Desvendando o autismo infantil: Como identificar, acompanhar e apoiar crianças com TEA no Brasil
Conheça os sinais do Transtorno do Espectro Autista, saiba onde buscar ajuda e entenda as causas e tratamentos disponíveis para garantir uma vida mais plena às crianças
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo, e no Brasil, estima-se que cerca de 2 milhões de indivíduos vivam dentro do espectro. Identificar os sinais precocemente, entender as causas e buscar apoio especializado são passos cruciais para melhorar a qualidade de vida das crianças com TEA e suas famílias.
Nesta reportagem, exploramos como reconhecer comportamentos autistas, as ações recomendadas, os tratamentos disponíveis, as opções de suporte no Brasil e os avanços em pesquisa, além de esclarecer a origem do transtorno e fatores que podem influenciá-lo.
Como identificar o comportamento autista em crianças
O TEA é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação, interação social e comportamentos repetitivos ou restritivos. Os sinais podem surgir nos primeiros meses de vida, mas o diagnóstico geralmente é confirmado entre os 2 e 3 anos de idade. “A identificação precoce é essencial, pois a neuroplasticidade cerebral permite melhores resultados com intervenções iniciadas cedo”, explica a neuropediatra Dra. Bruna Lacava, da Clínica Neurológica em Joinville (SC).
Sinais de alerta para pais e cuidadores incluem:
Aos 6 meses: Poucas expressões faciais, baixo contato visual, ausência de sorriso social.
Aos 9 meses: Não responde a sorrisos, não imita sons ou expressões, ausência de balbucios que imitam a fala.
Aos 12 meses: Não responde ao próprio nome, ausência de gestos como “tchau” ou apontar, falta de atenção compartilhada.
Aos 2-3 anos: Atraso na fala, dificuldade em interagir com outras crianças, comportamentos repetitivos (como enfileirar objetos ou focar em partes específicas de brinquedos), sensibilidade a sons, texturas ou luzes, e resistência a mudanças na rotina.
Cada criança apresenta o TEA de forma única, com intensidades variando de leve (nível 1) a severa (nível 3). “Nem toda criança com TEA terá todos esses sinais, mas a presença de alguns já justifica a busca por avaliação profissional”, alerta a neurologista pediátrica Dra. Clarice Coimbra.
Origem do TEA: Hereditariedade e fatores de risco
A etiologia do TEA é multifatorial, envolvendo uma interação complexa entre fatores genéticos e ambientais. Estudos indicam que a hereditariedade desempenha um papel significativo, com taxas de até 90% em estudos com gêmeos. Genes como CHD8 e SHANK3 já foram associados ao transtorno, mas o TEA é geneticamente heterogêneo, o que explica a variabilidade de sintomas. “Não é uma herança simples, como traços mendelianos. Múltiplos genes interagem, e fatores epigenéticos também influenciam”, explica o médico geneticista Dr. Gustavo G. da Fonseca.
Fatores ambientais durante a gravidez também podem aumentar o risco, embora não sejam causas diretas. Entre eles:
Exposição a medicamentos: O uso de ácido valproico (anticonvulsivante) durante a gestação está associado a maior risco de TEA.
Infecções maternas: Doenças como rubéola, zika ou toxoplasmose podem causar lesões cerebrais no feto.
Outros fatores: Prematuridade (menos de 35 semanas), baixo peso ao nascer (< 2.500 g), idade parental avançada, deficiência de vitamina D ou ácido fólico e exposição a toxinas como metais pesados.
Importante: vacinas não causam autismo, um mito desmentido por inúmeros estudos científicos.
Principais ações após a suspeita de TEA
Se você notar sinais de alerta, o primeiro passo é procurar um profissional de saúde na Atenção Primária (como unidades básicas de saúde do SUS). Pediatras, neuropediatras, psicólogos infantis ou psiquiatras podem realizar avaliações clínicas, baseadas em observações comportamentais, entrevistas com os pais e ferramentas como o Autism Diagnostic Observation Schedule-Second Edition (ADOS-2) ou a Childhood Autism Rating Scale (CARS2).
“Confie na sua intuição. O relato dos pais sobre comportamentos atípicos tem alta correlação com o diagnóstico”, destaca Dra. Carla Gikovate, especialista em TEA. O diagnóstico precoce permite intervenções que aproveitam a plasticidade cerebral, promovendo maior autonomia.
Tratamentos disponíveis e em desenvolvimento
Embora não haja cura para o TEA, intervenções precoces e personalizadas podem melhorar significativamente a qualidade de vida. Os tratamentos atuais incluem:
Análise do Comportamento Aplicada (ABA): Considerada o “padrão ouro”, a ABA promove habilidades sociais e comunicativas por meio de reforços positivos. É amplamente usada e coberta por alguns planos de saúde ou oferecida em escolas via Planos Educacionais Individualizados (IEP).
Terapia Fonoaudiológica: Foca na comunicação verbal e não verbal, essencial para crianças com atraso na fala.
Terapia Ocupacional: Ajuda na integração sensorial e habilidades motoras, como lidar com hipersensibilidades a estímulos.
Terapia Psicológica: Inclui abordagens como o modelo Floortime, que estimula interação por meio de brincadeiras.
Intervenções Farmacológicas: Medicamentos como risperidona ou aripiprazol são usados para tratar sintomas associados, como irritabilidade ou agressividade, mas não o TEA em si.
Terapias Complementares: Equoterapia (terapia com cavalos) e ludoterapia têm mostrado resultados positivos em alguns casos.
Tratamentos em desenvolvimento: Pesquisas recentes exploram terapias baseadas em neurociência, como estimulação magnética transcraniana (EMT) para melhorar a conectividade neural, e estudos genéticos para identificar alvos terapêuticos mais precisos. Além disso, abordagens baseadas em inteligência artificial estão sendo testadas para personalizar intervenções comportamentais. No Brasil, instituições como o Instituto de Psiquiatria da USP e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) lideram pesquisas nessa área.
Onde buscar ajuda no Brasil
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece suporte por meio de:
Centros Especializados em Reabilitação (CER): 263 unidades no Brasil realizam diagnóstico, tratamento e fornecem tecnologias assistivas.
Centros de Atenção Psicossocial Infantil (CAPS iJ): 282 centros oferecem atendimento multidisciplinar, com 10,8 mil atendimentos a pessoas com TEA em 2021.
Atenção Primária: Unidades básicas de saúde realizam triagem inicial e encaminhamentos.
Além do SUS, organizações não governamentais, como a Associação de Amigos do Autista (AMA), oferecem suporte, grupos de apoio e informações. Clínicas privadas, como a Neurológica em Joinville (SC) e o Instituto NeuroSaber, também fornecem serviços especializados.
Para famílias, o Ministério da Saúde lançou em 2021 a Linha de Cuidado para Crianças com TEA, orientando fluxos de atendimento e promovendo inclusão.
Impacto familiar e social
O diagnóstico de TEA pode ser desafiador para as famílias, trazendo sentimentos de tristeza ou sobrecarga, especialmente para mães, que muitas vezes assumem o papel principal no cuidado. “A superproteção pode surgir como resposta ao preconceito social, mas é fundamental equilibrar cuidado e autonomia”, observa a psicóloga Dra. Claudia Miliauskas. Programas de treinamento para pais e cuidadores, disponíveis em CAPS e ONGs, ajudam a lidar com os desafios e promovem inclusão social.
Avanços e esperança
Com o aumento da conscientização e do acesso a serviços, o Brasil tem avançado na inclusão de pessoas com TEA. A educação inclusiva, incentivada por leis como a Política Nacional de Educação Especial, permite que crianças com TEA sejam integradas em escolas regulares com apoio especializado. “Com o suporte certo, muitas crianças com TEA podem alcançar independência e desenvolver habilidades notáveis, como memória excepcional ou foco em áreas específicas”, destaca Dra. Clarice Coimbra.
Palavras-chave: Autismo Infantil, Transtorno do Espectro Autista, TEA, diagnóstico precoce, sinais de autismo, tratamentos para autismo, SUS, ajuda no Brasil, fatores genéticos, gravidez e autismo.
Hashtags: #AutismoInfantil #TEA #DiagnósticoPrecoce #AutismoNoBrasil #SaúdeMental #Inclusão #TerapiasParaAutismo #Neurodesenvolvimento
Essa reportagem foi elaborada com base em informações de especialistas e fontes confiáveis, como o Ministério da Saúde, Manuais MSD e estudos científicos, para oferecer um panorama claro e acessível sobre o TEA no Brasil.