Editorial: O Congresso Nacional contra o povo: Birras, polarização e retrocessos
Um Legislativo desconectado: Priorizando elites e ignorando o povo
O Congresso Nacional do Brasil, que deveria ser a vanguarda da democracia e o motor do progresso legislativo, tem se tornado um palco de birras políticas, polarização ideológica e decisões que desafiam o interesse público. Nos últimos meses, as ações dos parlamentares, guiadas mais por interesses partidários e disputas de poder do que pelo bem-estar coletivo, têm gerado indignação generalizada e reforçado a percepção de que o Legislativo está desconectado da realidade do povo brasileiro.
Polarização e birras: O Congresso refém de si mesmo
A polarização política no Brasil, intensificada desde as manifestações de 2013 e consolidada nas eleições de 2018 e 2022, transformou o Congresso em um campo de batalha onde o diálogo foi substituído por narrativas de confronto. Como apontado em estudos acadêmicos, a polarização entre apoiadores de Lula (PT) e Bolsonaro (PL) não apenas dividiu a sociedade, mas também paralisou o Legislativo, dificultando a aprovação de políticas públicas que atendam a interesses comuns. Deputados e senadores, em vez de buscar consensos, concentram-se em pautas que amplificam conflitos ideológicos, como a anistia aos envolvidos no 8 de janeiro ou a cassação de parlamentares opositores, enquanto questões urgentes, como a crise fiscal e os direitos trabalhistas, são relegadas ao segundo plano.
Essa postura reflete uma imaturidade política que custa caro ao país. A incapacidade de dialogar, conforme descrito em análises sobre o impeachment de 2016, resulta em discursos incoerentes e narrativas que priorizam a difamação do adversário em vez de propostas concretas. O Congresso, que deveria ser um espaço de construção coletiva, tornou-se um reflexo do que há de pior na política brasileira: birras que travam a pauta legislativa e aprofundam a desconfiança da população nas instituições democráticas.
A derrubada do IOF: Um retrocesso que favorece apenas os ricos
Em 25 de junho de 2025, o Congresso Nacional protagonizou mais um capítulo de sua desconexão com o povo ao derrubar o decreto que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Esse imposto, que incide principalmente sobre transações financeiras de alto valor, é pago majoritariamente por grandes empresas e indivíduos de alta renda. Sua derrubada, conforme criticado em postagens no X, representa um “tapa no bolso do povo”, pois alivia a carga tributária dos mais ricos enquanto o governo é pressionado a cortar gastos em programas sociais. Essa decisão, tomada em meio a um cenário de crise fiscal, reforça a narrativa de que o Congresso prioriza os interesses de elites econômicas em detrimento das necessidades da maioria.
A derrubada do IOF não apenas reduz a arrecadação necessária para financiar políticas públicas, mas também envia uma mensagem clara: os parlamentares estão mais preocupados em atender lobbies econômicos do que em promover justiça fiscal. Como destacou Bráulio Borges, pesquisador da FGV, a postura do Congresso reflete a influência de setores interessados em manter privilégios, agravando as desigualdades sociais.
Aumento do número de Deputados: Um tapa na cara dos brasileiros
Outra decisão que gerou revolta foi a aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLP) 177/2023, que eleva o número de deputados federais de 513 para 531, a um custo adicional de R$ 65 milhões por ano. A medida, aprovada pela Câmara em maio de 2025 e pelo Senado em junho, foi justificada com argumentos frágeis, como a necessidade de adequar a representação à população, mas ignora a vontade de 76% dos brasileiros, que, segundo o Datafolha, são contra o aumento do número de parlamentares. Essa iniciativa, descrita como “impopular e imoral” por analistas, amplia as distorções na representação popular e reforça a percepção de que o Congresso legisla em causa própria.
Em um momento em que o Brasil enfrenta déficits fiscais na casa das dezenas de bilhões, aumentar os gastos com novos deputados é um desrespeito aos cidadãos que enfrentam dificuldades econômicas. O Congresso, que deveria liderar pelo exemplo com medidas de austeridade, opta por inflar seus próprios custos, minando a credibilidade do Legislativo e afastando ainda mais a população da política.
Produção Legislativa: Quantidade não é qualidade
A produção legislativa do Congresso Nacional nos últimos anos tem sido marcada por baixa produtividade e foco em pautas de cunho eleitoral ou polarizado. Segundo o estudo “Congresso em Números” da FGV, entre 1988 e 2017, a Câmara dos Deputados teve períodos de intensa atividade legislativa, mas a qualidade das proposições aprovadas nem sempre reflete o interesse público. Em 2025, a situação não é diferente: o Congresso concentrou esforços em pautas como a anistia aos golpistas do 8 de janeiro e a suspensão de ações penais contra aliados políticos, enquanto projetos de impacto social, como o fim da escala 6x1, permanecem engavetados.
Entre 2023 e 2024, o governo Lula enfrentou dificuldades históricas no Congresso, com o pior desempenho na aprovação de medidas provisórias e a derrubada de 32 vetos presidenciais, um recorde que reflete a falta de apoio ao Executivo e a força do centrão. Em vez de avançar em reformas estruturais, como a tributária ou trabalhista, os parlamentares priorizam emendas parlamentares, que em 2024 consumiram mais de R$ 50 bilhões, frequentemente sem transparência. Essa prática, conhecida como “orçamento secreto”, fortalece o poder de deputados e senadores em seus redutos eleitorais, mas compromete a eficiência da gestão pública e perpetua o clientelismo.
O fim da escala 6x1: Uma pauta ignorada
Entre as pautas negligenciadas pelo Congresso, destaca-se a proposta de acabar com a escala de trabalho 6x1, que obriga trabalhadores, especialmente do setor de serviços, a trabalharem seis dias seguidos com apenas um de descanso. Essa prática, comum em setores como comércio e segurança, é exaustiva e prejudica a saúde física e mental dos trabalhadores. A aprovação de uma legislação que substitua a escala 6x1 por um modelo mais humano, como o 5x2, seria uma medida concreta em favor da classe trabalhadora, mas o Congresso se recusa a debater o tema, preferindo pautas que rendem capital político imediato.
Essa omissão reflete a falta de compromisso com os direitos sociais e a prioridade dada a interesses corporativos. Enquanto o Brasil enfrenta desafios como o desemprego e a precarização do trabalho, o Legislativo ignora medidas que poderiam melhorar a qualidade de vida de milhões de brasileiros, reforçando a percepção de que o Congresso “joga contra o povo”.
Deputados que jogam contra o povo
Alguns deputados se destacam por ações que vão contra os interesses da população. Além dos já mencionados, podemos citar:
Hugo Motta (PP-PB): Como presidente da Câmara, Motta tem liderado a resistência à pauta do governo Lula, incluindo a derrubada do IOF e a obstrução de votações em prol de interesses da oposição bolsonarista. Sua recusa em pautar a anistia aos golpistas do 8 de janeiro, embora positiva, parece mais uma estratégia para evitar desgaste político do que um compromisso com a democracia.
Damião Feliciano (União-PB): Relator do PLP 177/2023, Feliciano defendeu o aumento do número de deputados com argumentos frágeis, ignorando a impopularidade da medida e o impacto fiscal.
Átila Lira (PP-PI): Com mais de sete mandatos, Lira criticou a judicialização da política, mas sua postura conservadora frequentemente alinha-se a pautas que favorecem elites em detrimento de políticas sociais.
Eduardo Bolsonaro (PL-SP): Figura central na polarização, Eduardo tem usado seu mandato para promover narrativas divisionistas, como a defesa de pautas antidemocráticas e a oposição sistemática a medidas progressistas, sem apresentar propostas relevantes.
Bia Kicis (PL-DF): Conhecida por sua atuação em defesa de pautas bolsonaristas, Kicis prioriza projetos de cunho ideológico, como a flexibilização do porte de armas, enquanto ignora questões sociais urgentes.
Ricardo Salles (PL-SP): Ex-ministro do Meio Ambiente, Salles tem focado em pautas que favorecem setores econômicos, como o agronegócio, em detrimento de políticas ambientais e sociais, contribuindo para retrocessos na proteção ambiental.
Esses parlamentares, entre outros, representam a face de um Congresso que prioriza interesses particulares e lobbies econômicos, contribuindo para a paralisia legislativa e a erosão da confiança pública.
Políticos sérios e produtivos
Apesar do cenário desanimador, alguns parlamentares se destacam por sua seriedade e compromisso com o interesse público. Além dos já citados, merecem menção:
Jandira Feghali (PCdoB-RJ): Com mais de 30 anos na Câmara, Feghali tem se posicionado em defesa da Constituição e dos direitos sociais, criticando a judicialização excessiva e a polarização que prejudicam o diálogo político. Sua atuação em prol de pautas trabalhistas e de saúde pública é notável.
Marcelo Castro (MDB-PI): Como senador, Castro tentou mitigar o desgaste político do aumento de deputados ao incluir uma emenda que proíbe o aumento de despesas, demonstrando preocupação com a responsabilidade fiscal.
Tabata Amaral (PSB-SP): Jovem e combativa, Tabata tem defendido pautas progressistas, como educação e igualdade de gênero, com uma abordagem pragmática que busca superar a polarização.
Alessandro Molon (PSB-RJ): Com uma trajetória marcada pela defesa de direitos humanos e transparência, Molon tem sido uma voz ativa em pautas como a proteção ambiental e a luta contra a corrupção.
Simone Tebet (MDB-MS): Como senadora, Tebet tem se destacado pela articulação em prol de pautas econômicas e sociais, buscando consensos em um Congresso polarizado.
Luiza Erundina (PSOL-SP): Veterana na política, Erundina mantém um compromisso firme com os direitos dos trabalhadores e minorias, sendo uma das vozes mais consistentes em defesa da justiça social.
Esses parlamentares, embora minoria, mostram que é possível atuar com responsabilidade e compromisso, mesmo em um ambiente dominado por interesses partidários.
Repercussões negativas e o caminho adiante
As ações do Congresso têm consequências graves para o Brasil. A baixa produtividade legislativa, combinada com a priorização de pautas impopulares, como o aumento de deputados e a derrubada do IOF, aprofunda a crise de confiança nas instituições. Segundo pesquisa Datafolha de dezembro de 2021, apenas 10% dos brasileiros consideravam o trabalho do Congresso como bom ou ótimo. Esse número provavelmente piorou em 2025, dado o crescente descontentamento expresso nas redes sociais.
Além disso, a paralisia legislativa impede avanços em áreas críticas, como a reforma tributária, a proteção ambiental e os direitos trabalhistas. A ausência de debate sobre o fim da escala 6x1, por exemplo, perpetua a exploração de trabalhadores, enquanto o aumento das emendas parlamentares reforça o clientelismo e a corrupção, como evidenciado pelo “orçamento secreto”. A polarização, por sua vez, alimenta a intolerância e o ódio, minando a coesão social necessária para o progresso do país.
Para reverter esse cenário, o Congresso precisa abandonar as birras e a polarização, priorizando o diálogo e pautas que atendam às necessidades da população. A sociedade civil, por sua vez, deve pressionar por maior transparência e responsabilidade, utilizando as redes sociais e outros canais para exigir um Legislativo que represente o povo, e não interesses privados.
O Congresso Nacional, ao optar por decisões impopulares como a derrubada do IOF e o aumento do número de deputados, demonstra um descompasso alarmante com as prioridades do Brasil. Em vez de cortar custos e avançar pautas sociais, como o fim da escala 6x1, os parlamentares se perdem em disputas ideológicas e interesses corporativos, jogando contra o povo. É hora de exigir um Legislativo que coloque os brasileiros em primeiro lugar, promovendo justiça social, responsabilidade fiscal e diálogo construtivo. A democracia brasileira merece mais.
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