Do Complexo de Israel ao Ceará: Como o Terceiro Comando Puro virou a terceira maior facção do país usando a bíblia como arma
De símbolos neon em favelas cariocas a alianças que ecoam em chacinas no Nordeste, o TCP emerge como terceira força do crime organizado, misturando retórica evangélica com disputas armadas
No coração da Zona Norte do Rio de Janeiro, uma estrela de Davi de neon gigantesca já brilhou como farol noturno sobre o Complexo de Israel, conjunto de cinco comunidades – Parada de Lucas, Cidade Alta, Vigário Geral, Pica-Pau e Cinco Bocas – dominadas pelo Terceiro Comando Puro (TCP). O símbolo, destruído em uma operação da Polícia Militar (PM) em 11 de março de 2025, não era mero adorno: representava a identidade de uma facção que, nos últimos anos, ganhou notoriedade pela presença de traficantes que se declaram evangélicos. Mas, como revelou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em novembro de 2025, a queda da estrela foi mais simbólica do que efetiva. O TCP, segundo o coordenador-geral de análise de conjuntura nacional da Abin, Pedro Souza Mesquita, é agora o “terceiro grupo emergente no contexto nacional”, atrás apenas do rival Comando Vermelho (CV) e do Primeiro Comando da Capital (PCC).
A expansão do TCP transcende as fronteiras fluminenses. De acordo com relatório da Abin divulgado em uma reunião da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência no Congresso, a facção avançou para nove estados além do Rio: Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Ceará, Amapá, Acre, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Essa nacionalização, confirmada por fontes como o G1 e o Jornal Grande Bahia em dezembro de 2025, segue um padrão clássico de incorporação de grupos locais, como analisou Carolina Grillo, coordenadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF): “Pequenas facções locais acabam se beneficiando de se aliar a essas grandes facções porque elas entram em redes de solidariedade, de contato para compra de drogas, de armas, de suporte em situações de rivalidade.”
No Ceará, uma das frentes mais quentes dessa expansão, o TCP firmou aliança com os Guardiões do Estado (GDE), facção local enfraquecida após chacinas como a de janeiro de 2018, que deixou 14 mortos em uma festa em Fortaleza. A presença do TCP foi detectada em setembro de 2024, com 37 prisões na região metropolitana de Fortaleza, segundo o delegado-geral da Polícia Civil do Ceará, Márcio Gutiérrez. “A entrada do TCP no Ceará se deu por meio da aliança com uma facção local, um expediente também bastante utilizado por CV e PCC em seus respectivos processos de nacionalização”, afirmou Gutiérrez à BBC News Brasil, em reportagem republicada pelo G1 em 1º de dezembro de 2025. Investigações apontam que líderes do GDE migraram para o Rio, costurando laços com o TCP, e retornaram para orientar operações. Desde então, o grupo monitora “as consequências e desdobramentos dessa aliança”, com capturas contínuas.
Essa chegada, porém, trouxe um rastro de violência. Em outubro de 2025, pelo menos quatro terreiros de umbanda em Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza, foram fechados a mando da facção, ecoando práticas de intolerância religiosa comuns no Rio. Gutiérrez confirmou que os casos estão sob investigação. A região, aliás, viu pichações com “Jesus é dono do lugar” ao lado da estrela de Davi, marca registrada do TCP. Em novembro de 2025, prisões em Maracanaú flagraram suspeitos extorquindo vendedores ambulantes por meio de máquinas de loteria estadual – uma tática miliciana que o TCP replica fora do Rio, como reportou o Diário do Nordeste.
O Ceará, com taxa de homicídios ainda elevada – Maranguape lidera o ranking nacional com 79,9 por 100 mil habitantes, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025 –, teme uma escalada. Luiz Fábio Silva Paiva, coordenador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC), alerta: “Eu acho que sempre há risco. Vai depender muito da movimentação entre os grupos e do próprio Estado”. De janeiro de 2024 a setembro de 2025, a Secretaria da Segurança Pública do Ceará registrou 219 casos de deslocamentos forçados, com famílias expulsas de vilarejos como Uiraponga e Morada Nova, transformados em “cidades-fantasmas” por tiroteios entre TCP e rivais. Em agosto de 2025, escolas em Fortaleza fecharam temporariamente devido a confrontos; em setembro, 30 famílias fugiram de Pacatuba após um assassinato ligado à disputa.
No epicentro carioca, o Complexo de Israel reflete o mistério em torno de Álvaro Malaquias Santa Rosa, o “Peixão”, de 39 anos, chefe local do tráfico. Seu “resort” em área de proteção ambiental foi demolido na operação de março, mas Peixão segue foragido, sem nunca ter pisado em uma prisão. Com 79 anotações criminais, ele é ligado a intolerância religiosa e violência extrema, como o bloqueio da Avenida Brasil em novembro de 2025, com carros incendiados e tiroteios que suspenderam atendimentos em unidades de saúde, conforme a Agência Brasil. Postagens recentes no X (antigo Twitter), como as do deputado Marcelo Dino (@marcelodino_rj) em 27 de novembro de 2025, relatam barricadas removidas após pressão policial, mas o território permanece volátil.
Pesquisadores como Kristina Hinz, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), identificam três pilares do sucesso do TCP: relação menos conflituosa com a polícia, evitando confrontos diretos no Rio; aliança com o PCC, acessando mercados internacionais; e proximidade com milícias, adotando extorsões. Em novembro de 2025, uma megaoperação no Espírito Santo desmantelou pacto inédito entre TCP, PCC e Associação Família Capixaba (AFC), como noticiou o Metrópoles, visando resistir ao Primeiro Comando de Vitória (PCV).
O elemento religioso, batizado de “narcopentecostalismo” por estudiosos como Christina Vital da Cunha, do Laboratório de Estudos em Política, Arte e Religião (LePar/UFF), permeia tudo. Surgido como dissidência do CV em 2002, o TCP incorpora discursos bíblicos para legitimar expansão: combates viram “guerras espirituais” contra o CV, associado a religiões de matriz africana. Hinz explica: “As facções narcopentecostais se utilizam do discurso religioso para legitimar a expansão dos seus territórios e nos confrontos com outras facções”. No sistema prisional cearense, 43,2% dos 20 mil detentos são evangélicos, segundo censo de 2025, alimentando recrutamento.
Paiva, da UFC, nota: “É um grupo que conseguiu, dentro da esfera criminal, de fato tornar a religião como elemento motivador das coisas”, criando unidade ideológica sem “teologia profunda”. No entanto, comunidades sofrem. Moradores de áreas do CV em Fortaleza, sob anonimato, relatam famílias separadas por km de medo, adolescentes trancados em casa. Reginaldo Silva, gerente de advocacia da ONG Visão Mundial, descreve: “Todos preferem o silêncio porque têm medo de perder a vida”. Em setembro de 2025, estudantes assassinados em Sobral por frequentarem escola em território rival ilustram o terror.
A localização estratégica do Ceará – porta para o Nordeste, Norte e Sul –, somada à desigualdade apesar do crescimento econômico, atrai facções, como analisa Paiva. Enquanto o CV opera em 25 estados via “franquias locais” (CNN Brasil, outubro de 2025), o TCP usa descentralização administrativa para crescer, per o Diário do Nordeste. Especialistas como Bruno Paes Manso, da USP, ouvidos na CPI do Crime Organizado em novembro de 2025, alertam para uma “nova dinâmica” no crime, com facções como TCP e CV alimentando guerras que desafiam a segurança pública – tema central para as eleições de 2026.
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Com informações da BBC Brasil



