Como titular na Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação, ele já relatou projetos de outros deputados e integrou a vice-liderança do Republicanos, ampliando sua influência na Casa. Sua atuação reflete uma tentativa de construir uma imagem de deputado comprometido com causas populares, mesmo sendo novato no Congresso.
Fernando Máximo, por sua vez, concentra esforços em emendas parlamentares – como os R$ 9 milhões destinados a cirurgias eletivas em Vilhena (RO) em 2024 –, mas não capitaliza sua formação médica em propostas de alcance nacional. “A saúde pública precisava de uma voz como a dele, mas ele optou por um perfil mais local e menos expressivo”, analisa Mariana Costa, cientista política da Universidade de Brasília (UnB).
Um legado em jogo
O contraste entre Gilvan e Fernando Máximo expõe como a disposição pessoal e a leitura das demandas sociais podem moldar um mandato, mais do que títulos ou currículos. Enquanto Gilvan, sem estetoscópio, corre para consolidar um legado na saúde, Fernando, com jaleco guardado. e sempre com uma touca cirúrgica na cabeça, parece confortável na penumbra legislativa.
Para os eleitores do DF e de RO, a pergunta que fica é: quem está, de fato, representando seus anseios na Câmara? Com dois anos de mandato pela frente, se recusa em acender sua chama parlamentar – enquanto Gilvan solidifica seu espaço como uma surpresa positiva no Congresso.