Elon Musk lança America Party e Trump reage: 'idéia ridícula'
A criação de um terceiro partido político por Elon Musk gera tensões com Donald Trump e reacende o debate sobre o sistema bipartidário nos Estados Unidos
No último sábado, 5 de julho de 2025, o bilionário Elon Musk anunciou a formação do "America Party" (Partido da América, em tradução livre), uma nova força política que promete desafiar o domínio do sistema bipartidário dos Estados Unidos, composto por democratas e republicanos.
A decisão, formalizada após uma enquete realizada na plataforma X, onde 65,4% dos 1,25 milhão de respondentes apoiaram a criação de um terceiro partido, marca um ponto de virada na relação entre Musk e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A iniciativa, no entanto, foi rapidamente criticada por Trump, que classificou a ideia como "ridícula" e alertou para os riscos de "disrupção e caos" no cenário político americano.
A origem do conflito
A rixa entre Musk e Trump teve início devido a divergências sobre a recente legislação de cortes de impostos e gastos, apelidada por Trump de "big, beautiful bill" (projeto grande e bonito). Assinada na sexta-feira, 4 de julho de 2025, a lei foi duramente criticada por Musk, que a classificou como uma "abominação repugnante" por aumentar o déficit federal em cerca de US$ 5 trilhões, segundo suas estimativas. Musk, que até recentemente liderava o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) na administração Trump, rompeu com o presidente ao acusar os republicanos de apoiar um projeto que, em suas palavras, levaria à "escravidão por dívidas" dos americanos."Quando se trata de falir nosso país com desperdício e corrupção, vivemos em um sistema de partido único, não em uma democracia", escreveu Musk no X, plataforma da qual é proprietário, no sábado.
Ele anunciou a criação do America Party com a promessa de "devolver a liberdade" aos americanos, focando inicialmente nas eleições para a Câmara e o Senado em 2026. A estratégia, segundo Musk, é conquistar um número limitado de cadeiras no Congresso – entre 2 a 3 no Senado e 8 a 10 na Câmara – para atuar como "voto decisivo" em questões legislativas cruciais.
A reação de Trump
No domingo, 6 de julho, Trump não poupou críticas ao ex-aliado. Antes de embarcar no Air Force One, em Nova Jersey, o presidente declarou à imprensa: "Acho ridículo começar um terceiro partido. Temos um tremendo sucesso com o Partido Republicano. Os democratas perderam o rumo, mas sempre foi um sistema bipartidário, e começar um terceiro partido só adiciona confusão." Mais tarde, em uma postagem no Truth Social, Trump intensificou o tom, chamando Musk de "desastre" e afirmando estar "triste" ao ver o bilionário "sair completamente dos trilhos" nas últimas semanas.
Para Trump, a criação de um terceiro partido só geraria "disrupção total e caos", algo que, segundo ele, já é promovido pelos "democratas da esquerda radical". Trump também sugeriu que a oposição de Musk à legislação está ligada à eliminação de incentivos para veículos elétricos, uma medida que impactaria diretamente a Tesla, empresa liderada pelo bilionário. "É um grande projeto, mas, infelizmente para Elon, ele elimina o ridículo mandato de veículos elétricos, que forçaria todos a comprar um carro elétrico em pouco tempo", escreveu Trump no Truth Social.
O presidente chegou a insinuar que o governo poderia rever os contratos federais com as empresas de Musk, como SpaceX e Tesla, e sugeriu que o DOGE, agora sem Musk, poderia investigar os subsídios recebidos pelo bilionário.
O America Party e suas ambições
O America Party, conforme anunciado por Musk, pretende se posicionar como uma alternativa ao que ele chama de "unipartidarismo" americano, onde democratas e republicanos, segundo ele, frequentemente convergem em políticas que não atendem aos interesses da população. Em uma postagem no X no domingo, Musk esclareceu que o foco inicial do partido será nas eleições legislativas de 2026, mas não descartou apoiar um candidato presidencial em 2028. "Apoiar um candidato à presidência não está fora de questão, mas o foco para os próximos 12 meses está na Câmara e no Senado", escreveu.A criação do partido já atraiu atenção de figuras públicas.
O bilionário Mark Cuban e o ex-diretor de comunicações de Trump, Anthony Scaramucci, expressaram interesse na iniciativa, enquanto aliados de Trump, como Roger Stone e Steve Bannon, criticaram Musk, acusando-o de dividir o voto republicano. Bannon chegou a sugerir, em tom polêmico, que Musk, nascido na África do Sul, poderia ser deportado por sua iniciativa política.
Desafios históricos para terceiros partidos
A história política dos Estados Unidos não favorece terceiros partidos. Como apontou Dafydd Townley, especialista em política americana da Universidade de Portsmouth, em entrevista à Newsweek, "terceiros partidos não tendem a ter uma longa vida na política americana" devido ao sistema eleitoral de "vencedor leva tudo".
Um exemplo notável é o desempenho de Ross Perot, que obteve 19% dos votos populares na eleição presidencial de 1992, mas não conquistou nenhum voto eleitoral. A estrutura do sistema político americano, com exigências rigorosas de acesso às cédulas eleitorais e a necessidade de uma infraestrutura organizacional robusta, representa um obstáculo significativo para o America Party.
Apesar disso, Musk possui vantagens únicas. Com uma fortuna estimada em US$ 405 bilhões, segundo a Forbes, ele foi o maior doador individual nas eleições de 2024, investindo mais de US$ 291 milhões em candidatos republicanos, incluindo Trump. Sua capacidade de autofinanciar campanhas, combinada com sua influência nas redes sociais e o alcance da plataforma X, pode dar ao America Party uma visibilidade incomum para um partido iniciante. Além disso, pesquisas recentes indicam um crescente descontentamento com o sistema bipartidário, o que pode abrir espaço para a nova iniciativa.
Impactos no mercado e na política
A entrada de Musk na arena política já gerou reflexos no mercado. A Azoria Partners, uma firma de investimentos, anunciou que adiará a listagem de seu fundo de investimento ligado à Tesla, citando preocupações com o potencial conflito de interesses entre as ambições políticas de Musk e suas responsabilidades como CEO. James Fishback, CEO da Azoria, pediu que o conselho da Tesla avalie se as atividades políticas de Musk são compatíveis com sua liderança na empresa.
No campo político, aliados de Trump temem que o America Party possa fragmentar a base republicana, beneficiando os democratas nas eleições de 2026. Steven Nekhaila, presidente do Comitê Nacional Libertário, sugeriu que Musk deveria se juntar ao Partido Libertário, que já possui uma estrutura consolidada, em vez de criar uma nova legenda. "Criar um novo terceiro partido seria um erro", afirmou Nekhaila ao Politico.
O futuro do America Party
Embora a criação do America Party tenha gerado um debate intenso, seu sucesso dependerá de sua capacidade de superar barreiras estruturais e manter o ímpeto até as primárias de 2026.
Musk, conhecido por sua abordagem disruptiva em setores como tecnologia e transporte, parece determinado a aplicar a mesma mentalidade à política. No entanto, analistas alertam que sua atenção pode se dissipar, dado seu histórico de se envolver em múltiplos projetos simultaneamente.
Por enquanto, o embate entre Musk e Trump revela uma fratura significativa entre dois dos homens mais influentes do mundo, com implicações que podem redefinir o cenário político americano.
Resta saber se o America Party será capaz de transformar a insatisfação popular em uma força política viável ou se, como Trump prevê, se tornará apenas mais uma tentativa frustrada de romper com o sistema bipartidário.
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