Daniel Vorcaro, solto após prisão em escândalo bilionário, teve mandado de prisão expedido pela justiça federal em Rondônia
Após quase duas semanas detido por suspeitas de fraudes em títulos, controlador do Banco Master ganha liminar, mas enfrenta recursos do MPF e rastro de investigações que expõem vulnerabilidade no SFN
Em um desfecho que reacende debates sobre a efetividade das medidas judiciais em casos de crimes financeiros, o empresário Daniel Vorcaro, de 42 anos e controlador do Banco Master, deixou a prisão no sábado, 29 de novembro de 2025, beneficiado por uma liminar concedida pela desembargadora federal Solange Salgado da Silva, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). A decisão substituiu a prisão preventiva por medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica e proibição de realizar operações financeiras, após Vorcaro e outros quatro executivos do banco passarem quase duas semanas detidos. A soltura ocorreu no Centro de Detenção Provisória II de Guarulhos (SP), para onde o banqueiro havia sido transferido dias antes.
No entanto, o Ministério Público Federal (MPF) já recorreu da decisão ao TRF-1, pedindo o restabelecimento imediato das prisões, argumentando que os investigados representam risco à ordem pública e econômica devido à gravidade dos fatos apurados.
Vorcaro foi preso na noite de 17 de novembro de 2025, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, momentos antes de embarcar em um jatinho particular rumo a Dubai, nos Emirados Árabes Unidos – uma viagem que sua defesa alega ser para formalizar a venda do Banco Master a um consórcio liderado pela Fictor Holding Financeira, com investidores árabes.
A detenção, antecipada pela Polícia Federal (PF) para evitar possível fuga, integrou a deflagração da Operação Compliance Zero, autorizada pelo juiz federal Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília, e que cumpriu sete mandados de prisão (cinco preventivos e dois temporários), 25 de busca e apreensão, além de outras medidas cautelares em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Distrito Federal. Entre os detidos, além de Vorcaro, está Angelo Antônio Ribeiro da Silva, sócio do banco, que se apresentou voluntariamente à PF em São Paulo.
A operação investiga suspeitas de gestão fraudulenta, gestão temerária, organização criminosa e outros crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (SFN), centrados na emissão e negociação de títulos de crédito falsos pelo Banco Master. Segundo a PF, o esquema envolveu a criação de carteiras de crédito sem lastro ou com informações fraudulentas, totalizando R$ 12,2 bilhões em operações entre janeiro e maio de 2025, incluindo aquisições via uma empresa de fachada.
Esses papéis eram apresentados como ativos legítimos para inflar o balanço patrimonial do banco, facilitando a captação de recursos via Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com taxas acima da média de mercado – uma prática que atraiu investidores como a Cedae (RJ), que aportou cerca de R$ 200 milhões, e o Banco de Brasília (BRB), que comprou títulos investigados. O rombo estimado ultrapassa R$ 41 bilhões, afetando diretamente o SFN e expondo falhas na supervisão do Banco Central (BC). Em resposta, o BC decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master no dia seguinte à operação, em 18 de novembro, e determinou a indisponibilidade de bens dos controladores e ex-administradores.
O BRB, por sua vez, contratou o escritório Machado Meyer Advogados, com assistência da Kroll, para uma investigação independente sobre os fatos, formando um Comitê Independente de Investigação que prestará contas ao mercado.
A defesa de Vorcaro, liderada pelo advogado Sérgio Leonardo, de Belo Horizonte, nega qualquer irregularidade, afirmando que “as carteiras de crédito foram previamente adquiridas pelo Banco Master junto a terceiros que atuavam na originação de créditos, prática comum de mercado” e que a hipótese acusatória ainda depende de contraditório processual. Os advogados também recorreram ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) por liberdade, destacando que o banco já foi liquidado e que Vorcaro está proibido de gerir instituições financeiras.
Mas o caso de Vorcaro não começou em novembro de 2025. O empresário mineiro, que assumiu o controle do então Banco Máxima em 2016 (rebatizado Master em 2021), já figurava no radar da PF e do MPF há pelo menos seis anos, com investigações que revelam um padrão de supostas irregularidades em aplicações financeiras de fundos públicos.
Em outubro de 2019, apenas cinco dias após o BC autorizar a transferência do controle acionário do Máxima para Vorcaro e um grupo de empresários, o juiz federal Marcelo Elias Vieira, da Subseção Judiciária de Ji-Paraná (RO), decretou prisão preventiva de cinco dias contra ele e outros investigados no processo nº 0001530-26.2019.4.01.4101, tramitando em sigilo no TRF-1. A ação apura o papel de uma consultoria de investimentos em supostas irregularidades nas aplicações do Instituto de Previdência Social dos Servidores Públicos de Rolim de Moura (RO), o Rolim Previ – um Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) municipal.
Na decisão parcial acessada pelo Valor Econômico, o juiz destacou: “Vale repetir que o prejuízo do Rolim Previ ultrapassa os R$ 17 milhões”, citando ainda que um servidor estaria “cooptado por interesses contrários da Rolim Previ”.
A ordem nunca foi cumprida, e em março de 2020, o juiz federal Nelson Liu Pitanga revogou a medida, considerando-a desnecessária após meses sem execução – justificada pela PF pela dificuldade em localizar os alvos espalhados por vários estados. As investigações prosseguiram, culminando na Operação Fundo Fake, deflagrada pela PF em 15 de julho de 2020, com mandados de busca e bloqueio judicial de cerca de R$ 500 milhões em ativos.
A Fundo Fake mirava uma suposta organização criminosa que lesava RPPS municipais via rebates (comissões) excessivos – superiores a 20% em alguns casos – e aplicações em fundos de alto risco sem lastro, administrados por instituições ligadas ao grupo de Vorcaro, como a Foco DTVM.
A perícia da PF apontou prejuízo de R$ 17,4 milhões apenas ao Rolim Previ, com indícios de que 65 institutos de previdência de todo o Brasil aportaram em fundos “fake”, totalizando os R$ 500 milhões desviados. Investimentos de fundos como o Igeprevto (TO), com R$ 62 milhões, e o Impremu (Uberlândia/MG), com R$ 47 milhões, registraram prejuízos iniciais, segundo análises policiais.
A defesa de Vorcaro rebateu na época: “Não houve cumprimento de mandado de prisão. A prisão era ilegal e desnecessária e foi revogada. Daniel Vorcaro sempre esteve à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos. Sempre atendeu todas as intimações e não tem nenhuma relação com os fatos investigados”, conforme declaração de Sérgio Leonardo ao Valor Econômico.
O processo da Fundo Fake, que envolveu o afastamento de um gestor do Rolim Previ, segue em andamento na Justiça Federal, com tentativas da defesa de Vorcaro para impor segredo de justiça – negado em fevereiro de 2025 pela desembargadora federal Maria do Carmo Cardoso, do TRF-1. Ela argumentou: “A sociedade tem interesse legítimo na fiscalização da atividade jurisdicional, sobretudo em processos penais, cuja natureza envolve relevante interesse público”.
Paralelamente, a Compliance Zero ganhou contornos de sigilo máximo no Supremo Tribunal Federal (STF), onde o ministro Dias Toffoli determinou restrição total aos autos após reclamação da defesa de Vorcaro, alegando incompetência da Justiça Federal de Brasília para conduzir as investigações.
Toffoli, que participou de evento jurídico em Londres patrocinado pelo Banco Master em 2024 sem esclarecer o custeio de suas despesas, foi criticado em postagens nas redes sociais por suposta leniência, embora sem provas de irregularidades.
O caso também se entrelaça com esferas políticas. Durante buscas na Compliance Zero, a PF encontrou um envelope endereçado ao deputado federal João Carlos Bacelar (PL-BA), bolsonarista, o que levou a defesa de Vorcaro a tentar atrair o processo ao STF.
Além disso, Fabiano Zettel, cunhado de Vorcaro, foi o maior doador individual à campanha de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) em 2022, com R$ 2 milhões, em meio a tentativas frustradas de venda do Master ao BRB – barrada pelo BC em agosto de 2025.
Vorcaro, acionista de 20,2% da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Atlético-MG via fundo de investimento, ostentava um estilo de vida luxuoso – com jatinho Falcon 7X, Rolex e Land Rover blindada apreendidos pela PF –, financiado por expansão agressiva do banco via CDBs e patrocínios a eventos como o Carnaval do Rio.
Especialistas consultados, como o ex-presidente do BC Arminio Fraga, elogiaram a operação como essencial para a credibilidade do SFN, mas alertam para a necessidade de reformas regulatórias.
Nas redes sociais, o tema gerou repercussão, com usuários questionando o sigilo judicial e ligações políticas, como em postagens que destacam o “escândalo” e pedem transparência.
Enquanto o TRF-1 julga o recurso do MPF, o caso Vorcaro ilustra as fragilidades do sistema financeiro e o desafio de equilibrar sigilo processual com responsabilidade pública.
Palavras-chave: Daniel Vorcaro, Banco Master, Operação Compliance Zero, Operação Fundo Fake, fraudes financeiras, títulos de crédito falsos, Polícia Federal, Ministério Público Federal, STF, Dias Toffoli, BRB, RPPS, Rolim Previ, sigilo judicial.
O que você acha dessa rede de investigações que envolve bilhões e figuras políticas? Compartilhe sua opinião nos comentários abaixo e ajude a espalhar esta reportagem para que mais vozes cobrem transparência na Justiça. Sua participação fortalece o debate público!
Hashtags: #PainelPolitico #DanielVorcaro #BancoMaster #OperacaoComplianceZero #FraudesFinanceiras #STF #JusticaFederal #InvestigacaoPF
Siga Painel Político nas redes sociais:
Twitter: @painelpolitico
Instagram: @painelpolitico
LinkedIn: Painel Político
Junte-se a nós: Receba atualizações exclusivas no nosso canal do WhatsApp: https://whatsapp.com/channel/0029Va4SW5a9sBI8pNwfpk2Q
E no Telegram: https://t.me/PainelP



